sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

OLHARES XIV – Síndrome de Super



Na cultura oriental, a árvore é o símbolo da vida. Nessa imagem, nós, humanos, somos como as árvores: temos nossas raízes fixadas à terra, à essa origem “primitiva” e natural, mas dela nos construímos para o alto, para o céu, para o grande, para a sublimidade...

Bonito isso, né? Inspirador!!!
Mas às vezes levamos isso a sério demais. Kkkkkkk...

Você já percebeu o quanto nunca contamos uma história tal qual aconteceu?
Sei que uma mesma história são várias histórias dentro do mundo de significação de cada pessoa – isso é fato! E tem ainda aquele velho jargão de que “quem conta um conto aumenta um ponto”. Não vou contestar isso! É verdade e é bom! Mas, para efeito de reflexão, gostaria que fixássemos o olhar nas histórias que nos envolvem...

Pensa cá comigo: quem conta uma discussão e constrói essa história de forma a ficar por baixo? Kkkkkkkkkkkk... Não é engraçado como, mesmo que a situação seja totalmente desfavorável, sempre damos uma jeito de triunfar? Kkkkkkkkk... Se o fato é cômico, ampliamos sua comicidade para parecer mais engraçados; Se envolve poder a última palavra foi sempre a nossa, porque “podemos”; se envolve dor, as minimizamos por medo de parecer fracos; se envolve fracasso, quando o admitimos, sempre anexamos aí algum ganho como imagem de compensação de forma a voltar ao topo... kkkkkkkkk...

Não é mais ou menos assim?

É por isso que disse que levamos muito a sério essa história de tendentes à grandeza, à sublimidade... kkkkkkkkkkkk...

A essa tendência de valorização pessoal chamaremos: SÍNDROME DE SUPER.

Aprendemos nas leis sociais e naturais que vencem os fortes. Essa construção de SUPER que fazemos tem por objetivo imprimir na nossa história esse caráter de poder e força de forma a nos fazer reconhecidos, SUPERestimados.

Mas há ainda as circunstâncias onde somos SUPER mesmo. Há momentos na vida onde de fato fazemos valer nossa vocação à grandeza, seja por uma atitude austera, seja por generosidade, seja por ter passado de cabeça erguida por uma situação muito difícil, seja por termos descoberto forças para encarar um grande desafio e termos vencido, seja por termos lutado até a exaustão por um grande amor; enfim... Todos nós reconhecemos, na nossa história, um fato(s) ou um ato(s) do qual nos orgulhamos, que representa de nós para nós mesmos nosso estado de grandeza. Em momentos de estima ruim, adoramos rememorar esse(s) fato(s) buscando retomar nossa grandeza, nosso gosto pelo sublime, pelo alto (como na simbologia da árvore).

Tudo isso BOM e BELO! Há circunstâncias onde somos SUPER mesmo.

Aqui só temos que ter “olhos” atentos a alguns possíveis riscos:
1 – Construirmos a imagem de alguém exageradamente super que vá além das nossas forças reais de forma que essa imagem não se sustente ou que nos tire o direito, tão sublime quanto o de ser SUPER, de NADA ser, de ser carentes, dependentes, FRACOS... Precisamos também reconhecer nossas fragilidades e saber ser fracos de forma a podermos ser supridos nas nossas necessidades e também, por que não dizer, permitir que os outros sejam SUPER no auxílio a nós. Acho mesmo que essa própria compreensão do SUPER como o “que está por cima” embaça nossa visão: é também SUPER “admitir necessitar, precisar, carecer”...

2 – Como vimos, havendo de fato pontos de grandeza nas nossas histórias, o segundo risco gravíssimo que corremos é o da FIXAÇÃO nesses pontos. Ou vocês nunca conheceram HERÓIS DO PASSADO, que passam a vida inteira construindo sua imagem e estima sob pontos heróicos e fatos há muito acontecidos?
Também essa fixação é um risco porque, fixado seu valor, por não reconhecer nada na contemporaneidade que suplante “em grandeza” esse ato passado, o herói pretérito vai agregando ainda mais valor ao fato com o passar do tempo, cegando para outras grandezas contemporâneas as quais não consegue atestar grandeza e valor. Essa fixação embaça nosso olhar para reconhecer grandezas cotidianas e silenciosas, aquelas que não carecem de reconhecimento público por sua singeleza, mas que agregam tanto valor à nossa alma, às nossas relações. Ou ainda, acreditando-nos super por algo do passado, desconsiderarmos o fato de precisarmos ser super também agora, no exato e único momento de ser e fazermos felizes de que dispomos.

3 – Por último, e talvez o mais grave de todos os possíveis erros da grandeza: CEGARMOS PARA A GRANDEZA DO OUTRO. Xiiiiiiiiii!!! Acho que não preciso nem falar muito sobre isso... se cairmos de fato nessa armadilha do ego, a de desconhecermos a grandeza dos nossos heróis cotidianos, veremos a vida perder seu valor, seu encantamento, enfadada num lugar histórico e cronológico desgraçado, sem graça, frio, áspero, amputados do sublime sentimento da GRATIDÃO.

Gratidão a Deus, à vida, aos caminhos que nos trazem nossos heróis... os heróis que nos amam quando precisamos de amor, mesmo quando somos imbecis e ingratos; que nos alegram quando estamos tristes; que nos sustentam quando nos falta o animo; que nos olham com olhar de grandeza e sem palavras agregando a nós até o valor que não temos mas que provêm desses mesmos olhos que contemplam...

Gratidão a Deus e à vida pelos heróis que contam piadas, que seguram na mão pra atravessar a rua, que cantam desafinados para não sair do coro, que dançam sozinhos em casa, que nos ligam na madrugada, que enxugam nossas lágrimas ou choram mais que nós fazendo-nos ter que parar de chorar para socorrê-los (kkkkk... já passou por isso?)...

Enfim, e ao fim, também eu quero prestar minha homenagem e minha gratidão aos meus heróis, já representados em todas as anunciações anteriores (que vocês se reconheçam e nelas se encontrem), aos heróis ligados a mim por laços de sangue e por laços de escolha, que me amam, me aturam, me compreendem (ou não), mas que me estimulam sempre a acreditar no amor, na beleza, na grandeza e na simplicidade... que me estimulam a desejar ser o melhor que posso ser, sem desprezar o meu pior... recebam minha gratidão!!!

E também a todos vocês, que agora lêem essas palavras desacertadas, agradeço por serem SUPER, pelo heroísmo do cotidiano do qual são protagonistas; é bem provável que nunca nos vejamos mas, tenho certeza de que, como corrente, elo, emanação, o BEM feito por um ser, em qualquer lugar do mundo, agracia a humanidade inteira...

Beijos com bênçãos na bunda de todos!!!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

OLHARES XIII – Nunca Vítimas


Você já parou pra pensar como adoramos criar situações que nos permitam posar de vítimas? Não?

Deixa eu rememorar junto a você algumas circunstâncias:

Por que você acha que gostamos tanto de pedir opiniões às pessoas a nossa volta quando temos que tomar alguma decisão? Acha mesmo que é porque as valorizamos? Kkkkkkkkkk... Não que não as valorizemos, não é isso! Apenas, de alguma forma, consciente ou inconscientemente, estamos imputando nosso poder de decisão ao outro para, dando algo errado, olharmos para nós mesmos com ares piedosos e dizer: “se eu não tivesse ido pela cabeça de fulano teria dado certo...”.

E existe ainda aquelas vezes aonde envolvemos no processo o Todo Poderoso... kkkkkkkkkkk... Nunca fez isso não? Nunca ouviu a expressão: “foi Deus quem quis”? Ou: “Deus quer assim”? Acho essa a vez em que mais pegamos pesado nessa coisa de nos construirmos vítimas, não acha? Sendo Deus sabedor de tudo, o incontestável, quem pode ir contra Ele? Imputando o poder das nossas decisões a “suposta” vontade de Deus estamos, de antemão, nos vitimando no nosso poder de decisão e nas conseqüências disso, afinal – Deus quis!!! Kkkkkkkkkkkkkkk (sacanagem colocar o Grande nas histórias, diga aí?!).

Sei que você é criativo(a) e vai pensar uma série de outras circunstâncias aonde criamos as condições de poder, ao fim, posarmos de vitimas...

Agora sim, depois de levantadas as questões todas referentes à nossa ridícula mania de nos fazermos de vítimas proponho nosso olhar de hoje: Nunca somos vítimas!!!

E estou dizendo: nunca mesmo!!!
Entenda-se: nunca quando a situação for referente às nossas escolhas. Somos vitimados por atitudes de outras pessoas ou intempéries da natureza, afinal, não escolheríamos em sã consciência adoecer, sofrer acidentes, escutar palavras grosseiras, e assim por diante. Repito: nunca somos vítimas quando as circunstâncias nos remetem às nossas escolhas. Entendido?

Voltando aos nossos dois exemplos anteriores, quando nos fizemos de vítima...
No primeiro, quando adoramos captar informações e conselhos que nos permitam culpar alguém que não nós mesmos no final, especialmente se algo der errado, não temos razão para ser vítimas!!! Queremos nos fazer de vítimas por acreditar, burramente, que deixamos os outros decidirem por nós, e isso nunca vai acontecer!!! Deixa eu provar: ao pedir a opinião de alguém, mesmo que seja diferente da nossa, ao decidirmos seguir esse conselho ou opinião, estamos DECIDINDO por isso; LIVREMENTE ESCOLHEMOS abrir mão da nossa própria opinião para nos dedicarmos à outra que, sendo escolhida, abraçada por nós, passa a ser nossa própria escolha e decisão.

Algo semelhante acontece quando somos inteligentes o suficiente para abraçar uma grande idéia de alguém. (Disse inteligentes por haver quem só seja capaz de abraçar e fazer acontecer suas próprias idéias, o que é um total atestado de ignorância, para não dizer pouca inteligência ou burrice mesmo). Ao termos contato com uma grande idéia, concordando com ela, caindo ela como luva nos nossos ideais e princípios, de certa forma ela passa a ser nossa também porque, livremente, concordamos com ela. Não sei se ficou claro, mas tentei!!!

E ainda tem a questão do Todo Poderoso... Essa sim me irrita, juro!!! Gente, pelo amor do Amor, como poderia o autor supremo do livre arbítrio tramar contra ele? É ilógico isso!!! Não existe ser mais respeitoso quando a nossa vontade e escolha que o Todo Poderoso!!! A questão é que adoramos usá-lo como argumento de autoridade: se nossa escolha nos traz boas recompensas afirmamos ser a resposta de Deus por termos escolhido o que Ele queria; e se nos traz alguma dor afirmamos o ser sua forma de nos educar nos fazendo passar, impreterivelmente, por alguma dor.

Deveríamos nos envergonhar!!! De Deus só pode provir o bem, o bom, o belo... essa história de os bons acontecimentos serem respostas de Deus a termos FEITO sua vontade é falaciosa – Deus nos abençoa sempre, seja qual for a escolha que fizermos; errando ou acertando, o Todo Poderoso sempre estará lá nos abençoado e cuidando. As dores do percurso nada tem haver com Ele, são conseqüências das nossas escolhas; tem haver sim, ao seu respeito supremo à soberania da nossa vontade não mudando os acontecimentos e as respostas que recebemos diante das nossas ações. E, se retomarmos o exemplo anterior, ao conhecermos a vontade de Deus, fazendo-a, estamos escolhendo livremente fazê-la, o que a faz nossa própria vontade.

Acho que ficou bem claro que, em se tratando das nossas escolhas, NUNCA SOMOS VÍTIMAS!!!

Pensar assim nos livra de melindrices desnecessárias; nos faz mais responsáveis por nós mesmos e nossas escolhas. Se algo der errado, ao invés de culparmos os outros, avaliamos nossas escolhas e voltamos ao planejamento.

Pensar assim nos ensina a olharmos a incrível variedade de possibilidades que a vida nos apresenta todos os dias e em cujas escolhas vamos nos formando, nos fazendo, nos construindo.

Não implica que não sofreremos, disso não se foge. Não implica em acertar sempre – ensaio e erro faz parte de todo aprendizado – aprender a andar de bicicleta sem ter um raladinho em cicatriz pra contar a história não tem a menor graça, tem? Kkkkkkkkkk...

Aprendamos a caminhar de cabeças erguidas, de posse da soberania das nossas escolhas e da nossa liberdade, e “quase nunca” vítimas... (decidi escrever quase nunca porque, ahhhhh, um denguinho de vitima pra conseguir uns beijinhos também faz bem, né? Kkkkkkkk...).

Grande beijo pra vocês e até nossa nova postagem – SÍNDROME DE SUPER.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Descompassado

(Peço licença para, entre nossos olhares, olhar um pouco pra mim em descompasso...)

Que dia é hoje? E que horas são?

Por que será que ando sempre tão descompassado?

Às vezes acelerado demais, outras lento demais...

Mas indo... para algum lugar no futuro: longe ou breve...

Quantas vidas será que ainda posso viver?

Quantos ainda posso ser?

Pode o amante não infundir-se um pouco na coisa amada?

Acho que fiz tudo MUITO, sob ares de sobriedade: sorri muito, chorei muito, sonhei muito, amei muito... Fui sempre muito excessivo; e que bom que fui!!! Kkkkkkkk...

Mas todo excesso tem seu preço...

Emprestei-me... Dei-me... uni-me... infundi-me... em tudo e todos... Mas o excesso gastou antes do previsto todas as minhas reservas...

Espalhei-me em tantas partes a perder de vista que quase me perco por completo...

Magoei-me comigo mesmo por ter-me deixado quase extinguir; Não me vi sumir, e ninguém também viu...

Tive que implorar às minhas partes seu retorno, porque queríamos ficar exatamente onde estávamos, porque ali estávamos por escolha e amor... Tive mesmo que ser persuasivo afirmando que, morrendo a raiz não haveria mais ramos...

E assim fizemos um processo decrescente: retrocedemos, devagar, definhando até sermos novamente um, semente, âmago, ânsia, projeto...

Fazia tanto tempo que nem me lembrava mais como é estar completo... a lembrança mais próxima dessa sensação que tive foi resgatada na infância, quando era completo em tudo e a todo momento...

Foi tão estranho me encontrar de novo... abracei-me com tanta força e calor como se não me visse a muito tempo, como se sentisse muitas saudades de mim sendo eu mesmo... kkkkkkkkk...

Sempre tive uma relação estranha com espelhos; vira e mexe me pegava assustado ao me sentir envolvido por um olhar que é meu ao fitar-me de súbito nos espelhos de lanchonetes... kkkkkkkkk... Estava sempre a um fio de me apaixonar por mim mesmo.

Acho que isso, afinal, aconteceu: estou apaixonado... Escuto músicas mais de 10 vezes seguidas, suspiro, gosto de ficar comigo, danço sozinho... sintomas de paixão, né? Só que por mim mesmo!!!

É estranho, confuso, egoísta, engraçado, natural, bom, tranqüilo...

É um grande não dito como tantas outras coisas extraordinárias e cotidianas que se processam em nós sem encontrar tradução nas palavras...

Se me pedissem para dizer tudo o que dito aqui em poucas palavras diria: é existir; é ser gente; só!

Um grande viva a quem somos, à vida, à Deus e a todo o encantamento!!!

domingo, 16 de janeiro de 2011

OLHARES XII – Quando o passado é presente

Entrei numa discussão com um amigo noutro dia... Rememorávamos amores e lembranças do passado... Aí caí na besteira de dizer que um dado amor do passado ainda era muito presente pra ele... kkkkkkkkkkkk... Mas não é que ele queimou ruim?! Eu e essa mania de me meter onde não sou chamado...

Entendo ele ter estranhado as minhas palavras porque, por nossa unidade de alma, acompanhei de perto suas emoções e decisões quando desfez as malas e desatou os nós; de certa forma, depois de acompanhar o processo, dizer que algo do passado, a tempos já sepultado, é presente, faz parecer que o chamei de mentiroso. Mas não é assim!!! Ficou para trás, eu sei!!! Mas disse pra ele e decidi elucidar aqui pra vocês num novo olhar: quando o passado é presente.

Pense comigo: fisiologicamente falando, cada novo pensamento, cada nova idéia, produz uma construção neural nova; é com base nisso que funcionam as terapias, na formação de uma construção neural positiva por sobre aquela que causava dor, e assim por diante.

Não expliquei nada?

Kkkkkkkkkkkkkkk... Desculpe-me!!! Ainda estou sob efeito da estafa... disparatado...

Mas vamos continuar...

Falávamos de passado. Entendemos passado sob a ótica do tempo cronológico apenas, e isso é mal. Arrisco-me a dizer que existem outros tantos tempos, como o pessoal, o emocional, o intelectual... cada um com seu próprio dinamismo!!!

Acho mesmo que, aqui nesse olhar, vamos levar em conta os tempos cronológico e emocional... Existiram acontecimentos num tempo passado, isso é fato, é tempo cronológico. Esses acontecimentos nos causaram emoções especificas no instante em que aconteceram e essas emoções foram registradas em nossa alma (ainda tempo cronológico, mas com um instante de inscrição de tempo emocional – aí simultâneos). Até aqui fácil de entender... mas é justamente nesse ponto que está o entrave que nos proponho olharmos mais de perto.

Lembra daquele papo de construção neural? Pois é, vamos retomá-lo aqui.

Ao recordarmos alguns acontecimentos do passado, recordamos apenas o fato, e ponto; as emoções ligadas a ele se perderam... nesse caso são apenas lembranças mesmo... um passado que ficou no passado!!! Mas quando essas lembranças trazem consigo emoções, sempre que as temos, sempre que revivemos, mesmo subjetivamente, essas emoções, estamos as atualizando como uma construção neural presente; essas emoções e os acontecimentos ou pessoas que as motivaram no passado vão sendo atualizadas e, atualizadas, trazidas de novo para a contemporaneidade das nossas emoções, se inscrevem no nosso presente.

Não sei se consegui explicar ou só complicar, mas acho importante pensar nisso. Há vezes em que achamos que deixamos algumas coisas definitivamente para trás, como amores e dores, achamos mesmo estar livres e, sem perceber, vivemos a arrastá-los e atualizá-los vezes sem fim, impedindo a nós mesmos de progredir, seguir, viver novas emoções...

Acho também importante salientar que não se pode deixar tudo para trás; algumas emoções precisam mesmo ser atualizadas, especialmente aquelas que encantam nossa alma, dão vigor e motivam a vida; especialmente aquelas que revelam o quanto fomos felizes; aquelas que nos fazem desejar viver mais e melhor; aquelas que nos motivam uma profunda gratidão a Deus e à vida.

No fundo no fundo essa é uma tarefa meio complicada; é como fazer as malas... kkkkkkkkkkk... temos um punhado de roupas mas não sabemos ao certo quais selecionar, de quais vamos precisar, não é mesmo? Às vezes levamos roupas que nem usamos e, na maioria das vezes, acabamos por sair com a impressão de ter esquecido de trazer alguma coisa (o que pode se confirmar ou não).

Não existe um manual!!! Apenas, acho importante andarmos leves, sem pesos desnecessários, deixando para trás o que não convém mais carregar e levando na nossa malinha de quinquilharias apenas essências.

Que saibamos andar leves...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

OLHARES XI – Quando sepultamos os vivos

Meio sinistro isso, né?

Eu também acho!!!

Mas descobri que é assim mesmo que acontece, exatamente assim, acompanha comigo:

Ao nos conhecermos, abrimos um espaço dentro dedicado ao outro, morada do outro, imagem do outro (e assim também acontece para o outro e cada um). Esse lugar não existia desde então, não é um espaço vazio a ser ocupado. É novo!!! Surge do encontro, da troca, do afeto, das emoções partilhadas... é o lugar onde inscrevemos o outro dentro de nós (e nós nos outros).

Esse lugar pode ser a habitação eterna de alguém dentro de nós. Essa imagem do outro que dentro inscrevemos pode também, ao longo do processo, passar por mudanças, reformas, adaptações – isso é bem natural.

Mas há situações onde as relações humanas assumem um rumo negativo. E é justamente aí que proponho o olhar de hoje.

Na verdade, quando agredimos os outros com nossos escuros, estamos matando um pouco a nossa imagem subjetiva dentro dele, estamos exterminando um pouco de nós mesmos dentro do outro. Sendo assim, quando agimos de forma não digna, desrespeitosa, arrogante, estamos, sem saber, produzindo um suicídio, já que, por escolha ou falta de sensibilidade, matamos a nós mesmos, a nossa imagem subjetiva no outro (ou a do outro para nós).

E por que a pessoa agredida sente dor, sofre, se a mutilação é feita de alguém para com sua própria imagem?

Simples!!! Lembra do espaço que passou a existir a partir do encontro dessas duas pessoas? Pois é! Ele não existia antes, mas depois de aberto, vai existir pra sempre, e como é um lugar feito sob medida para alguém, não pode ser ocupado por mais ninguém...

Nisso a dor: havendo de fato uma tal agressão de alguém à sua imagem dentro do outro há a morte da subjetividade dentro... a esse outro só resta duas escolhas – carregar aquela imagem morta dentro, velando-a, vendo-a apodrecer, ou sepultá-la.

Há quem carregue cadáveres dentro para sempre, chorando eternamente a esperança de que reviva a imagem que ali já não existe mais, isso é verdade! Essas pessoas carregam, junto aos seus cadáveres interiores, mágoas, ressentimentos, dores, tristezas...

Mas há também os que, confirmando óbito daqueles que se mataram aos poucos em nós, tomam a firme resolução de sepultar. E dói, dói muito, dor mesmo semelhante a que se sente ao perder alguém na morte real, só que assim chora-se a morte e sepulta-se alguém que continuará vivo, mas que já não mais participará da sua vida. Acredito mesmo que esse seja o motivo da dor: o espaço vazio e ocioso que esse sepultamento causa, porque, não existindo esse espaço antes, passando a existir e sem poder ser ocupado por mais, com a morte e o sepultamento, ficará vazio...

Depois do sepultamento vive-se um inevitável luto, necessário à contemplação de uma trajetória que existiu desde a abertura daquele espaço até o seu esvaziamento...

E, nesse ponto, mais uma reflexão: algumas pessoas são tão egocêntricas e egoístas que passam pela vida sem se dar conta dessa incrível mágica subjetiva que acontece quando duas pessoas se encontram; por desconsiderá-la, vivem a matar-se nos outros e a deixar morrer dentro de si acumulando cadáveres e vazios...

Aqui um desejo: que saibamos celebrar a vida, dentro e fora!!!