terça-feira, 11 de janeiro de 2011

OLHARES XI – Quando sepultamos os vivos

Meio sinistro isso, né?

Eu também acho!!!

Mas descobri que é assim mesmo que acontece, exatamente assim, acompanha comigo:

Ao nos conhecermos, abrimos um espaço dentro dedicado ao outro, morada do outro, imagem do outro (e assim também acontece para o outro e cada um). Esse lugar não existia desde então, não é um espaço vazio a ser ocupado. É novo!!! Surge do encontro, da troca, do afeto, das emoções partilhadas... é o lugar onde inscrevemos o outro dentro de nós (e nós nos outros).

Esse lugar pode ser a habitação eterna de alguém dentro de nós. Essa imagem do outro que dentro inscrevemos pode também, ao longo do processo, passar por mudanças, reformas, adaptações – isso é bem natural.

Mas há situações onde as relações humanas assumem um rumo negativo. E é justamente aí que proponho o olhar de hoje.

Na verdade, quando agredimos os outros com nossos escuros, estamos matando um pouco a nossa imagem subjetiva dentro dele, estamos exterminando um pouco de nós mesmos dentro do outro. Sendo assim, quando agimos de forma não digna, desrespeitosa, arrogante, estamos, sem saber, produzindo um suicídio, já que, por escolha ou falta de sensibilidade, matamos a nós mesmos, a nossa imagem subjetiva no outro (ou a do outro para nós).

E por que a pessoa agredida sente dor, sofre, se a mutilação é feita de alguém para com sua própria imagem?

Simples!!! Lembra do espaço que passou a existir a partir do encontro dessas duas pessoas? Pois é! Ele não existia antes, mas depois de aberto, vai existir pra sempre, e como é um lugar feito sob medida para alguém, não pode ser ocupado por mais ninguém...

Nisso a dor: havendo de fato uma tal agressão de alguém à sua imagem dentro do outro há a morte da subjetividade dentro... a esse outro só resta duas escolhas – carregar aquela imagem morta dentro, velando-a, vendo-a apodrecer, ou sepultá-la.

Há quem carregue cadáveres dentro para sempre, chorando eternamente a esperança de que reviva a imagem que ali já não existe mais, isso é verdade! Essas pessoas carregam, junto aos seus cadáveres interiores, mágoas, ressentimentos, dores, tristezas...

Mas há também os que, confirmando óbito daqueles que se mataram aos poucos em nós, tomam a firme resolução de sepultar. E dói, dói muito, dor mesmo semelhante a que se sente ao perder alguém na morte real, só que assim chora-se a morte e sepulta-se alguém que continuará vivo, mas que já não mais participará da sua vida. Acredito mesmo que esse seja o motivo da dor: o espaço vazio e ocioso que esse sepultamento causa, porque, não existindo esse espaço antes, passando a existir e sem poder ser ocupado por mais, com a morte e o sepultamento, ficará vazio...

Depois do sepultamento vive-se um inevitável luto, necessário à contemplação de uma trajetória que existiu desde a abertura daquele espaço até o seu esvaziamento...

E, nesse ponto, mais uma reflexão: algumas pessoas são tão egocêntricas e egoístas que passam pela vida sem se dar conta dessa incrível mágica subjetiva que acontece quando duas pessoas se encontram; por desconsiderá-la, vivem a matar-se nos outros e a deixar morrer dentro de si acumulando cadáveres e vazios...

Aqui um desejo: que saibamos celebrar a vida, dentro e fora!!!

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