terça-feira, 10 de agosto de 2010

OLHARES I - Aos que sofreram por amor

Olá, pessoal!
Estou inaugurando uma nova série de postagens a qual chamaremos “OLHARES”.
Como o nome sugere, lançaremos olhares tentando encontrar outras óticas de observação e compreensão de alguns temas bem próximos à nossa alma...
Vamos nessa!!!

Aos que já sofreram por amor


Tem gente simultaneamente mais incrível e mais ridícula que quem sofreu por amor?
Confesso que essa gente exerce sobre mim um misto de atração e repulsa que vou tentar explicar.

Tem gente mais imbecil que quem sofreu por amor? Não! Vamos respeitar!!!
Acompanha comigo e você, com certeza, vai se reconhecer ou reconhecer alguém com essa postura:

1 – Todas as coisas possíveis e imagináveis remetem sempre a lembranças do passado – que de passado não tem nada!!! Os amores trágicos são arrastados e trazidos sendo feitos sempre presentes, por mais que não se admita isso.
2 – Enxergam-se sempre como os mocinhos, aqueles que amaram, aqueles que se entregaram, aqueles que entenderam, aqueles que ajudaram a pessoa amada... E essa postura de mocinhos leva ao terceiro ponto que, ao meu ver, é o pior de todos:
3 – Postura de vítimas!!! Meu Deus, não tem coisa pior que ver uma pessoa sentir pena de si mesma... É aquela eterna e mesma história de ter dado tudo e ter recebido apenas desamor e ingratidão.

E aí? Você é assim ou conhece alguém que se comporta ou se comportou assim? Eu já!!!
Gostaria de lançar agora alguns olhares se me permitem....
Não desrespeitando a dor das pessoas mas, se olharmos bem de perto, perceberemos que essa postura acima salientada é bem egoísta, é uma visão unilateral sob um único foco – o pessoal. Toda relação é feita de sujeitos, e essa idéia traz em si mesma a certeza de que são dois mundos na questão repletos de sonhos, expectativas e desejos. Se uma parte cindi a relação e decide ir embora é porque seus sonhos já não estão mais ali. Pergunto:

É justo para com a outra pessoa mantê-la ao meu lado quando seus sonhos e desejos apontam para um outro norte?
É justo para comigo ter do meu lado alguém que não quer estar ali? (e pode até permanecer por um capricho meu ou, na pior das hipóteses, por pena).

E ainda tem aquela parte do “fiz tanto” e “não recebi nada”. Tudo papo furado!!!
Ajudou? Não fez nada demais além da sua parte!!! Se entrou numa relação ela imprescinde participação; a única diferença é que significação você imprime a essa participação, se faz dela uma forma de se vangloriar e manter a pessoa presa a você (aí tem direito mesmo de reclamar o feito) ou se fez porque seu coração lhe pedia e você queria ver a pessoa amada feliz (aí foi uma escolha livre e, para quem a fez, nem preciso comentar, não vai passar na cara mesmo). E mais!!! A outra pessoa também fez seus investimentos; talvez não os investimentos socialmente consideráveis, mas alguns ainda mais significativos – os investimentos afetivos – e esses foram feitos em tão alto grau que, ao anunciar retirada de investimentos, deixa um espaço vazio tão grande (o que gera a dor).

Consequências de todos esses pontos na qualidade das relações atuais do amante sofredor:

TENTATIVA DE REVIVER O QUE LHE FEZ BEM – O sofrimento é nada mais que o reconhecimento do quanto a presença do outro era importante. Simples assim!!! Só que, saindo essa pessoa de cena, tanto suas virtudes como suas desvirtudes são ampliadas num processo psicológico de fixação. Por mais que se diga que não lembra, ou até que odeia, o sofredor acaba procurando nos seus novos relacionamentos “aquele antigo”; quer reviver, com outra pessoa, o que ele entendeu de felicidade.
Infelizmente esse postura só leva a mais decepções porque cada relação é nova e, por mais que se aproxime de outra, é uma relação com seu próprio dinamismo e ninguém jamais ocupará o lugar do outro. Sem perceber, por não reconhecer em si esse processo, essas pessoas acabam por determinar posturas específicas para os participes de suas novas relações, sofrendo o não êxito do seu desejo e, ainda pior, deixando de dar oportunidade a si mesmo e a outro de viver uma nova relação, ímpar, com outras alegrias, talvez até maiores, e também outras tristezas...

MEDO DE SOFRER – Aí está o outro grande problema. Olhando-se como vitimas e sofredores, em todas as novas relações, lançará mão sempre de defesas vivendo relações capengas e melindradas. Por ter ainda muito presentes na mente e no coração as dores da tão significativa relação, reconhecem, no menor sinal, a aproximação da dor. É um processo natural de auto-preservação, eu sei, mas acabam assim vivendo relações inseguras, sempre em vias do fim. Dão-se pouco, amam pouco, acreditam pouco, se envolvem pouco sempre na desculpa de não cair na besteira de acreditar e sofrer de novo.

Entenderam agora porque eu detesto pessoas que sofreram no amor?
É praticamente impossível amar alguém assim. Exigem sempre que amemos com um outro coração que não o nosso próprio. Têm suas relações antigas como estereótipo e não reconhecem o quanto bom pode ser o presente.


MAS AMO OS QUE SOFRERAM POR AMOR!!!
Não tenho como não reconhecer essas pessoas como lindas, abençoadas, incrivelmente passiveis de serem amadas. Adoro as pessoas que sofreram por amor (essa idéia é tão agradável e forte que sinto vontade de gritar... kkkkkkkkkkk).

É uma pena que essas pessoas se olhem sob o foco errado. Se sofreram é porque amaram muito, muito, muito... acreditaram, baixaram a guarda, foram fundo... e nunca se vive tão intensamente quando se ama sem reservas.

Amo os que sofreram por amor, e vou justificar mostrando um outro possível olhar em resposta aos três iniciais aonde justifiquei porque detesto:

1 – Ao olhar para trás, lembrando do quanto foram felizes ou sofreram, sentem um imenso prazer por saber que são capazes de amar; que enquanto durou a relação foi bom, tanto que valeu a lembrança, não como parâmetros de repetição nas relações atuais, mas como uma história especifica, num momento especifico, ambos que não se repetem, e dos quais só traz o aprendizado e a experiência.
2 – Não foram apenas mocinhos, nem tão pouco bandidos, apenas alguém querendo ser feliz, e reconhecendo no outro também essa identidade. Sabem que fizeram investimentos, mas reconhecem também no outro uma pessoa incrível, que também fez seus investimentos e, a seu tempo e do seu jeito, foi tão incrível que a fez se apaixonar.
3 – O reconhecimento, de si e do outro, como de identidades querendo ser felizes, tira a idéia de vitima, a transforma em agentes: sofreram alegrias e tristezas, causaram alegrias e tristezas.

Hipotético e ideal demais?
Não pense assim!!!
As pessoas, para se livrar de um grande amor, precisam de uma força inversamente proporcional e forte para esquecer, por isso precisam detestar... Pessoas como você descreve não existem?

Ei, pode ir parando!!! Entendo seus argumentos!!!
Não concordo que essas pessoas não existem. Elas somos nós!!! Depende da postura e do olhar que queremos lançar sobre a vida e os fatos; se queremos passar a vida tendo pena de nós mesmos por amores que não deram certo ou reconhecendo em nós o incrível potencial de amar e acumulando com as experiências passadas lembranças e aprendizado. Ou não?

E quais as possíveis conseqüências de uma postura mais resiliente e autruísta diante do amor e das relações que chegam ao fim:

SABER E SENTIR-SE ALGUÉM QUE VIVE COM INTENSIDADE: saber que amaram muito e por isso sofreram muito é um indicativo de intensidade, de que se envolveu e entregou inteiramente no projeto da relação. Chegou ao fim? É uma possibilidade dentre tantas, mas valeu até o último segundo; tanto que doeu quando terminou. Nada de guardar lembranças negativas porque “não foi pra sempre”. O que é o sempre se tudo o que temos é esse segundo de agora? Kkkkkkk... É tudo uma questão de olhar...

SOFRER É CONSEQUÊNCIA DE AMAR MUITO: reconhecer, ao invés de só o que foi ruim, também o que foi bom, dá novo ânimo para amar de novo, pra poder ser feliz de novo, e sofrer, quem está livre disso? Somos seres de relação; reconhecer no outro o elemento que me apresenta a felicidade e a dor me impele, se de fato quero ser feliz, a arriscar as fichas de novo e correr os riscos.

Xi!!! Passaria aqui mais um tempão escrevendo porque adoro os que sofreram no amor...
Resumir o porquê de os amar? Fácil!!!
“Se sofreram muito é porque amaram muito; e se amaram muito é porque sabem se entregar; e sabendo se entregar são capazes de viver relações intensas.”

Por fim, nessa primeira tentativa de lançar olhares sobre nós e nossas posturas, uma prece ao Amor:

Que sejam abençoados os que amam de verdade e acreditam que amar pode ser bom...
Amém

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