terça-feira, 3 de dezembro de 2013

COMO RECRIAR O AMOR?

No auge dos meus 32 anos, me sinto seguro o suficiente para afirmar ter aprendido que o amor não é uma forma continua e uniforme. Ele cresce, decresce, se alegra e entristece, é criança e amadurece, envelhece em dias e até morre se não lhe damos motivos para permanecer jovem e viçoso.
Mas o amor não é um produto numa prateleira com prazo de validade que, ao ser atingido, deixa-o inapropriado para o consumo, não! Ele tem prazos de validade sim, é fato, mas, por outro lado, tem um poder incrível de regeneração capaz de ampliar o prazo de validade para uma outra data mais adiante. Há pessoas que são tão habilidosas nisso de regenerar o amor, que são capazes de ir ampliando seu prazo de validade para uma vida toda, de etapa em etapa.
E como saber que esse prazo de validade está prestes a se vencer? Os sinais são bem comuns e simples: o brilho no olhar se perde e dá lugar às conveniências, sejam elas da segurança, da valorização da história, da gratidão, do costume, da acomodação... O olhar muda! Próximo da “data de fabricação” esse olhar é para o todo, dá significação ao conjunto, vale de si, para si e por si mesmo. Quando se aproxima do prazo de validade, esse olhar é comparativo, foca uma barriga que cresceu ou um peito que cedeu à inevitável ação da gravidade; os outros vão sempre estar melhores, mais em forma, com os melhores padrões de diversão, com as casas mais harmoniosas e badaladas, e assim, aos poucos, aquele olhar que antes olhava para dentro passa a só encontrar significação, prazer e beleza, da janela pra fora.
Parte essencialmente gozada disso tudo é que esse olhar que mudamos sai de dentro e vai para fora sem nunca vislumbrar espelhos. Mudamos do olhar contemplativo para o comparativo sem fazer de nós exata apreciação de que, também nós, deixamos crescer a barriga, também sofremos a ação da gravidade, também vemos ampliar o número de cabelos brancos, mas o outro, apenas o outro, é quem decaiu.
Na verdade, ao falarmos de validades, inevitavelmente falamos de tempo e, como já dizia o Pe. Antônio Vieira no Brasil colonial, o tempo tira a novidade das coisas, as gasta, e talvez por isso o amor, habilidoso como ele só na arte de se manter, estabelece para si mesmo prazos de validade, momentos de reflexão que nos colocam diante desse embotamento das cores para decidir recriá-lo e estabelecer para mais adiante o prazo de validade garantindo assim mais noites de amor, mais risos, mais suspiros... , ou não.
Mas como recriar o amor?
Olhar para trás não é o melhor caminho porque, ao vermos o que foi bom, enxergamos também os pesos, dores e cansaços que estabeleceram a validade do processo. Talvez o que faça ampliar a validade do amor valer a pena seja justamente o risco, a dúvida, a novidade, o inesperado de possibilidades que essa ampliação abre. Igual não vai ser mais porque as fases se sucedem e se excluem. Igual não dá mais para ser, porque, o sendo, não garantiu a durabilidade do processo. A abertura à novidade que a ampliação do prazo de validade do amor causa talvez seja a condição, em si mesma, para essa ação recriadora.
Outro dia cantei para um amigo: “que venha o novo: novo sorriso, nova dor. Eu quero mais é viver um novo amor”. Mas hoje acho poder parafrasear a mim mesmo cantando: “que venha o novo: novo sorriso, nova dor. Talvez eu possa viver tudo NO MESMO AMOR”.
Um ósculo festivo nos que sabem recriar o amor com criatividade no desejo de que essa força que de vós emana me ensine a aprender a recriar os meus também.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

teraPIA


Aqui em casa, de galhofas, costumo dizer que a PIA cheinha de pratos é sempre a melhor teraPIA... kkkkkkkkkkkk... Ô diabos que não fica limpa quase nunca é pia!!! Por isso, a teraPIA é incessante...
De fato, para mim não há melhor terapia que conversar. Quem me conhece sabe que falo pelos cotovelos (como diz o amigo Fábio Lima/Cobra: “sabemos falar de nós”). Mas, da mesma forma que sei e adoro falar, também sei e adoro calar, em igual medida. Confesso mesmo que às vezes falo mais quando calo e quando falo as pessoas parecem surdas. Mas enfim: hoje é dia de falar...
Odiei crescer!
Detestei ter de ir esvaziando meus bolsos dos sonhos para dar espaço à contas e grana pra pagar contas. Esse é o resumo da vida adulta: fazer contas x trabalhar x pagar contas; num ciclo ininterrupto.
Senti muitas saudades de mim mesmo, do cara bacana que um dia achei que fui, com os bolsos cheios de ideias e arte, e o coração cheio de fé e amigos... Senti muitas saudades de mim mesmo, acredite... Aquelas saudades doloridas de ter que deixar partir o que já não podia permanecer...
E não é que ser adulto seja difícil, não! Pra ser sincero, já conhecia essa experiência desde muito antes. O complicado de ser adulto de fato é que consome muito tempo. Gasta um tempo, para mim sempre sagrado, de sonhar, de ser feliz, mas com tempo de saber-se feliz, o que triplica a sensação de felicidade.
Foram dois anos e meio de transição: casa por montar; perfil profissional a definir; contas a fazer; outras a pagar; correria; ponte rodoviária; duas casas para amar – uma aqui sozinho habito e outra a que minha alma habita junto à minha família; poucos amigos; muitos pratos pra lavar... kkkkkkkkkkkkkk... E uma angústia enorme por não sobrar tempo para ler um livro, ver um filme, dormir dignamente de cabeça tranquila, jogar conversa fora com os amigos, viajar, fazer planos – POR POUCO NÃO PEÇO PINICO!!! KKKKKKKKKKK...
Mas passou, como tudo que passa...
A casa tá montada, no mais amplo sentido da palavra: a casa de fora e a casa de dentro. Se bem que sempre falta alguma coisa; coisas antigas se estragam e precisam ser renovadas (tanto na de dentro como na de fora). Aceitar esse (in)fluxo me colocou de volta na rota.
Comecei por deixar a casa de fora 3 dias sem arrumar e me permiti ver um filme, dormir a tarde, deixar pratos de um dia para outro na famosa PIA, e sonhar... tinha deixado outra casa, mais importante, a de dentro, bagunçada por dois anos, que mal faria deixar essa de fora por 3 dias e sonhar? Vi filmes, escutei música, toquei violão, falei ao telefone, e percebi que estou no comando e não sou esse avatar macabro preso no sistema capitalista repetindo padrões estereotipados.  
Se consegui reaver o menino mim mesmo de quem sentia saudades? Não! Ele cresceu! Experimentou como menino o que se lhe oferecia ao menino, e me ensinou muito com isso. Hoje sou um homem, pronto para experimentar o que se me oferta ao homem que sou.
Kkkkkkkkk... Coisa simples, mas fato de ser adulto numa gaiola de 4º andar que me permite ver o melhor da cidade é andar nu pela casa: fiz como criança, sendo criança, e com a dinâmica de simplicidade própria da criança, e agora volto a fazer longe dos olhos de todos, mas numa dinâmica própria dos dias que tenho e da vida que levo...
E esse nu é muito simbólico... Próprio de uma alma avessa a fama e publicidades fingidas e adepta do revelar-se... o que faço aqui hoje, depois de tantos dias de silêncio...
Espero não ser ao menos um momento de sanidade em meio a loucura dos dias, espero perpetuar esse estado de clareza e manter esse canal de comunicação aberto mãos uma vez; mas se não conseguir, se, ao amanhecer, voltar a olhar com olhos míopes, terei aproveitado ao máximo esse insight de autoafirmação...
Beijo a quem interessar ser beijado...

OLHARES XXI - Quando a felicidade se faz parâmetro para a infelicidade


Costumava dizer que duas coisas nos estragam: tristeza demais e felicidade demais.
Como assim? Deixa eu tentar explicar: o excesso de tristeza produz em nós uma espécie de barreira de defesa; quando conhecemos tristeza em demasia, tudo em nós se move, ao invés de para a produção da felicidade, no intuito de evitar a dor e a tristeza. Pessoas muito sofridas costumam desconhecer o caminho da felicidade, porque ela deixa de ser a meta; a meta passa a ser o “não sofrimento”, e talvez nisso a nova forma de felicidade conhecida e desejada.
Acho que, até aqui, é fácil entender, né? Mas tem o inverso, extremado como esse: ser feliz demais é tão complicado quanto ser triste demais. Por quê? Imagine você que só conhece de doce rapadura, certo? Sempre que ela pensa em doce, o que lhe vem à mente? RAPADURA! KKKKKKKK... Se vier algo melhor que isso, é puro lucro, porque seu paladar queria apenas o doce bruto da rapadura e com ele já estaria satisfeito. Mas, de repente, numa dessas idas e vindas da vida, a essa pessoa é oferecido o mais saboroso manjar... Imaginou a danação? Sempre que pensar em doce, sua mente o remeterá ao doce mais saboroso que já provou - o manjar. Mas manjar não é um doce assim tão comum, daí, tudo que lhe for oferecido vai parecer insuficiente, apenas um “pelo menos”. Pode até satisfazer, mas uma brecha, uma falta vai haver.
Acho que assim ficou melhor explicado e feita a base para nosso olhar XXI: Quando a felicidade se faz parâmetro para a infelicidade.
Minimamente, apenas pela explanação anterior, podemos deduzir que ser felizes demais nalgum momento da vida pode nos trazer infelicidade se aquele padrão não é atingido noutro, mas o olhar que aqui proponho nos remete para uma dimensão ainda mais singular.
Por exemplo: Você vive uma relação afetiva incrível; ela acaba; mas torna-se referência de felicidade, e você passa a tentar repetir ou até superar aquele padrão de felicidade nas relações posteriores, e segue tentando... Se não consegue, a razão age generosa lhe mostrando o quanto as pessoas são diferentes, o quanto os tempos são outros, o quanto você pode inovar por ser uma nova relação... e assim por diante...
Mas quando o parâmetro para comparação, de um esplendor de felicidade, está na própria relação que você está vivendo?
As pessoas são as mesmas; os sentimentos “os mesmos”; a rotina a mesma... Nisso um nó para a razão! O parâmetro para comparação dessa relação não é outra relação, é a própria relação. Você conhece os mecanismos de acesso á felicidade nessa relação, porque já o experimentou, mas, de repente, parece não saber acessá-lo mais. Você tenta, a todo custo, retomar aquele padrão de felicidade, sem, no entanto, conseguir, e a alma se constrange. A felicidade aqui torna-se condição para a infelicidade.É como desejar comer o manjar, ter o manjar na geladeira, e ele não ter o mesmo gosto. Mas como se é o mesmo?
Será que é o mesmo??????
Com certeza não! Talvez nessa certeza confusa, de que sendo o mesmo não é o mesmo, esteja a chave que abre essa porta. Mesmo sendo as mesmas pessoas envolvidas na relação, essa relação, na verdade, são relações, são novas formas de se experimentar que vão assinalando os novos tempos que se vai vivendo. Quanto mais tempo se vai vivendo junto, mas relações se vai vivendo, mas dinâmicas numa mesma relação se vai experimentando, mesmo sem perceber, mesmo achando estar se vivendo a mesma relação e, para cada nova dinâmica, uma ideia sensível de felicidade diferente.
Palavras aparentemente fáceis, mas na prática não é tão simples assim, eu sei!
Mas talvez lançar olhar sobre essa complexa dinâmica nos possibilite desejar, nas nossas relações, não a manutenção de um parâmetro fixo de felicidade, mas o exercício das inúmeras felicidades, diferentes, algumas novas, outras já conhecidas, outras mais intensas, outras suaves, mas diferentes, de forma que a felicidade deixe de ser parâmetro para a infelicidade, mas para o desejo de ser feliz ainda mais.
Que ser felizes seja a meta, o projeto, a empresa, e a rotina mais rotineira e repetitiva que possamos experimentar: todos os dias, dias de ser felizes.

Mais um, entre tantos já feitos nessa página, brinde à felicidade!!!!!!

terça-feira, 26 de março de 2013

OLHARES XX – "Páscoa???"



            Puxa vida!!! Essa Páscoa (2013) nos veio bem intensa: um novo Papa, que coexiste junto a um outro emérito; problemas econômicos na antes inoxidável Europa; um assessor de direitos humanos no Brasil mulato e de alisamento e chapinha no cabelo, mas declaradamente preconceituoso com raça e homofóbico; a França, berço da cultura humanista e dos direitos humanos marchando contra esses mesmos direitos.
Sejamos todos muito bem vindos a pós-modernidade!!!
Acho muito cabido essa prévia reflexão, vivemos uma troca constante entre fazer a cultura e “ser feitos” por ela, e isso não se dá ao acaso, está intrinsecamente ligado ao momento histórico, às respostas que precisamos dar imediatas aos ares do tempo que nos toca – Não existe cultura desvinculada do seu momento histórico nem tão pouco pessoas desvinculadas da cultura, muito menos culturas iguais.
Desejei um “boas vindas à pós-modernidade” e o fiz porque, em tudo que tenho refletido, estudado, tentado sentir sobre esse tempo, tento situar nesse contexto – não podemos pensar o atual com o olhar do antigo (embora o antigo olhar ainda tenha muito peso em nós). Mas afinal, o que tem esse tal tempo pós-moderno? Para responder, não vou entrar em elucubrações científicas, apenas apelar pra sua sensibilidade: há 30 anos atrás, telefonia móvel eram propostas de filme de ficção científica – na atualidade não nos vemos sem os celulares; nos comunicamos incessantemente sobre tudo e para tudo e, sem menos confusão mental, nos pegamos imaginando como era quando não os tínhamos (já pensou nisso? Já fez o exercício de, num momento onde o celular foi bem útil na resolução de um problema, imaginar o tempo, não distante, onde não os tínhamos????); E a internet??? Gente, me pego pensando quando, há bem pouco tempo, enciclopédias caríssimas enfeitavam as salas ostentando um “Q” de “aqui tem uma família culta” e, pobres de nós, passávamos um tempão procurando algum assunto específico e fazendo manuscritos para entregar na escola, fechados e condicionados a uma realidade extremamente imediata a nós, alheios a um mundo que parecia enorme e distante de nós e para o qual parecíamos indiferentes – um mundo de figurinhas na enciclopédia). Não só! Pela internet nos comunicamos, fazemos compras, pagamos contas, acessamos informações por todo o mundo e nos conectamos a esse mundo quando decidimos emitir nossa opinião (como aqui fazemos). Em resumo, tivemos mais desenvolvimento tecnológico nas últimas quatro décadas que em todos os séculos de cultura humana anteriores. Produzimos essa cultura de informações express e somos produzidos por ela, mas não com poucos danos e poucas tensões. Somos muito resistentes a mudanças!!! Produzimos mudanças constantes que nos obrigam a mudar junto, mas somos temerosos em mudar. A queda de barreiras territoriais promovida pela internet abriu nossas culturas para uma apreciação coletiva e algumas questões, latentes em todas elas, passaram a circular e exigir reflexão sendo, algumas das mais imediatas, os direitos humanos e as novas configurações de gênero e as respectivas famílias produzidas por elas.
Esse meio cultural aparentemente hostil, pela sua flexibilidade, empurrou, ao mesmo tempo que para o mundo como um todo, cada um de nós para dentro de nós mesmos numa atitude inconsciente de autopreservação. A antiga cultura, com papeis bem estabelecidos, com o aparente conforto dessa linha quase reta a ser galgada, sede lugar a uma nova onde não há certeza alguma a não ser a de que as coisas continuaram mudando e, com as mudanças, precisamos dar respostas; e essas respostas são extremamente pessoais. Nesse ponto, no ponto da extrema pessoalidade em que vivemos, experimentamos um mundo de coisas não mais sujeitas a uma apreciação por olhos moldados e adestrados para um jeito específico de olhar, mas de olhar curioso, criativo e, esse olhar egoísta, produz uma humanidade nova, que exige ser vista e reconhecida nas suas variadas formas de construir sua felicidade. Nessa perspectiva, o antigo ditame resumido em: “homem de bem, mulher de bem, cafajeste, puta, veado e sapatão”, sede lugar a uma gama imensa, e não passível de catalogação, de possibilidades de ser no mundo. Mas esse ser complexo, pós-moderno, sem catalogação, não nasceu de chocadeira, veio ao mundo inserido numa família e também vai constituir família. Nesse ponto mexe-se no eixo sustentador de uma cultura milenar e de todas as instituições normatizadoras que balizaram nosso pensamento até aqui.
Esse é, em linhas gerais, o contexto. Vamos agora aos nossos pontos de reflexão de páscoa:
Um papa renunciou!!! Que maravilha!!! É ou não é esse papa um homem pós-moderno??? Claro que sim! Ao ver deixar-lhe a força física necessária para o cumprimento necessário do seu ministério, quebrando um protocolo medieval, deixa o “trono” pedindo que ele seja ocupado por alguém que possa dar respostas mais apropriadas as necessidades e ao tempo. Um lindo exercício de humanidade, não foi? Os mais céticos podem dizer – “foi necessidade!” – mas onde mais se revela nossa humanidade que não nas necessidades e exigências do tempo? Enfim! Depois de breve burburinho: “habamos papam”. Quem é? FRANCISCO, um latino americano com nome escolhido em alusão a Francisco de Assis, um grande reformador do pensamento medieval que propôs um olhar de igreja e do mundo para os pobres, um burguês que exercitou sua fé no abraço ao objeto de maior preconceito da época “a lepra”. Devemos esperar que o Francisco, contemporâneo nosso, também quebre preconceitos e se aproxime de quem os sofre??? Sim! E não!
Não sei se vocês perceberam, mas nunca tivemos tanta expectativa no que diz respeito a escolha de um papa, especialmente num período de suposta perda de influência da Igreja católica. Mas porque o esperamos tanto??? Porque esperamos ver suas posturas para nela nos espelharmos. Perdidos, entre tantas realidades nos tocando todo o tempo, somos saudosos da velha  “viseira de burro” que nos conduzia sempre e apenas para frente e para um lugar específico.
Mas devemos esperar que o papa toque, acolha, esse novo jeito de ser humanidade na pós-modernidade. Não! Não devemos criar expectativas! Estamos no meio de uma revolução e nenhum de nós está ainda assim tão apropriado do contexto para desejar posturas definitivas. Estamos em processo; estamos no olho do furacão; embora a complexidade da condição humana seja antiga e estivesse apenas esperando aprender a falar de si, o dito até agora ainda não é inteligível o suficiente para romper os preconceitos. Devemos esperar do papa, assim como em toda a sociedade, um saudosismo da família tradicional, aquela com papeis bem definidos e que deu as respostas necessárias no seu tempo específico. Ela não vai deixar de existir! E que bom que não vai! Não queremos abrir mão dela também! Devemos desejar que ela coexista, ensinando as famílias novas de sua sabedoria. O tempo não propõe trocas, propõe anexos. Vamos assistir e, se sábios, sem tensões, a retomada da identidade da família tradicional, que precisa se reencontrar entre o antigo e o novo; esse retomar identitário da família tradicional é quem vai abrir portas para o novo porque é no seio dessa família tradicional que é gerada a nova humanidade com toda a sua complexidade. Quando a “NOVA FAMILIA TRADICIONAL” acolher seus filhos em sua complexidade, teremos campo fecundo para discutir as novas famílias.
Mas o que devemos esperar do papa Francisco então? No mínimo, que ele olhe para os membros da Igreja, reconheça neles o germe da pós-modernidade, olhe neles para além da uniformidade da liturgia e dos hábitos, para a singularidade e complexidade e criatividade ali escondidos e que precisa fecundar a Igreja de um novo ânimo. Um olhar medieval numa estrutura medieval para acolher pensamentos pós-modernos é a receita perfeita para distúrbios internos. Se o papa cuidar bem da singularidade dos que fazem a Igreja católica, teremos lideres religiosos mais bem resolvidos, mais felizes e mais encontrados em sua vocação e significação no mundo, mais um excelente campo para se discutir a nova humanidade.
A Europa sempre ditou regra para o mundo. O suposto berço da civilização, com suas culturas já experimentadas e enraizadas, suas economias fortes e seu povo cheio de si. Vivemos tempos mutantes, falamos sobre isso na introdução desse olhar. Nesses novos tempos nada é definitivo, tudo está posto a mudar a qualquer momento e, com a Europa, não foi diferente. Abalaram-se as economias; dinheiro mexe no eixo de segurança de vida das pessoas; abalaram-se as antigas estruturas que faziam aquele povo tão cheio de si. Tanto que, não com menos propriedade, o novo para é latino-americano – sede-se um dos mais respeitados “tronos” para alguém de uma cultura de dominados que tende a suplantar seus dominadores. Novos tempos, minha gente!!!
E a macha da França a favor da família tradicional e contra o casamento homossexual???
Logo a França? Me perguntei. Eu sempre admirei a França por ser esse sinalizador da cultura dos direitos humanos e, de repente, é justamente de lá que vem a macha do retrocesso? Mas não tem retrocesso nenhum nisso! A Europa está abalada pela série de intempéries que tem sofrido. Aquele povo era hegemônico justamente num tempo onde as estruturas tradicionais ditavam o rumo dos tempos. Nessa perspectiva, não obstante assistiremos esse e mais outra série de acontecimentos aparentemente retrógrados que nada mais são que a tentativa desesperada desse povo de fazer voltar as antigas estruturas que aparentemente sustentavam sua hegemonia como se, fazendo voltar o velho pudessem, com ele, voltar ao topo. Mas, não esqueçamos, eles tem direito de tentar, tem direito de querer o que quiserem querer. Não podemos nos dizer pessoas abertas ao novo se formos intolerantes ao direito do outro escolher o que, escolhendo, o faz por acreditar que vai ser melhor pra si e, como já vimos, não há mal nenhum em se querer que a família seja a base e o sustentáculo da nossa cultura e da nossa sociedade.
E, em se falando de direitos humanos, tivemos, aqui no Brasil, a escolha catastrófica de Feliciano para a secretaria dos direitos humanos. Seria cômico se não fosse trágico! Mas gente, foi um dos mais recentes e mais significativos propulsores de uma tomada pública de posição que vimos nos últimos tempos dentro da esfera pública do Brasil. Assistimos anualmente há 13 anos milhões de pessoas ligando para decidir quem fica ou sai do big brother e, por essa escolha arbitrária, tivemos a alegria de ver acontecer uma tomada de posicionamento democrática de centenas de pessoas, nas redes sociais, querendo fazer públicas suas posturas a esse respeito – não chegamos aos milhões do big brother, mas já foi um excelente começo. Dentre os manifestos mais sagazes e inteligentes, li um, atribuído a Rita Le, que dizia mais ou menos assim: esse homem é mulato, não é? E tem preconceito contra afrodescendentes? E esse cabelo alisado e com chapinha? Hummmmmm... Também é homofóbico? Kkkkkkkkkkkk... Pobre Feliciano, um homem pós-moderno, mulato, metrossexual que, para ter sua parcela no comércio crescente da fé no Brasil, emitiu seu discurso sem base e sem fundamento de separatismo e preconceito, se vê agora tendo de desdizer o dito para garantir seu lugar num comércio bem mais valoroso na política brasileira. Esse homem não me representa também! Não pelas palavras infames – foram interesseiras e pontuais, cabidas dentro de uma cultura especifica para garantir um bem específico; Não me representa justamente pela falta de um posicionamento real, seguro, indiferente a benefícios pessoais.
Caramba! Pra quem não gosta de ler, essa postagem ultrapassou todos os limites, kkkkkkk...
Mas, depois de tudo isso, cabe-nos agora perguntar: ONDE ESTÁ JESUS EM TUDO ISSO?
Está na Igreja católica? Sim, está! Na macha da família? Também! Em Feliciano? Claro que sim!
JESUS ESTÁ ONDE SEMPRE ESTEVE! Indiferente às vicissitudes dos tempos? Nunca! Ao contrário: respeitoso a condição suprema do livre arbítrio humano, deixando que nós construamos nosso tempo, façamos nossa história.
JESUS ESTÁ ONDE SEMPRE ESTEVE! Ele não muda! As pessoas mudam! Os tempos mudam! Houve um tempo em que a Igreja defendia o preconceito racial pregando que negros não tinham alma. Isso nada tinha a ver com Jesus, era ditame social, humano. Hoje defende a igualdade de raças. Não foi Jesus quem mudou, o mundo é que mudou – e continua mudando.
JESUS ESTÁ ONDE SEMPRE ESTEVE! E é, certamente, a imagem mais apropriada a nos guiar nesses tempos de confusão e dúvidas: comeu com publicanos, perdoou adúlteras, olhou com amor para fariseus, acolheu no reino recém inaugurado por seu sacrifício um ladrão. Ele vivia a máxima que resume sua pregação e é apropriada a todo e qualquer tempo instaurado pela raça humana: AMA A DEUS E AMA O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO!
Nessa máxima, condição indelével para o fim do preconceito, para o respeito e acolhimento a qualquer diferença, para o fim da fome e da miséria, para a confraternização entre os povos, e para a tão sonhada PAZ.
Ah! Termino esse texto muito emocionado. Como foi bom reservar esse tempo em meio a essa correria toda para pensar a páscoa com vocês. Na etimologia da palavra páscoa temos – passagem, e agregamos o conceito – libertação. Vivemos mais que uma data comemorativa, vivemos um tempo de páscoa, de passagem, de mudança, de novas formas de ser no mundo. Que saibamos fazer essa transição mais leves, deixando para trás antigos pesos que já não correspondem a quem e como somos humanidade hoje, libertos de ideias separatistas... E que seja um o lema supremo  a nortear nossa passagem: AMA A DEUS E AMA O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO!
Uma excelente, reflexiva, sentida, humana, páscoa para todos!!!

Rennan Barros
OBS: Acho essa uma das imagens mais apropriadas do Cristo Ressuscitado...