segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um jardim de escolhas


Ontem, domingo de páscoa, ouvi, numa pregação, repetida uma imagem que me chamou muito a atenção: “um jardim”.

O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. (Gênesis 2,15)

No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. (São João 19,41)

Jardim, pra mim, lembra sempre possibilidades... não existe jardim de uma flor só!!! Ou até existe, posto que tratamos aqui de liberdade, de possibilidades... Mas o que mais me encanta mesmo num jardim é a diversidade para escolhas entre as mais diversas flores, árvores, arbustos, frutos...

E não com menos propriedade os escritores sagrados apossaram-se dessa imagem simbólica tão linda e tão rica de significado:

Ainda no livro das origens, lemos que Deus colocou o homem (homem e mulher) num jardim onde havia frutos de Bem e Mal e exortou-os a não buscar frutos maus porque isso os podia afastar da sua presença amorosa e paterna que os visitava ao entardecer... Que, pelo contrário, buscassem frutos que pudessem promover esse encontro e fazê-lo. Diz-se desse jardim ser o paraíso porque a presença de Deus é o paraíso.

Mas por que Deus, ao criar-nos, deixou nesse jardim o mal? Por que nos expôs ao perigo?

A resposta é simples: Deus, ao fazer-nos homens, não nos fez para sermos escravos de sua vontade. Não! Sendo a Trindade anterior a tudo o que entendemos de existência, sendo Deus amor, desejou existirem seres com igual capacidade de amar, criados à sua semelhança, com a mesma capacidade de abstrair e amar. Mas não se ama na imposição, na obrigatoriedade; condição para o amor é liberdade.

Nessa perspectiva, Deus dotou-nos do incrível dom do arbítrio, condição indelével para que haja amor, e colocou-nos num “jardim”, entendido aqui como diversidade de possibilidades, para que pudéssemos, deliberadamente, conscientemente e livremente, escolher os frutos que nos levassem a amá-lo (ou o contrário).

Mas escolhemos o contrário!!! Vivemos escolhendo o contrário... E essa opção livre pelos frutos maus nos afastou de Deus, fez-nos esconder-nos da sua face e viver sob julgo e força do nosso próprio esforço e consciência tão limitados. E perdemos assim o paraíso, entendido como gozo da presença de Deus. E para sublimar nossa falta, nossa saudade de Deus, arrogantes e auto-suficientes, buscamos e criamos outros deuses entre as coisas criadas – esquecemos a origem de todo amor e todo bem...

Tudo acabado então?
Nunca!!! Nunca em se tratando de Deus!!! Ele não desiste dos seus!!! E se tem uma expressão que bem o designa nesse momento seria: “Amor que não se cansa de amar”.

Se nos perdemos nas nossas escolhas, se demos as costas, se escondemos nossa face e partimos a deriva, precisávamos aprender novamente a escolher, a optar pelo amor perene de Deus, precisávamos de um caminho e a Misericórdia Suprema nos deu caminho, verdade e vida em seu filho Jesus. Deu-nos de si, deu-nos o melhor de si, parte de si, amor do seu amor, para resgatar-nos e reconciliar-nos... e mais uma vez escolhemos os contrários...

Jesus veio ensinar-nos dos frutos da justiça, da paz, do amor, veio ensinar-nos dos frutos que levam a Deus e a felicidade eterna, mas todo aquele bem parecia tão nocivo ao mal a que já estávamos acostumados que precisava ser calado a todo custo.

E mais uma vez o amor mostrou do que é capaz... e para não ser incoerente consigo mesmo, e nunca o seria; para mais uma vez nos ensinar a escolher, mostrou ao seu filho o que estava no coração dos homens e o pediu escolher... O amor exige fazer escolhas!!! Mostrou a Jesus sua vontade, que passava pela cruz, e pediu-lhe escolher... Amor, pra ser amor, tem que passar por uma união de vontades; e assim não se perde nunca de sua integridade porque sempre se justifica, posto que, ao escolher livremente a vontade do ser amado, essa passa a ser também minha vontade, e nela sou todo novamente, inteiro...

E assim, de posso de sua total liberdade e escolha entendida e deliberada, “Jesus, sabendo que o pai tinha colocado tudo em suas mãos, e que de Deus tinha saído e para Deus voltava...” (São João 13,3), derramou seu sangue pela nossa redenção.

E, “No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado.” (São João 19,41)

Voltamos aqui ao jardim...
Deus trouxe-nos novamente o Éden e plantou, no meio desse jardim de escolhas, não mais a árvore da vida, mas a própria vida, sua vida.

Ao ressuscitar seu filho, estabeleceu para sempre conosco uma aliança de presença perene e eterna devolvendo-nos o “paraíso”...

O sangue redentor de Cristo, uma vez derramado, foi derramado por todos, em todos os tempos: anteriores, contemporâneos e vindouros; a todas as gerações humanas. Sua ressurreição é certeza de salvação para todos: “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim.” (São João 12,32)
Assim voltamos ao começo... Jesus restaurou a criação, devolveu-nos o penhor eterno, ensinou-nos do coração misericordioso e amoroso do Pai, ensinou-nos a chamar Deus de Pai... Devolveu-nos o paraíso sendo presença constante em nosso meio através do seu Santo Espírito...

E se voltamos a nossa amorosa origem, nos encontramos novamente com a liberdade que é condição indelével para o amor e, nesse jardim de possibilidades, sendo a nós já garantida a vida, podemos escolhê-la ou não!!!

A decisão é minha!!! A decisão é sua!!!

Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia. (São João 6,44)

Assim como as abelhas são atraídas pelo odor das flores que suprem suas existências com o néctar, semelhantemente, sendo o Pai quem nos atrai ao Filho, à Vida, que o Espírito Santo não cesse de atrair-nos, a nós e a todos os povos, hoje e sempre, para usufruirmos da vida abundante e a escolhermos em Jesus Cristo, vivo em nosso meio.

Amém

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