segunda-feira, 23 de agosto de 2010

OLHARES IV - A Solidão


Hoje discuti com a minha mãe...
Esse é um fato a ser memorável porque dificilmente acontece...
É engraçado como os pais encaram toda discussão entre pai e filho como uma projeção sobre si mesmo e o quanto foram bons ou não na função de ser pais...
Ao fim a minha mãe disse: “Sei que você vive pelo mundo em busca de uma mãe...”; É uma pena que a minha mãe me conheça tão pouco, porque, se de fato conhecesse, saberia que ando pelo mundo em busca de mim mesmo...

Me olho no espelho e me intrigo quanto a construção que fiz de mim mesmo, alguma coisa entre ser e nada ser que nada diz de si mesmo ao não ser da busca. De alguma forma, acho que sou injusto em querer que ela entenda o que eu não entendo...

Hoje é mais um daqueles dias únicos... Ontem também foi um dia desses únicos; e também antes de ontem... Acho que adoraria dias iguais aonde eu apenas amanhecesse e vivesse só por estar vivo... Mas hoje se fez um dia único porque, só por hoje, permito-me uma trégua de mim mesmo, uma trégua nesse eterno trânsito entre o paralelismo do concreto e o utópico... baixo minha guarda no exato ponto aonde estou, sem me preocupar se avancei ou retrocedi, se acertei ou errei...

Adoraria sentir pena de mim mesmo e me chorar, chorar o luto de tudo o que não consegui ser, mas não consigo... sei-me ser o que escolhi livremente ser, e isso inibe qualquer melindrar meu sobre mim mesmo... Olho-me no espelho e aceito essa interrogação enorme nos meus olhos; de alguma forma tenho medo de admitir já ter achado o que procuro – isso me tiraria o prazer da busca e, sem ela, sem a busca, temo nada haver do que sobra para contar a história do que fui.

Hoje é justamente o dia de parar um pouco de me enganar e admitir a minha solidão, e nela está o novo olhar que proponho a partir de mim mesmo.

A solidão, para mim, é um daqueles conceitos que não permitem ser delimitados; acho mesmo que, para cada pessoa, há um limite próprio. De mim mesmo descobri um incrível gosto por pessoas que não tenho como explicar – adoro as pessoas e suas histórias. Adorando as pessoas tratei sempre de acercar-me delas de forma a estar sempre acompanhado.

Se acompanhado não só!!! É o pensamento mais óbvio diante da afirmativa, não é?

Aí o novo olhar proposto: um olhar sobre a solidão que se sente em se estando acompanhado...

Nós, seres humanos, temos o olhar fixo em nós mesmos. Até quando olhamos para os outros, e nos congratulamos por uma atitude tão altruísta, estamos buscando a nós mesmos no pouco que podemos reconhecer da nossa história naquela outra, ou encantados, como Narciso, com a nossa imagem refletida no olho do outro. Olhamos para o outro tentando reconhecer os nossos defeitos numa busca insana de encontrar outros culpados para os nossos crimes e tranqüilizarmos nossa consciência; ou ainda, em duas terríveis hipóteses, olhamos para a desgraça do outro congratulando-nos porque aquilo não está acontecendo com a gente, ou para a vitória do outro estabelecendo-a como parâmetro para nossa baixa estima...

Assim, mesmo acompanhados, estamos sempre sós. Sós pelo mundo do outro que nosso olhar umbilical não nos permite enxergar, e dolorosamente sós pelo nosso próprio mundo que ninguém vê...

Hoje admito-me só pelos dois motivos...
Só abro mão de uma dor que me constrange: a de ser só acreditando-me acompanhado. Hoje sinto-me só sabendo-me só...

Aqui, agora, eu, uma música instrumental altíssima tocando sem que eu saiba seu nome ou autor, a velha interrogação nos meus olhos me perguntando coisas que não sei, solidão aqui dentro, e lá fora uma vida inteira por ser vivida...

Escutei isso num filme e repito por sua relação comigo mesmo: "as poucas vezes em que não me senti só foi quando estive ligado intimamente às pessoas"...

...

OLHARES III - Admitir-se amando


Tem coisa mais burra que admitir-se amando?
Não! Acompanha comigo:
É praxe que um lado sempre ama mais; e que esse lado é sempre o que sofre.
Enquanto esse lado, o de quem ama, não é evidenciado, dá pra simular ainda certo equilíbrio porque o outro lado, por não ter a certeza do que se processa do lado de cá, pode viver o dilema de achar-se a parte mais amante. E mais – quem é “besta” de admitir-se amando para que a outra parte se sinta segura demais e o bastante pra aprontar? Admitir-se amando é o mesmo que dar ao outro o direito de “sambar na carniça”, e esse gosto não se dá a ninguém!!!

É mais ou menos assim, não é? Kkkkkkkkkkkkk...
Ah! E tem ainda aquela idéia de que, a parte que admiti-se amando, é a parte fraca da relação, melindrada pelo excesso de emotividade, com inclinação a sujeitar-se, por amar, aos caprichos do outro.

Tudo isso é tão obvio e factual. Será que é possível, também aí, lançar um outro olhar?
Tentemos:

Não sei se você notou, mas em todas as observações anteriores o ponto de observação foi sempre o outro – o que o outro vai achar da minha revelação e como agirá a partir de então. O único ponto referente ao “eu” foi o medo de parecer fraco.

Vamos agora mudar o foco!!! Tragamos o foco para o “eu”, e analisemos algumas implicações dessa mudança de “olhar”.

“Admitir-me amando é, antes de tudo, uma tomada de posição minha com relação a mim mesmo”. É coisa da natureza do auto-conhecimento; da tomada de postura do eu ao reconhecer em si um traço especifico e suas implicações de conduta. É saber que, por estar amando, isso incide sobre mim, não só na dimensão da minha conduta com relação ao outro, mas também da minha vida como um todo, que requer espaço para a participação de uma outra vida com perspectivas totalmente diferentes.

“Admitir-me amando é, antes de tudo, uma reflexão de liberdade, porque, livremente, permito-me prender-me”. Nada de observações medíocres do tipo: não consigo me conter, sou escravo desse sentimento... Xiiiii!!! Mais uma atitude auto-piedosa... Podemos até não ter controle sobre os sentimentos, mas temos sobre os nossos atos!!! E a própria consciência da pertinência ou não de dado sentimento nos ajuda, a seu modo, a controlá-lo até dissipar-se de vez caso não condiga conosco... Por tanto, nada de sujeição!!!

“Eu gosto!!!”. É da minha alçada os sentimentos que carrego. Reconhecê-los e tomar posse deles não me faz fraco em nada, ao contrário, faz-me forte; recai sobre a dimensão da segurança ao passo que me remete ao que se passa dentro de mim.

Mas e o outro? A relação não imprescinde a participação do outro?

Claro que sim!!! Mas eu não posso condicionar as minhas atitudes às do outro: só dou carinho se me der; só ligo se ligar; só digo que gosto se tiver certeza da recíproca... Sentiu a prisão? E, como em toda prisão, a limitação... Não sou obrigado a condicionar os meus sentimentos e a conduta que assumo a partir deles a ninguém. Gosto!!! Assumo para mim mesmo que gosto; não como alguém impotente que se coloca diante do sentimento como diante de um monstro dominador, mas como alguém de posse das rédeas. Sou fiel a mim mesmo agindo segundo as inclinações do meu coração. Se a outra parte corresponder, estabelecemos relação; se não, coloco mais esse estado afetivo e mais essa pessoa no rol de ótimas lembranças e espero que esse sentimento se consuma e esvaia para, mais uma vez, a seu tempo, permitir que me coração se achegue de alguém de novo.

De minha parte costumo dizer, e pode até parecer soberbo demais: “quem não me ama só tá perdendo!”. E digo isso não por me sentir o propofol que matou Michael Jackson, mas por saber da minha construção, dos empenhos que fiz, nesses 28 anos, cuidando da minha mente e do meu coração, para me tornar quem sou. Tenho consciência da minha potencialidade em ser e fazer alguém feliz. Simples assim!!!

Ao fim, só queria fazer uma observação: é ingênuo negar-se amando! Os nossos olhos, nossas atitudes, tudo nos trai! Traímos até a nós mesmos negando sentir o que sentimos e sofrendo essa negação... Tudo uma grande vaidade!!!

E mais pessoalmente, em se tratando de mim, não diga que me ama sem sentir – não vendo nos seus olhos o amor perderei a confiança nas suas palavras. Não diga que não me ama amando – sempre sei quem me ama, e se nega esse estado perde comigo porque detesto covardes. Me amando ou não, aja segundo seu sentimento, e aproxime-se de mim real, inteiro, VOCÊ; e teremos bem mais chances de construir algo juntos, disso pode ter certeza!!!

Demos um viva aos que tem a coragem de admitir-se amantes!!! Que reconhecem as implicações dessa atitude, mas que não se amedrontam ante o desafio de amar... Demos um viva aos amantes que, amantes se reconhecendo, estão um pouco mais capacitados que os demais, por estarem um pouco mais perto do Coração de Deus.

sábado, 21 de agosto de 2010

OLHARES II - A Síndrome da Contemporaneidade

Aqui estamos nós mais uma vez, os olhos e as lentes pelas quais olhamos o mundo...
Acho que, de alguma forma, essa é uma meta postagem sobre o tema “olhares”, porque diz respeito às lentes com as quais olhamos o mundo, as coisas – interiores e exteriores, e a nós mesmos...

A questão é que essas lentes são formadas pelas nossas experiências, e isso compreende um amplo quadro de influências sociais, culturais, familiares; dores e alegrias; lágrimas e risos; certo e errado; e todas as formas e vozes possíveis e imagináveis que falam aos nossos ouvidos e às nossas mentes construindo o que entendemos por nossos valores e formatando as nossas prioridades.

É notório também que o nosso pensamento muda em resposta a cada fase da vida: quando crianças pensamos como crianças; quando adultos como adultos; e assim sucessivamente. Há inversões, é verdade!!! Conhecemos crianças “adulteradas”, adultos infantilizados, também adultos senis, e velhos na puberdade... kkkkkkkkkkkkk... Mas, em linhas gerais, cada fase corresponde a um olhar, um foco, uma lente próprios.
Parece natural, e até bacana!!! Mas lancemos olhares sobre esses olhares:

1 – Na maioria das vezes essas lentes são anexadas a nós, por nós mesmos (diga-se de passagem), sem uma justa apreciação. Dizemos coisas porque todos dizem; construímos nossos valores e noções de certo e errado sob a idéia do senso comum, do que todos dizem ser certo ou errado; e acabamos por nos pegar, vez ou outra, transgredindo essa ou aquela noção, não porque somos ruins ou maus, mas porque não fizemos desse exercício e formulação de valores uma experiência pessoal, significativa, entendeu?
2 – A memória e os estereótipos incidem diretamente sobre essas lentes! Em conseqüência da memória acabamos por nos tornar “contemporâneos demais”; não conseguimos conservar os olhares antigos – adultos não lembramos como é que olhávamos quando crianças (e assim por diante). E também existem os estereótipos e papeis sociais definidos – para cada fase o seu conjunto – e também as repressões sociais a quem se distancia, mais ou menos, desses estereótipos e papeis.
Muito blá blá blá? Também estou achando, acredite!!! Kkkkkkkkk... Mas foi necessário para os olhares subsequentes. Continue acompanhando o raciocínio:

Você não acha estranho que os pais, um dia tendo sido filhos, os entendam tão pouco? Ou os adultos, tendo sido crianças, tenham tão pouca sensibilidade e paciência para com as crianças?

Isso é o que chamarei “síndrome da contemporaneidade”!!! Seria uma espécie de fixação na lente imediatamente atual, com seus padrões, e as emoções próprias anexadas a ela. Por exemplo: Uma mãe, ao fazer um exercício de memória, conta que se sentia muito presa pela própria mãe, a quem achava repressora. Ao rememorar, ela olha pela lente da fase em que viveu e reencontra as emoções ligadas aquele momento (olha para si mesma e sua história e acha justo sentir-se reprimida); em contra partida, não aceita as reclamações da filha para com a mesma questão – liberdade e repressão. Entenda-se: ao olhar agora para a filha, essa mãe olha com as lentes do estereótipo de mãe, e por ser contemporânea demais a si mesma, sente-se até ofendida pelas colocações da filha.

Há nesse exemplo um traço de ignorância sensível – que é o olhar aonde esse blá blá blá todo queria ao fim chegar. A mãe, não transcendendo sua “contemporaneidade”, sua prisão às emoções e aos valores anexados ao seu atual estado, não consegue, mesmo se recordando das suas aspirações juvenis, entender a filha que hoje passa por aspirações semelhantes, nem tão pouco entende a própria mãe, estando agora em situação semelhante à que ela ocupou; sente-se vítima em ambos os casos, da mãe que a reprimia e da filha que não reconhece seu amor e seu esforço.

Aqui chegamos ao lugar pretendido, ao olhar sobre os olhares que nos indica: “nunca jogar fora os antigos óculos!!!”.

Essa medida é o ponto de partida para uma serie de melhoramentos na nossa relação conosco mesmos e com os outros. Tentarmos olhar com os olhos que outrora olhamos ajuda-nos a reconhecer nossos avanços, também nossos retrocessos nalgum ponto. Esse olhar pelas antigas lentes do nosso eu de outrora nos capacita também a tentar olhar pelo foco do outro, ampliando nossa sensibilidade e compreensão do tempo e da maneira de ver e sentir do outro, nos tornando assim ainda mais capazes de entender conceitos superiores como AMOR e MISERICÓRDIA.
Sem contar que, nas nossas lentes antigas, estão as chaves para a liberdade das prisões sociais; por exemplo: desejar muito comer doce e lamber os dedos no final; não reprimir-se por rolar a noite inteira de ansiedade antes de uma viagem muito desejada; chorar quando as coisas apertam e antes de uma decisão muito importante para eliminar tensões e apaziguar o espírito; deitar no colo de alguém e pedir um cafuné; soltar pum alto quando ninguém estiver vendo; não guardar rancor dos amigos; não precisar competir sempre; dormir de pijamas de ursinhos (essa foi boa kkkkkkkkk)...

Enfim!!! Fazer das antigas e tão encantadoras lentes o escape necessário para com as tensões da nossa contemporaneidade. Permitir-se não ter que vencer sempre, nem ser tão arrumadinho sempre. Redescobrir o valor de rir alto e chorar com a mesma intensidade. Fazer da experiência de “amadurecer” uma experiência de “acumulo de olhares” de forma a podermos olhar sempre tudo, todos, e a nós mesmo, sob os mais diversos pontos de vista e reconhecendo-nos sempre como seres de possibilidades.

Tenho certeza que assim, a cotidianidade, até as coisas mais simples, assim como as meritórias de admiração, começarão a ganhar novo sabor, nova cor, e um maior pluralismo de significação, transformando a vida numa linda jornada de deleite para os sentidos, de entusiasmo para a mente, de calor para o coração... Uma vida de significação no mais literal sentido da palavra para quem a vive; e uma vida significativa para as pessoas que conosco convivem e, porque não dizer, para a humanidade inteira.

Bem vindos ao mundo multisignificativo dos olhares!!! Iuhuuuuuuuuuuuuuu!!! Kkkkkk...

Obs: Quando criança adorava nadar; não tenho nem como descrever o prazer que eu sentia nisso... A questão é que perdi esse gosto, e todas as vezes que tive contato com a água procurava aquele prazer antigo sem achar. E sentia muito por isso!!! Mas outro dia estava eu lavando a garagem da minha casa, fazia um dia incrível de sol e tocava axé no som do quarto da minha irmã (inclusive uma música que não gosto). Por um instante eu me desliguei do meu eu atual, imerso naquele trabalho tão mecânico e simples de lavar, e vi as minhas lentes atuais serem trocadas pelas antigas e todo o prazer e a significação dos dias de sol e de nadar voltarem como que por mágica, um verdadeiro milagre. E o prazer de tão incrível retorno e o valor disso para a melhoria de quem sou agora, ao escrever isso, me fizeram desejar partilhar esse olhar sobre os olhares. Desejo que tenha sido para ao menos um de vocês, que conseguiu ler até o final, de algum proveito. Bj na bunda!!!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

OLHARES I - Aos que sofreram por amor

Olá, pessoal!
Estou inaugurando uma nova série de postagens a qual chamaremos “OLHARES”.
Como o nome sugere, lançaremos olhares tentando encontrar outras óticas de observação e compreensão de alguns temas bem próximos à nossa alma...
Vamos nessa!!!

Aos que já sofreram por amor


Tem gente simultaneamente mais incrível e mais ridícula que quem sofreu por amor?
Confesso que essa gente exerce sobre mim um misto de atração e repulsa que vou tentar explicar.

Tem gente mais imbecil que quem sofreu por amor? Não! Vamos respeitar!!!
Acompanha comigo e você, com certeza, vai se reconhecer ou reconhecer alguém com essa postura:

1 – Todas as coisas possíveis e imagináveis remetem sempre a lembranças do passado – que de passado não tem nada!!! Os amores trágicos são arrastados e trazidos sendo feitos sempre presentes, por mais que não se admita isso.
2 – Enxergam-se sempre como os mocinhos, aqueles que amaram, aqueles que se entregaram, aqueles que entenderam, aqueles que ajudaram a pessoa amada... E essa postura de mocinhos leva ao terceiro ponto que, ao meu ver, é o pior de todos:
3 – Postura de vítimas!!! Meu Deus, não tem coisa pior que ver uma pessoa sentir pena de si mesma... É aquela eterna e mesma história de ter dado tudo e ter recebido apenas desamor e ingratidão.

E aí? Você é assim ou conhece alguém que se comporta ou se comportou assim? Eu já!!!
Gostaria de lançar agora alguns olhares se me permitem....
Não desrespeitando a dor das pessoas mas, se olharmos bem de perto, perceberemos que essa postura acima salientada é bem egoísta, é uma visão unilateral sob um único foco – o pessoal. Toda relação é feita de sujeitos, e essa idéia traz em si mesma a certeza de que são dois mundos na questão repletos de sonhos, expectativas e desejos. Se uma parte cindi a relação e decide ir embora é porque seus sonhos já não estão mais ali. Pergunto:

É justo para com a outra pessoa mantê-la ao meu lado quando seus sonhos e desejos apontam para um outro norte?
É justo para comigo ter do meu lado alguém que não quer estar ali? (e pode até permanecer por um capricho meu ou, na pior das hipóteses, por pena).

E ainda tem aquela parte do “fiz tanto” e “não recebi nada”. Tudo papo furado!!!
Ajudou? Não fez nada demais além da sua parte!!! Se entrou numa relação ela imprescinde participação; a única diferença é que significação você imprime a essa participação, se faz dela uma forma de se vangloriar e manter a pessoa presa a você (aí tem direito mesmo de reclamar o feito) ou se fez porque seu coração lhe pedia e você queria ver a pessoa amada feliz (aí foi uma escolha livre e, para quem a fez, nem preciso comentar, não vai passar na cara mesmo). E mais!!! A outra pessoa também fez seus investimentos; talvez não os investimentos socialmente consideráveis, mas alguns ainda mais significativos – os investimentos afetivos – e esses foram feitos em tão alto grau que, ao anunciar retirada de investimentos, deixa um espaço vazio tão grande (o que gera a dor).

Consequências de todos esses pontos na qualidade das relações atuais do amante sofredor:

TENTATIVA DE REVIVER O QUE LHE FEZ BEM – O sofrimento é nada mais que o reconhecimento do quanto a presença do outro era importante. Simples assim!!! Só que, saindo essa pessoa de cena, tanto suas virtudes como suas desvirtudes são ampliadas num processo psicológico de fixação. Por mais que se diga que não lembra, ou até que odeia, o sofredor acaba procurando nos seus novos relacionamentos “aquele antigo”; quer reviver, com outra pessoa, o que ele entendeu de felicidade.
Infelizmente esse postura só leva a mais decepções porque cada relação é nova e, por mais que se aproxime de outra, é uma relação com seu próprio dinamismo e ninguém jamais ocupará o lugar do outro. Sem perceber, por não reconhecer em si esse processo, essas pessoas acabam por determinar posturas específicas para os participes de suas novas relações, sofrendo o não êxito do seu desejo e, ainda pior, deixando de dar oportunidade a si mesmo e a outro de viver uma nova relação, ímpar, com outras alegrias, talvez até maiores, e também outras tristezas...

MEDO DE SOFRER – Aí está o outro grande problema. Olhando-se como vitimas e sofredores, em todas as novas relações, lançará mão sempre de defesas vivendo relações capengas e melindradas. Por ter ainda muito presentes na mente e no coração as dores da tão significativa relação, reconhecem, no menor sinal, a aproximação da dor. É um processo natural de auto-preservação, eu sei, mas acabam assim vivendo relações inseguras, sempre em vias do fim. Dão-se pouco, amam pouco, acreditam pouco, se envolvem pouco sempre na desculpa de não cair na besteira de acreditar e sofrer de novo.

Entenderam agora porque eu detesto pessoas que sofreram no amor?
É praticamente impossível amar alguém assim. Exigem sempre que amemos com um outro coração que não o nosso próprio. Têm suas relações antigas como estereótipo e não reconhecem o quanto bom pode ser o presente.


MAS AMO OS QUE SOFRERAM POR AMOR!!!
Não tenho como não reconhecer essas pessoas como lindas, abençoadas, incrivelmente passiveis de serem amadas. Adoro as pessoas que sofreram por amor (essa idéia é tão agradável e forte que sinto vontade de gritar... kkkkkkkkkkk).

É uma pena que essas pessoas se olhem sob o foco errado. Se sofreram é porque amaram muito, muito, muito... acreditaram, baixaram a guarda, foram fundo... e nunca se vive tão intensamente quando se ama sem reservas.

Amo os que sofreram por amor, e vou justificar mostrando um outro possível olhar em resposta aos três iniciais aonde justifiquei porque detesto:

1 – Ao olhar para trás, lembrando do quanto foram felizes ou sofreram, sentem um imenso prazer por saber que são capazes de amar; que enquanto durou a relação foi bom, tanto que valeu a lembrança, não como parâmetros de repetição nas relações atuais, mas como uma história especifica, num momento especifico, ambos que não se repetem, e dos quais só traz o aprendizado e a experiência.
2 – Não foram apenas mocinhos, nem tão pouco bandidos, apenas alguém querendo ser feliz, e reconhecendo no outro também essa identidade. Sabem que fizeram investimentos, mas reconhecem também no outro uma pessoa incrível, que também fez seus investimentos e, a seu tempo e do seu jeito, foi tão incrível que a fez se apaixonar.
3 – O reconhecimento, de si e do outro, como de identidades querendo ser felizes, tira a idéia de vitima, a transforma em agentes: sofreram alegrias e tristezas, causaram alegrias e tristezas.

Hipotético e ideal demais?
Não pense assim!!!
As pessoas, para se livrar de um grande amor, precisam de uma força inversamente proporcional e forte para esquecer, por isso precisam detestar... Pessoas como você descreve não existem?

Ei, pode ir parando!!! Entendo seus argumentos!!!
Não concordo que essas pessoas não existem. Elas somos nós!!! Depende da postura e do olhar que queremos lançar sobre a vida e os fatos; se queremos passar a vida tendo pena de nós mesmos por amores que não deram certo ou reconhecendo em nós o incrível potencial de amar e acumulando com as experiências passadas lembranças e aprendizado. Ou não?

E quais as possíveis conseqüências de uma postura mais resiliente e autruísta diante do amor e das relações que chegam ao fim:

SABER E SENTIR-SE ALGUÉM QUE VIVE COM INTENSIDADE: saber que amaram muito e por isso sofreram muito é um indicativo de intensidade, de que se envolveu e entregou inteiramente no projeto da relação. Chegou ao fim? É uma possibilidade dentre tantas, mas valeu até o último segundo; tanto que doeu quando terminou. Nada de guardar lembranças negativas porque “não foi pra sempre”. O que é o sempre se tudo o que temos é esse segundo de agora? Kkkkkkk... É tudo uma questão de olhar...

SOFRER É CONSEQUÊNCIA DE AMAR MUITO: reconhecer, ao invés de só o que foi ruim, também o que foi bom, dá novo ânimo para amar de novo, pra poder ser feliz de novo, e sofrer, quem está livre disso? Somos seres de relação; reconhecer no outro o elemento que me apresenta a felicidade e a dor me impele, se de fato quero ser feliz, a arriscar as fichas de novo e correr os riscos.

Xi!!! Passaria aqui mais um tempão escrevendo porque adoro os que sofreram no amor...
Resumir o porquê de os amar? Fácil!!!
“Se sofreram muito é porque amaram muito; e se amaram muito é porque sabem se entregar; e sabendo se entregar são capazes de viver relações intensas.”

Por fim, nessa primeira tentativa de lançar olhares sobre nós e nossas posturas, uma prece ao Amor:

Que sejam abençoados os que amam de verdade e acreditam que amar pode ser bom...
Amém

sábado, 7 de agosto de 2010

Apenas um livro


A algum tempo atrás andei me perguntando qual a minha razão de ser no mundo... Hoje, estranhamente, acho esse questionamento pessoal patético (e talvez amanhã eu ache patético achar patético esse questionamento pessoal e volte a valorizá-lo, kkkkk).

Mas é questão hoje é nova e é essa: “Quem disse que temos que ser algo?”.

Esse questionamento meio que nos empurra para um dos estereótipos já estabelecidos e louváveis pelo cânon social; e, que fique claro, não estou aqui desprezando esse cânon e os maravilhosos postulados, especialmente os profissionais, que estabelece – que seria de mim sem os médicos, os professores, os cozinheiros, os costureiros? Apenas gostaria de focar O QUE SE É, não porque se estudou pra isso, não o que um titulo estabelece, mas o que fica de nós quando ninguém vê...

Compliquei? Deixa eu tentar exemplificar...

Digamos que você seja médico(a), certo? Você estuda o corpo humano e suas funções por exaustivos longos anos, se especializa numa área, trabalha pra “dedeu” (ao menos alguns, nesse exemplo é importante que você se imagine um(a) médico(a) trabalhador(a) e dedicado(a), kkkkkkk), constrói sua bela casa e constitui uma família. Aparentemente uma vida perfeita: esforço, trabalho, grana e família. Mas você não é médico o tempo todo, é?

Imagina se fosse, ao chegar em casa, num momento de intimidade com seu cônjuge: “amor, enquanto você me abraça o meu hipotálamo se estimula fazendo com que minhas glândulas supra renais produzam adrenalina e as fibras nervosas produzam noradrenalina agindo simultaneamente aumentando o pulso cardíaco e a temperatura do meu corpo junto ao seu e ampliando a sensibilidade das zonas erógenas para que sintamos prazer... vamos copular...”.

Já imaginaram que coisa chata? Kkkkkkkkkkkkkk...

É justamente disso que estou falando, do quem somos além dos títulos; de como somos quando ninguém vê... Quando somos exageradamente gente... Quando somos nós mesmos... entende?

É nessa perspectiva que repenso o meu papel!
E essa palavra “papel” me inspira a imagem do que sou quando nada sou – UM LIVRO!!!
Acho que nenhuma outra imagem simbólica poderia melhor me expressar...
Sei que há quem pense que a melhor imagem pra expressar-me seria uma vitrola com a agulha emperrada já que falo pelos cotovelos, kkkkkkkkkkkkkkk. Bem pensado, amigos!!! Mas é que costumamos nos ouvir tão pouco que acabo sentindo a necessidade de falar muito para que ao menos um pouco seja apreendido...
Não me entendo uma vitrola velha e sim UM LIVRO!!!

Aprendi, desde muito cedo, a importância do outro: seu encantamento, sua história, seus medos, desvalores e virtudes; descobri nesse contato com o outro o meu prazer. Hoje sei que acabei sendo, ao longo dessa história, um livro em branco aonde as pessoas, ao passarem por mim, foram escrevendo suas histórias...

Ri com algumas... chorei com outras tantas... porque, sendo escritas em mim, essas histórias tornaram-se a minha história. Por um tempo achei que havia me negligenciado a mim mesmo dando sempre mais importância a necessidade do outro, a história do outro... MAS NÃO!!! A história do outro passou a ser a minha história no momento em que ele se inscreveu no livro da minha vida.

De fato, essa reflexão depende de que valor se dá as relações... As pessoas escrevem suas histórias e passam, vão atrás dos seus sonhos e das suas prioridades; correm apressadas em busca de ser algo bonito e aparente que lhes garanta a idéia de segurança e poder tão desejadas por todos.

SEGURANÇA E PODER... Duas palavras as quais não posso almejar. Estabeleci como prioridade as minhas relações; construí meu mundo retirando dele os tijolos que adiciono as muralhas dos outros me tornando cada vez mais pobre, desamparado e livre. Como ter segurança e poder assim? Kkkkkkkkkkkkk...

Mas entenda-se: não tenho segurança e poder no sentido entendido como as pessoas buscam, mas carrego comigo a SEGURANÇA de saber que esse emaranhado sem valor que pareço faz sentido; que cada encontro, cada partilha, cada olhar, cada abraço, que cada coisa fez, faz, e dá todo sentido a minha vida. E tenho ainda comigo o PODER de amar as pessoas e não ter medo de me esconder por isso, aonde existe quem tenha medo de amar e admitir-se amante por medo de, inversamente a sua idéia de poder, parecer fraco.

Quantas miragens essa jornada pode nos apresentar pegando-nos em nossas sedes de acúmulos, segurança e poder...

De minha parte, vou me tornando cada vez mais pobre, pelas coisas as quais me proponho a deixar para trás e pelas coisas que não posso levar comigo (mesmo quando gostaria de fazê-lo); simultaneamente, me torno cada vez mais livre, e mesmo quando preso às histórias e pessoas, ainda livre, porque livremente escolhi prender-me...

No fim, não serei nada além de um velho livro de histórias...
Às vezes tendo virado a página...
Às vezes sendo página virada...

Louvado seja o Amor por permitir que seu evangelho seja compreendido na entrelinha dessa vida tão encantadora e repleta de histórias e significados.

Contato

Esse é um breve texto de carinho para com os leitores desse blog espalhados pelo mundo (com um beijo especial aos leitores de Portugal e dos Estados Unidos que têm se feito fiéis a essa leitura).
É excepcionalmente bom saber que todas essas alusões escritas aqui ao que nos faz tão humanos encontra ecos em vocês!
Para estreitar nossos laços estou disponibilizando um e-mail para um contato mais pessoal com os leitores que quiserem fazer alguma partilha:

Beijo na bunda para todos!!! kkkkkkkkkkk
RENNAN BARROS