sábado, 26 de dezembro de 2009

ESPECTADOR


Esse foi um ano incrível!!!
Meio sem querer acabei por abraçar uma empreitada fantástica de trabalho pessoal; nele descobri o real significado da pobreza evangélica: “Trabalhar muito, mas não pelo enriquecimento pessoal, e sim pelo enriquecimento da humanidade...”; e o instrumento de trabalho não poderia ter sido outro – A ARTE! Esse bem de todos e para todos...

Aprendi muito!!! De mim mesmo e das minhas potencialidades ocultas, e também dos outros à minha volta... Aprendi do que é inerente a todo ser humano num complexo sistema de relações humanas que me enriqueceu muitíssimo...

Por outro lado, toda grande façanha tem seu ônus... essa também teve!!!

Para poder dar cabo a todas as exigências da missão a que dediquei minh’alma precisei cair na estrada por muitas vezes, e por muitas vezes me ausentei das vias a que estava acostumado a trilhar; o resultado disso: COBRANÇAS!!!

“Você não para mais em casa!”; “Só vive no mundo!”; “Já não podemos mais contar com você!”; “O que você quer da vida? Isso não te dará nada!!!”...

Rrsrsrsrsrs... Tudo isso é muito engraçado!!! Descobri, no decorrer de todos esses discursos, que as pessoas se acostumaram a me ter como ESPECTADOR das suas vidas, uma presença garantida na platéia para aplaudir suas vitórias, apoiar nas derrotas, ou apenas para estar ali, compondo público, engrossando fileiras para dar-lhes sensação de segurança... ou ainda como cenário ou pano de fundo para suas realizações...

Costumamos brincar que, em cada apresentação, precisamos de alguns familiares e amigos na platéia para aplaudir... que aplausos são uma espécie de torpor coletivo – um começa e logo todos fazem... kkkkkkkkkkkkkk... Mas não imaginei que uma brincadeira tão tola fosse se apresentar de forma tão característica na vida real.

De fato, acho mesmo que colaborei com tudo isso; sempre tive grande prazer em ser mesmo esse espectador, assistir, ver, reconhecer as enormes virtudes e feitos das pessoas junto a mim, e valorizá-los, alegrar-me com eles na simplicidade dos nossos laços. Por causa disso acabei por me tornar adereço em suas vidas, como um vaso que se tem na sala a anos, tantos que já nos habituamos tanto a ele que passamos sem o ver e só passamos novamente a notá-lo quando já não está mais no lugar de costume...

Reclamam que eu viva suas vidas... Mas a minha, quem vai viver?

Só tenho o curto período dessa vida para me tornar uma das pessoas mais felizes que esse mundo já viu, e uma empresa tão grande como essa precisa de mim todo empenho e dedicação!!! E não posso delegar a outros funções que cabem tão somente a mim... Ninguém é feliz no lugar de ninguém; mas podemos sim ampliar nossa felicidade quando, além da nossa própria, sabemos nos alegrar com a felicidade dos outros... mas essa é uma arte que não posso exigir...

Quanto a ser um espectador, essa é coisa que não sai de nós, uma vez aprendida é para sempre. A diferença hoje é que, para alguns, não estou na primeira fileira; para outros nem na platéia; mas ainda sei ler nos jornais sucesso de público e crítica, e ainda posso mandar flores... Um amigo disse há pouco que, das flores que mando, os espinhos chegam sempre primeiro. De fato, as rosas, flores superiores, vem associadas a espinhos; mas posso também enviar algumas margaridas – flores menos nobres, mas sem espinhos; ou, com muito esforço, algumas flores de plástico – não tem espinhos e ainda garantem não murchar no caminho – a pena é que não podem ser desidratadas e guardadas dentro do nosso livro preferido marcando e perfumando nossa página preferida... mas há quem prefira essas!!! É preciso respeitar os gostos, não é mesmo?

Já o disse não sei onde, mas agora repito: minha esperança é que, o que tenha se inscrito de verdadeiro, esteja num lugar da alma onde não possa ser apagado...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Etiquetados


Código de barras...
Número de série...
Manual de instruções...
Produção em massa...
Quem foi que disse que essa droga serve pra seres humanos?


Vivemos lendo bonitas mensagens e teorias que falam da individualidade, da identidade única de cada ser... mas na prática uma grande mentira, e estou cansado de palavras...
Somos diferentes mesmo!!! Isso não é teoria, é realidade!!! Totalmente diferentes...

Existem igualdades? Sim! Talvez, sendo bem geral e simplista, apenas uma... Aquela da igualdade de direitos é uma grande balela, não é essa!!! A única igualdade entre todos os seres é que “TODOS QUEREMOS SER FELIZES”... podem até haver outras, mas no momento não me chegam.

Mas até nessa idéia de felicidade a burrice da idéia de produção: tendemos a escolher situações e comportamentos já padronizados, por uma certa idéia de domínio de suas variantes; é como que os temperamentos, comportamentos, situações, já conhecidas e catalogadas viessem com um manual de instruções fazendo com que a gente tenha idéia de domínio, posse, superioridade.
Por causa disso, pela falsa idéia de poder que os padrões nos trazem, acabamos por querer catalogar tudo, estereotipar tudo, e imprensar tudo nas parcas forminhas que entendemos de vida e felicidade.

Por que vocês acham que temos tanta dificuldade com o novo? Com o diferente?
Porque isso nos tira do domínio! Faz a gente achar que não sabe tudo e ainda tem a aprender...
Ou simplesmente revela nossa mediocridade em caminhar seguindo os passos já pré-estabelecidos, como se isso pudesse economizar esforços, como se não fosse um esforço sobre-humano amar com sentimentos e emoções que não são nossas, de outro coração, ou ser felizes com uma felicidade pré-moldada.

Aí estamos nós, amigos: etiquetados!!! Com aquele selinho de controle de qualidade que categoriza o produto quanto mais fiel ele seja aos padrões e a idéia que se fazia previamente dele... Eu vou sempre para o refugo! Kkkkkkkkkk...

Não estou aqui arrotando respeito às individualidades; minha indignação não é menor comigo mesmo e com a “macro porção” de ridículo que me compõe; apenas quero gritar coisas que nem mesmo sei agora... subir num lugar alto e gritar qualquer bobagem, pelo prazer de gritar...
Acho que sou do tipo ridículo-idealista que ainda acredita em “NOITES COM SOL”...

http://www.youtube.com/watch?v=ScmCkiC56tM

Noites Com Sol
Composição: Flávio Venturini / Ronaldo Bastos

Ouvi dizer que são milagres
Noites com sol
Mas hoje eu sei não são miragens
Noites com sol
Posso entender o que diz a rosa
Ao rouxinol
Peço um amor que me conceda
Noites com sol
Onde só tem o breu
Vem me trazer o sol
Vem me trazer amor
Pode abrir a janela
Noites com sol e neblina
Deixa rolar nas retinas
Deixa entrar o sol
Livre será se não te prendem
Constelações
Então verás que não se vendem
Ilusões

Vem que eu estou tão só
Vamos fazer amor
Vem me trazer o sol
Vem me livrar do abandono
Meu coração não tem dono
Vem me aquecer nesse outono
Deixa o sol entrar
Pode abrir a janela
Noites com sol são mais belas
Certas canções são eternas
Deixa o sol entrar

domingo, 8 de novembro de 2009

O MENINO DE PIJAMA LISTRADO


Acabei de ver um dos melhores filmes que já assisti nos últimos tempos: O MENINO DO PIJAMA LISTRADO.

Ainda não tenho como definir o que estou sentindo...
É tanta coisa misturada aqui dentro...

Sinto que o mais vil e medíocre do humano me habita juntamente com o mais sublime... E tenho medo de não saber escolher o certo...

Por muitas vezes ouvi ou li exortações sobre a inocência, mas não compreendi porque me deixei levar pelo senso comum onde “inocência” é sinônimo de tolice, inferioridade, pouca inteligência ou incapacidade para lidar com as coisas da vida e do mundo.
Quanto engano!!!

O Senhor não recusa os seus bens àqueles que caminham na inocência. (Salmos 83,12)

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
(São Mateus 5,8)

Jesus, porém, chamou-as e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas. (São Lucas 18,16)


A inocência proclamada no livro santo é, antes de tudo, um mapa para a sublimidade.

Deus é muito mais do que Dele já foi ou será dito, e O experimentamos, mesmo que de parte Dele, nas nossas emoções mais ternas; para nós elas parecem muito grandes e nos causam tanta felicidade, e são uma ínfima parte da experiência de Deus, imagina se O pudéssemos experimentar em sua plenitude?

“os puros de coração verão a Deus (...) porque o Senhor promete seus bens aos que caminham na inocência (...) abre as portas do seu reino aos que guardam em seus corações as delicadezas de um coração de criança...”

Queria tanto poder dizer isso tal qual sinto, mas não consigo, e essa incapacidade me constrange...

Oxalá pudéssemos reeducar nosso coração, nos olhos, nossa sensibilidade, para a beleza, para as alegrias sutis, para a simplicidade... só assim veríamos a Deus em tudo, em todas as coisas, no outro e em nós mesmos. Não seria essa uma tarefa tão difícil porque já a experimentamos quando crianças: imaginação fértil, coração vibrante, intensidade de sentimentos, rapidez em perdoar e esquecer, alegria nas pequenas coisas, uso dos sentidos para apreensão de tudo á nossa volta: dias de chuva, manhãs de sol, finzinho de tarde, noite estrelada; dormir com o irmão mais velho, segurar na mão, café na casa da vó, férias com os primos; ver filme e pegar no sono, escutar música e dançar sem preocupação; comer com as mãos e lamber os dedos; adorar a presença de outras crianças e bajular os menorzinhos... experimentar Deus em tudo...

Mas não podemos desconsiderar nossas outras habilidades: a de sermos carrascos, invejosos, mentirosos, interesseiros, agressivos, maliciosos...

O fruto da árvore do “BEM e do MAL”está dentro de nós. Frutos guardam sempre sementes. Somos dispersores de sementes e as plantamos sempre por onde passamos... resta saber se temos escolhido as sementes adequadas, se do bem ou do mal...
Tenho medo de não saber escolher as certas...

Mas que Deus nos infunda de seu Santo Espírito para que possamos guardar a inocência, entendida como deve ser: capacidade de escolher segundo o bem, segundo o coração de Deus.

domingo, 25 de outubro de 2009

ACEITO ou AMADO?

SE QUER SER ACEITO, é simples a receita!
Eu disse simples, é verdade, pela fácil execução...

Leia e pratique:
1. Diga meia dúzia de tolices e faça os outros sorrirem – dá sempre certo;
2. Também ria das tolices dos outros – é importante também;
3. Tente parecer menos inteligente – as pessoas em volta vão adorar te ter por perto para alimentarem seus egos achando que são mais do que você;
4. Fale de assuntos gerais: música e TV – no mínimo, para não ficar por baixo, as pessoas vão comentar o assunto como se estivessem super por dentro e, afinal, sobre musica e TV, todo mundo sempre tem algo a dizer;
5. Elogie o quanto puder, mesmo quando pensar do contrário – a grande maioria das pessoas adora eles (elogios e bajulações), e vão, conseqüentemente, te manter por perto para recebê-los.
6. Não demonstre seus sentimentos – demonstrar que tem dúvidas, inseguranças e medos vai criar de você uma imagem de fraco;
7. E nunca, entendeu? Nunca dê sua opinião sobre nada! As pessoas reagem muito mal a opiniões contrárias – prefira o silêncio como direito de resposta: “Sinceramente, não sei o que dizer...”, “Nunca pensei sobre isso...”, “Prefiro não comentar” são sempre ótimas respostas; e, se muito pressionado, escolha uma resposta que te deixe em cima do muro e com a possibilidade diplomática na mão de, num momento de tensão, poder ficar dos dois lados cindidos.


Fácil, não é?
Em pouco mais de meia dúzia de dicas o mapa da mina da felicidade social.



Mas se quer ser amado.
Ah! SE QUER SER AMADO... é uma apenas a dica, embora de difícil execução:

1. SEJA VOCÊ MESMO.

Fácil?
Engano seu!
Essa dica esconde um grande erro.

O “seja você mesmo” entrou em consenso como um “vão ter que me engolir”, e não é bem assim!

De fato, o seja você mesmo é um grande “assuma quem é!”. Isso significa tomar posse, de forma consciente do que você é, deseja e tem a oferecer. Mas também uma consciência das suas “deficiências”. E aí não é só jogá-las sobre os outros, mas fazer o, por que não dizer doloroso, exercício de melhoramento.

É uma grande questão a arbitrar:

Usar da “tecnologia relacional” para ser ACEITO, e conseguir, sem arranhões, chegar ao pódio com um montão de gente para aplaudir, e congratular de si mesmo apenas a capacidade de agradar...

Ou

Se olhar com verdade, criar uma mais aproximada possível consciência de si, valorizar os claros, iluminar os escuros; com muito esforço e muitas cicatrizes, talvez poucas pessoas para aplaudir, chegar ao pódio, esgotado, e congratular-se por inteiro... e ser AMADO.

E aqui não há uma questão de julgamento! Apenas uma questão de escolha a qual eu respeito.


Cada um tem sua própria noção de felicidade, e deve mesmo buscá-la sabendo-se sempre e inteiramente responsável pelas conseqüências de suas escolhas.


De forma muito pessoal, eu também sei agir para ser aceito, embora nem sempre use do método e esteja mesmo disposto a usá-lo para com uns ou outros. Ser aceito nunca foi meu forte, sempre quis, e quero, ser amado. E quero amar também! Claro que quero! Mas não consigo amar imagens... Só consigo amar pessoas reais.


Por causa disso tenho ouvido, das formas mais polidas: VOCÊ EXIGE DEMAIS DAS PESSOAS!
Isso me entristeceu sobremaneira... Mas agora posso assumir: É VERDADE! EXIJO MESMO!


Por mais excelente que seja a imagem, sempre me soa medíocre. Prefiro os realmente fracassados aos aparentemente vitoriosos. Porque sendo pó posso descer ao pó e amar o pó, mas não posso amar uma imagem sabendo-a tão irreal. Mas me comprometo a ACEITAR.

ACEITO ou AMADO?
Aqui parece tudo muito diferente, mas não é! Existe um tênue limite de separação real na prática. Nem eu mesmo sei onde fica essa separação, confesso. Mas uma coisa eu sei: QUERO SER AMADO, nem outro de mim, nem uma máscara bem elaborada – EU, inteiro!

Essa certeza já me basta!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

NA PORRADA!!!

Viver deveria ter um mapa... seria mais fácil! Eu, embora enxergue facilidade nessa opção, com certeza não usaria o meu... kkkkkkkkkkkkkkkkk...

Acho mesmo que o mais bacana é o imprevisível e as respostas e ajustes que ele exige de nós diante das mais diversas circunstâncias...

Das relações humanas aprendi, alguns anos atrás, que a agressividade é o caminho, com o velho e odiado Fábio Cobra. No show das nossas asperezas aprendemos a olhar e ter segurança no que está por trás delas...

De repente, na contemporaneidade das minhas relações, acreditei mesmo que o afeto era o caminho mais curto entre qualquer pessoa e eu... por causa da intrínseca relação entre o afeto e o acesso de qualquer pessoa a minh’alma; mas fui constrangido nessa minha concepção e valores: acreditando ter que me desculpar pela ausência dele (afeto) nas minhas relações, vi-me quase que em vias de desculpar-me por ele.
Esse foi um choque de realidade muito sofrido para mim.
Não queria ter que me desculpar por querer bem, preferiria mesmo me desculpar pelo contrário; me dói menos... então, redescobri o caminho da agressão.

De cara foi triste, porque ainda queria abraçar, querer bem, e frustrar esse pulso afetivo exigiu de mim muita energia; mas as respostas prontas nas relações, tão estereotipadas, me estimularam às farpas, e como foi bom!!!

Não poupei nenhuma nem ninguém, de caso pensado, e logo justifico o porquê. Acho mesmo que vou usar dois exemplos pela sua semelhança: o perninha podre e o gordo do olho junto. Kkkkkkkkkkkkkkk...

Gosto bastante desses dois (in)amigos, mas não ando admitindo isso sempre nem muito facilmente... kkkkkkkkkkk... Em comum, eles carregam uma característica que me falta em sua totalidade: a arte diplomática! Nela, as coisas e relações parecem ter padrões e limites muito bem estabelecidos, respostas pensadas e polidas... Muito bacana! Preciso aprender para o bem do meu “bebedor de lavagem”! Mas prefiro que os que amo não usem dessa habilidade comigo!!!
Não é fácil querer bem ao gordo ridículo e ao perninha podre, custam a nos dar acessos além da sala de estar... escolhi mesmo odiá-los.

Por quê? Oras! Muito fácil explicar: gosto deles e sei que gostam de mim (mesmo que, como eu, não admitam isso nem sob pena de morte). E por isso, pelo bem que nos une, me nego a receber suas respostas humanas e afetivas pré-fabricadas. Os odeio para sairmos dos padrões e vivermos relações que exijam respostas mais puras e fora deles; relações onde não precisemos ser bons sempre, nem sensatos sempre, nem certos sempre, mas onde fique claro o que há para além de tudo isso e justificando tudo: o bem que nos une.

Acho mesmo que estou aprendendo o que queria dizer Tereza D’ávila ao anunciar de Deus: "Ó laço que juntais coisas desiguais/não desateis o que atais, pois atando forças dás/ pro bem até aos ais".
Pelos acessos humanos permitidos e aos negados nessa incrível, maravilhosa e imprevisível arte de se relacionar, agradeço aos meus amigos... digo INIMIGOS!!! Kkkkkkkkkkkk...
Façam um esforço! Sei que a voltagem de vocês ainda prescinde de fusíveis, mas... façam um esforço! Sou chato e ridículo o suficiente para não perder meu precioso tempo com o que ou quem não amo. O que entender então do tempo em que me ocupo em odiá-los?

A todos os que me amam no que resta de nós quando cessam as palavras e gestos e falam apenas os olhos delatando-nos no que trazemos dentro o meu amor e minha gratidão.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quando todos dormem

Sofro uma espécie de maldição ou benção, ao certo não sei... Sei que acordo quando todos dormem...
À medida que o mundo se recolhe, minh’alma cresce e se expande, e sai... Parece mesmo que se torna maior que o mundo porque todo ele cabe nela...
Sai como se pudesse tocar os que ama e dormem, confidenciando o que não lhes pode segredar acordados...
Sai e abraça tudo num grande ósculo de fraternidade e posse... ama tudo e todos como se cada um fosse seu...
Quando é dia e todos se acordam, não é que minh’alma durma, ela se recolhe... sabe pouco do concreto, do palpável, do que tem preço e origem definida... então apenas cala... e me amordaça...
Mas quando volta a noite... Ah! Quando volta a noite e todos dormem, ela acorda, solta-se, liberta-se... Porque só sabe de sonhos, de subentendidos, de gritos ocultos no silêncio, de amores que a razão não se permite...

Ah, noite! Grande campo onde sou...

Noite dos apaixonados...
Noite onde toda doença parece piorar, seja as da alma ou as do corpo...
Noite das insônias... dos sonhos e dos pesadelos...
Noites com estrelas e sem elas...
Noite do loucos... das pessoas do submundo...
Noite escura da alma, confusa por tanta claridade vinda da origem da vida e de tudo...

Quando todos dormem, a noite canta sua canção de ninar, e parece mesmo que me leva em seus acordes tanto mais longe consiga ir... e, às vezes, me leva tão profundo e longe que luto com o sono para não ter que tão depressa voltar, dormir, e acordar num mundo de paralelismos e (ir)reais que me constrange...

Não sei mais que isso... sei que minh’alma desperta enquanto todos dormem...

domingo, 20 de setembro de 2009

In memorian - Pe. Rogério (Ruggero Ruvoletto)

Ontem recebi (recebemos todos) a trágica notícia do assassinato do padre Rogério em Manaus.

Confesso que não sei explicar bem ao certo o que senti... e esse não entendido de sentimento ainda agora me incomoda e me constrange.
Já tinhamos acompanhado o fatídico caso da missionária irmã Dorothy Stang, mas é como se todo ele tivesse sido processado apenas na minha mente, não no meu coração. Acho que entrei em contato com o ridículo do humano que é sentir diferente o que acontece na casa da gente e no quintal dos outros.

No caso da irmã Dorothy estava terminando uma vida de bem universal; no caso do Pe. Rogério, essa vida não era apenas de bem universal, mas já tinha passado pela minha fazendo parte do meu universo particular...

A questão é que, para o padre, se encontrou com o fim a que dedicou sua vida - Deus - pelas mãos de para quem dedicou sua vida - os homens. Mas nós que aqui ficamos?
Essa pergunta me constrange... E a certo ponto me amedronta, não no meu apego a vida, mas na minha relação com as pessoas e o mundo. Não sei explicar! Me faz sentir um frio interior pelo obscurantismo que tem tomado conta do coração, da alma das pessoas... Sinto pesar pelo rumo que estamos dando à nossa raça, à nossa compreensão do mundo e das coisas... Moeda que vale mais que gente... O valor absoluto da vida trocado por moeda barata...

E o que mais me entristece é a ignorância de não conseguir imaginar o que fazer; a agonia de me sentir de braços cruzados diante da decadencia humana...
Hoje sinto muita tristeza e choro, não o padre Rogério, que nesse mundo encontrou a razão da sua vida no bem, na doação, na esperança diante da vida, dos homens e nos homens; Choro seus assassinos e sua desumanidade, sua desumanização revelada num ato tão vil. Choro o empobrecimento humano de valores... Choro minha inércia... choro o abandono dos valores cristãos... choro a falta de fé...

Para o padre Rogério às palavras da canção LOVE IN THE AFTERNOON de Renato Russo:
"É tão estranho... os bons morrem jovens... assim parece ser quando me lembro de você, que acabou indo embora cedo demais... vai com os anjos... vai em paz... até a próxima vez..."

Para nós, do mesmo Russo, na canção PERFEIÇÃO:
"Vamos celebrar a estupides humana/A estupidez de todas as nações/O meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões...
(...) Vamos celebrar a fome /Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar/Vamos alimentar o que é maldade/Vamos machucar o coração..."
Mais informações acesse:

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quando desacreditar é preciso...


Estou extremamente aborrecido comigo mesmo... Que droga!
Conheci um jovem num evento junto a outros amigos. Um convívio de fato muito agradável! E vi nisso a possibilidade de uma boa amizade...

Nada mais justificável! Entre nós, amigos já unidos, existe um grande prazer em agregar amigos individuais ao grupo, para rirmos e aproveitarmos a vida na coletividade.

Mas tenho tido o desprazer de ver agregadas a esse grupo pessoas inseguras, ariscas e desconfiadas... e esse é um aprendizado que me fere. Tenho tentando aprender, mas me custa. Não sou afeito a relações vazias, rasas, de pura diplomacia... detesto flores de plástico! Prefiro mesmo as naturais com toda a sua fragilidade.

Alan já tinha me alertado para essa questão de que temos mesmo que aprender a não nos sentirmos amigos das pessoas quando as conhecemos, que esse é um jeito muito particular de se relacionar e que as pessoas não comungam dele... mas não escutei...

E assim agi, com o referido jovem que relatei no inicio, como amigo: fone, Orkut... uns diziam que tinha o “olho junto” e outros que tinha “alma de anjo”; e, no meu gosto por pessoas, acreditei, e quis mesmo conhecer seus valores... mas bastou um papo no MSN para eu perceber que essa coisa de amizade só estava na minha cabeça, e dei com os burros n’água...

E fiquei triplamente aborrecido. Primeiro, por ver mudadas as nossas intenções. Tento ser o mais claro possível na minha relação com as pessoas justamente para não dar a outros o direito de inferir sobre as minhas intenções. Depois... odeio quando acredito burramente nas pessoas quase tanto quanto odeio ter que desacreditar delas.

Detesto ter que desacreditar nas pessoas, mas tenho que me acostumar ao aprendizado de que desacreditar às vezes, embora doa, é necessário. Mas continuo me negando a encontrar as pessoas cheio de reservas como se tivesse um rabo enorme para proteger de alguém puxar...

Ao colega agradeço a pedrada necessária; li a lição, e farei o possível para aprender...
Aos demais, acho que já disse isso antes, mas vou repetir:
Se não for pra vir inteiros e intensos, se for para trazer apenas avareza sentimental para partilhar, é melhor mesmo que não venham!

Li outro dia de Gibran que: “Quando alguém lhe oferece serpentes quando pede peixes, talvez não tenha se não serpentes pra dar. É então uma generosidade de sua parte.”


Gostaria mesmo que as pessoas não escondessem seus peixes oferecendo serpentes e deixando-os apodrecer .

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Happy Day... happy life...

Hoje eu acordei tão feliz, mas tão feliz... sei lá...

Queria sair pela rua, sorrindo, cantando, dizendo bom dia e beijando as pessoas...

Se eu não fosse um covarde era isso que eu deveria ter feito, mas ainda tenho medo de levar socos, querer bem pode ser muito ariscado às vezes... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... mas deveria mesmo ter feito... Como covarde, para não deixar se perder aquele pulso de afeto, mandei algumas mensagens de carinho pela net (sem por em risco o meu “bebedor de lavagem”)...

Por que amanheci assim? Não sei! Ou talvez até saiba...

A mesma cama... o mesmo quarto... o mesmo careca deitado nela abrindo os olhos para mais um dia... Ou melhor: para o dia! O único que tem!

Vivemos recebendo mensagens de ajuda sobre a questão do tempo, mas parece tão distante; mas é verdade: ontem? Passou! Não tenho como voltar! Amanhã? Não sei, ainda não tenho! Só tenho o hoje... Esse é o meu dia e o meu momento de ser feliz!!!

Mas por que sou feliz? Essa pergunta me constrange...

O ser careca que abriu os olhos na minha cama hoje nada tem: sem trabalho, por isso sem grana; sem títulos, por isso sem visibilidade nem honras... É isso que nos ensinaram como bem, como felicidade, não foi?

Nada disso tenho... sou o inverso do que as pessoas entendem de felicidade... mas por que sou feliz?

Mania burra essa de viver procurando explicações pra tudo!!! Talvez por essa mania eu tenha ainda tanto medo de ser feliz, porque gostaria de sentir uma felicidade em conformação com a minha razão, uma felicidade justificável e entendida... Um burro! Um tolo! Sábio eu seria se me permitisse ser feliz em momentos como esse, em toda sua intensidade, sem razões plausíveis... feliz!!!

Mas se é de razões que a mente carece, posso elencar algumas... já disse que não tenho nada; e paradoxalmente tenho tudo, e talvez mais que muita gente desejaria ter nos seus melhores sonhos... ou talvez até tenha mas não aprendeu a perceber ou valorizar...

Tenho tudo! Tenho mãe, pai e irmãos que me amam e se esforçam por me compreender, mesmo quando nem sempre facilito isso; Tenho amigos incríveis, os mais variados: os que falam de si, os que falam dos outros para esconderem a si mesmos; uns ridículos, outros engraçados, outros educados e sóbrios; outros atores que fingem tanto ser quem não são que quase se convencem – gostaria de me deixar convencer também; tem até os que me odeiam, e os que me aturam porque acham inconveniente ser sinceros... tenho amigos de todo tipo, e quero a todos, sempre, perto de mim, mesmo à distância. Com eles aprendo do grande desejo de ser feliz que impulsiona a gente a seguir. Como posso empobrecer em tão rico contato?

E como se não bastasse, tenho ainda Deus... Que me presenteou com esses olhos enormes e sensibilidade para perceber toda essa maravilha à minha volta. E ainda como se não bastasse, mesmo quando tudo parece escuro, a simples lembrança da sua existência se faz suficiente para todo clarear e fecundar de alegria e vida.

É estranho, mas parece que estou em tudo, que tem algo de mim em tudo, me identifico com tudo e tudo me pertence... mas não me encaixo em nada... mas só por hoje isso não vai me constranger...

Sinto-me uma das pessoas mais feliz e agraciada do mundo e gostaria hoje de gritar isso, diretamente do meu nada para todo o mundo...

Se amanhã, quando chegar e for meu novo hoje, eu tiver motivos para chorar, chorarei. Ser feliz não implica não sentir dor, ao contrário, implica em sentir tudo, e eu não abro mão de nada...

Mas hoje... ahhhhhhhh... hoje... hoje é um dia de ser feliz, muito feliz! E às vezes preciso respirar devagar e pensar baixinho por medo que a felicidade me mate ou me tire à consciência de forma que eu não possa contemplá-la...

E fica minha gratidão a todos quantos, da sua forma, do seu jeito, com as delicadezas e asperezas próprias dos seus corações que me dedicam, o meu agradecimento por ser assim tão feliz!!!

Um conselho: quando me encontrarem em dias assim, se não quiserem passar vergonha, defendam-se bem, pois posso me cansar de ser um covarde e dar um beijo bem em suas bocas!!!
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Louvado e amado seja o Deus fonte de todo amor, felicidade e beleza! Amém!!!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Um certo brilho no olhar...

Há uns dois ou três dias atrás me encontrei, num breve, com um amigo... Ele tava diferente... Tomado de grande ansiedade e euforia, trazia um brilho diferente no olhar... Tinha pressa pois corria o risco de perder o ônibus que o levaria para ver seu “controle” com quem teria um “mato” com chocolate e tudo. Rs rs rs rs rs rs...

Não entendeu? Desculpa! Vamos lá!

CONTROLE: no dicionário da orla do canal de São Miguel – dialeto aprendido de Dona Miúda da Serrinha – alguém a quem se sente afetivamente ligado por laços de paixão, amor ou sentimentos afins.

MATO:
dialeto agregado a nós pelo aborígine Pepé aprendido em seu programa preferido “Toma lá da cá” com seu personagem predileto “Copélia” (de onde vem seu apelido abreviado “Pepé”) - significa... significa... Na verdade “prefiro não comentar”! kkkkkkkkk... Sinônimo: “lesco-lesco”.

Voltando... Meu amigo tinha todo o seu rosto, e por que não dizer toda sua existência, iluminada pelo prazer de encontrar a quem quer bem; e como numa mensagem subliminar contagiou-nos a todos...

Se eu senti inveja? Inveja? Eu? COM CERTEZA!!! Kkkkkkkkkkkk... Ando meio invejoso mesmo (desde a penúltima postagem) de tudo o que é bom!!!

Queria eu ser acometido também por um sentimento tal que me fizesse brilhar meus olhinhos tão pequenos... kkkkkkkkkkkk... mas me deparei com a ausência dele...

Conversando com Pepé (no dizer do Cobra – sabemos falar de nós), partilhando do mundo inteiro que acontece em volta e dentro de nós, chegamos ao consenso de que só vontade não une as pessoas; todos nós temos expectativas e idéias de realização diferentes... e nessa perspectiva, relações são o tocar de dois mundos que, apenas pela razão, se tocam apenas, porque a razão ressalta diferenças... só o amor pode fazer esses mundos entrarem em intersecção de forma que, sendo um (e não se pode ser em tudo), preserve-se a individualidade.

Em resumo seria algo mais ou menos assim: relações, quando motivadas por amor, são a intersecção de mundos diferentes, com noções de realização e expectativas diferentes que, juntos, encontram forças para se estimularem e alcançarem suas realizações, sem negação das individualidades.

Eita! Que coisa tão conceitual e metódica!!!
Basta amar e pronto!!! O resto vai-se aprendendo!!!
Agora sim! Ficou melhor!

Se só razão e vontade não são suficientes, então é vã minha inveja... tudo o que tenho a fazer é esperar que o amor me toque e me abençoe por sua presença. E enquanto ele não chegar, doar a outras coisas o brilho dos meus olhos: a Deus, aos meus outros amores (família, amigos, pessoas, letras, musicas) e não permitir-me nisso ser menos encantador nem encantado.

Tenho inveja


Hoje estou triste, e corri a vir aqui escrever antes que a minha tristeza passe... dura sempre muito pouco, mas o suficiente para me fazer olhar para onde dói...

Não aprendi a sofrer, ou a ser um sofredor, não sei! As minhas dores são sempre limitadas pela minha compreensão delas, pela justa apreciação delas dentro do que me construí e como conseqüência da escolhas que fiz, o que tira de mim totalmente a idéia de sofredor... Mas eu adoraria ser um, sabe? Eu adoraria ser um sofrido a quem acalentam...

Sinto em mim a supremacia da razão que, sujeitando tudo, não inibe a emoção que me aflora por cada poro, mas anula a “melindrice” e os excessos. O que é bom... mas adoraria pensar menos... Entender menos... ponderar menos...

De fato, nunca fui um cara convencional, não me deixei escravizar pelas estruturas sociais e estereótipos. Por isso tenho muito orgulho do que construí de mim mesmo, mas será que sou livre? Quem olha para minha trajetória diz que sim... Mas o que é a liberdade? Sendo livre das convenções sociais fui sempre, por outro lado, preso às minhas próprias convenções, às minhas próprias representações das coisas e de tudo... preso às minhas amarras e ponderações... Sendo assim, sou de fato livre? Fiz da verdade uma bandeira; mas o que é a verdade? Um adolescente infrator entra numa casa para roubar e, surpreendido pelo filho do proprietário, de súbito, o mata, sendo alvejado na seqüência pelo pai do garoto. Na sala dois mortos. Nos velórios duas mães. Qual dessas dores é a mais sentida? Para essas mães, o pai que matou o adolescente assaltante é menos assassino para uma do que o é o adolescente morto para a outra?

Verdades... Pontos de vista... Histórias... Vidas... Onde está a verdade?

Conheço uma única verdade em Deus – Ele é a verdade – todo o resto é relativo!

Estou triste... sagrada a enxaqueca que me sensibiliza para comigo mesmo... e hoje, e talvez só por hoje, eu sinta inveja das pessoas do “submundo”; inveja dos loucos por não terem cadeias nem ponderação entre ações e conseqüências; inveja da falta de pudor das prostitutas; da frieza dos psicopatas; da lisura dos cínicos; da pureza indiscreta das crianças; inveja de Jesus por seu amor total; inveja das mães por descobrir o que é ter alguém por quem se tem coragem de dar a vida; tenho inveja das bolas de sabão que duram tão pouco mas que, em sua breve existência refletem, quando tocadas pelo sol, todas as cores do arco-íris antes de inexistirem; inveja dos amantes que arriscam tudo... Tenho hoje, e talvez só por hoje, inveja de tudo quase, e até de mim mesmo quando sou eu de fato...

E essa inveja de hoje provem de uma descoberta triste e incoerente com tudo o que acredito de mim: um coração egoísta para o amor. Tenho tanta sede de me dar que não sei me dar. Burro, na ânsia da intensidade, querendo derramar-me sempre todo em tudo, desaprendi que, de gota em gota, por um rachão, esvazia-se um pote e, diferente do que estourou e todo se derramou, experimenta ir-se esvaziando, descobrindo os espaços, tendo sempre cheia pela água que se infiltra e desce, a fissura que o fragiliza a ponto de o pôr sempre a espreita de estourar e perder-se por inteiro...

Hoje... hoje... não sei... não sei nada mais... nem o que queria dizer – se de fato quis dizer alguma coisa ou apenas não entendi que há dores que não se traduzem... Mas sinto o prazer de ser incoerente hoje... e hoje, e só por hoje, tenho inveja de tudo, até das pessoas coerentes sendo esse um mal o qual hoje, e só por hoje, rejeito...

Ao fim desse grande “nada dito” clamo a Deus nessa noite que vem depressa fazer-me gás quente e leve e, por ação do sopro do espírito, correr ligeiro o mundo inteiro tocando e provando tudo o que invejo para amanhã, ao acordar o de sempre, sabendo do amargor e doçura que há em tudo, retornar às minhas queridas coerências e ponderações que me trouxeram até aqui quem sou, para que, através delas, pesando e ponderando tudo, possa decidir continuar a ser quem tenho sido ou ser outro que ninguém e nada mais é que o eu essencial que sempre fui.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O livro dos dias

Há pouco senti uma atração e motivação interior imensa para escrever, mas o mais interessante é que essa motivação não veio movida por um assunto especifico sobre o qual tratar... nem sempre vem... e aqui estou eu, ou melhor, estamos nós, eu e você, esperando por quais caminhos essa sutil motivação nos levará...

Acho que vamos por aqui:
Esteve conosco, em minha casa, por alguns dias, minha sobrinha Julia (13 anos). Havia aproximadamente uns dois anos que não nos víamos... Uma explosão de energia a Julia: pulando pra lá e pra cá, topando nos móveis, quebrando coisas... Um furacão rebatizado KID (Kidesastre) kkkkkkkkkkk... Ter alguém novo no ninho requer adaptação; estando comigo no meu quarto, para celebrar nossa eterna empatia e união, alterou minha rotina... kkkkkkkkkkkkk... E eu, o tio resmungão, a reclamar e “passar gato” a três por quatro, sem contar uns puxõezinhos de orelha e uns beliscões para animar o processo...
Mas aí chegou o dia da nega ir embora... Volta à rotina, mas meu quarto é um pouco mais pobre... Não tenho mais KID para reclamar, para culpar pelo desmantelo e pelas coisas que somem; não tenho mais minha cúmplice de presepadas e risos; não tenho mais minha companheira que conversava tanto antes de dormir que cansava a língua; não tenho mais para quem gritar pela janela do quarto: “Julia! Desça agora! Não é daqui a pouco nem já já, é agora!”. Saudades da minha Nega Ni...
Em Caruaru – Pepé. Ô Pepé danado: pula, dança, se escorropicha pelas paredes... Adorando o mato, um verdadeiro aborígine na cidade... kkkkkkkkkkk... Com Pepé a crise da ética humana e dos relacionamentos: tendo nessa amizade um caminho totalmente aberto e de via dupla, observando questões em desalinho, meter-me ou não? Até que ponto se tem o direito de intervir na vida do amigo? Ou até que ponto isso é um dever? Ou ainda, que limite separa o dever afetivo de evidenciar algo na vida do outro e o limite para intervenção? Tendo algo para dizer a Pepé sobre ele mesmo, silenciando me sentia omisso e desonesto, falando um invasor, e fiquei dividido e triste...
Em alguns minutos, alguns olhares, poucos beijos e abraços tentar matar as saudades de Anne a Fabiana em quem “demos um cano”.
Com as meninas de Pão de Açúcar um misto: Sandra, a Leoa do Norte, fina e de pavio curto (digo: sem pavio) kkkkkkk... Para unir essas duas características recorrendo infinitamente ao lema “prefiro não comentar” – sábia técnica, preciso aprender; Carmem e sua avareza sentimental de não nos permitir demonstrar por ela carinho; Wagna a própria sedução pela clareza e altivez dos seus olhos; e Adriana? Essa agora deu pra “balançar a roseira” coletivamente e não deixa ninguém falar ao telefone... kkkkkkkkk... Como empobrecer num contato tão... tão... tão... assim!
Com Adriano um mal estar engraçado e divertido de raízes subentendidas mas que aqui nos serve a idéia de que as pessoas se sentem de forma diferente, que cada amizade é uma amizade com traços e padrões diferentes; talvez, na padronização o erro.
Em Joanês um breve de claro e escuro... na amizade uma compreensão da alma do outro na entrelinha, mas carente de confirmação na linha.
E tem ainda o que “fala de si”, o Fábio cobra com sua dentadura inoculadora de veneno... kkkkkkkkkk... Alguém distante mas bem presente nesse meu retiro... o companheiro no “infinity pré da TIM” com quem o assunto nunca falta...
Não poderia deixar de citar o Caninana enferrujado com carne por dentro dos ossos (Fran) que melindrasse facilmente e com tudo mas cujo coração melindroso também é morada de amizade fiel e prestativa.
De Arcoverde a notícia do falecimento de seu “Oré” e a triste sensação de estar longe das pessoas que amo e que sofrem essa perda, especialmente um abraço que tenho guardado para Will, filho de seu Ore, grande e querido amigo da minha juventude mas agora separados pela vida adulta, como se na dor pudéssemos fazer voltar o tempo...
E eu? Eu aqui sozinho no cafofo de Alan; quer dizer, sozinho não, infinitamente acompanhado dessa gente toda aí e de tantos outros que não poderia aqui relatar...
Essa foi a minha semana, e com eles: Julia, Alan, Adriano, Sandra, Wagna, Carmem, Adriana, Fábio, Fran, Will, me descubro vivo, intenso, real... Aprendo dessa maravilha que é encontrar pessoas, fazer e ter amigos... Aprendo que cada relação é uma relação e que nos encontramos sempre em pacote para presentes que inclui gostosuras e travessuras... Aprendo que não se pode ser todo e tudo luz, porque a luz excessiva não permite ver e contemplar e precisamos também das sombras para revelar a forma e os contornos... Aprendo da singularidade de cada pessoa, e do valor dessa singularidade agregada a mim, ensinando-me, lapidando-me, fazendo-me melhor e pior... No dizer do COBRA, tenho amigos de todo tipo: os que falam de si, os que falam do mato, os que falam de música, os que só pensam em comer, os que administram cercas elétricas para evitar afetos... kkkkkkkkkkk... “ô inferno pra ter cão!!!” kkkkkkkkkk...
Como você pôde ler, foram essas palavras simplórias, um relato simples da rotina afetiva de uma pessoa comum, sem grandes especulações psicológicas ou filosóficas. Mas, por outro lado, na simplicidade desses relatos, temos contato com a arte cuja apropriação é desejada e ansiada por muitas das teorias escalafobéticas e intra-histológicas das ciências humanas: A ARTE DE SE RELACIONAR, FAZER E MANTER AMIGOS.
Outro dia, ao relatar para um amigo o quanto sou chato, ele me perguntou: “que características uma pessoa tem que ter para te aturar?”, ao que respondi com presteza: “ME AMAR”. No mundo das relações humanas só dura o que tocado pelo amor, e esse, graças ao Amor supremo, nunca me faltou nem jamais há de faltar.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

"O QUE ESSA IMAGEM TE DIZ?"


Mexendo numas pastas, onde guardo coisas para mim preciosas, encontrei esse desenho feito a lápis tem um bom bocado de tempo...
Lembro-me com muita clareza do tema com o qual o desenhei:
"AMIZADE".
O amigo Fábio comentou outro dia do auxilio que as imagens dão às palavras desse blog; unindo isso ao meu desejo de encontrar uma forma de saber o que pensam os leitores de tudo quanto partilhado aqui (e quase nunca comentam), resolvi postar esse desenho com a pergunta:
"O QUE ESSA IMAGEM TE DIZ?"
Agora é sua vez de partilhar comigo de você e do que pensa e sente...
Deixe seu comentário!
Ansiosamente esperarei...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O tal Deus das promessas...


Tenho ouvido muito falar nas promessas de Deus ou no Deus das promessas, tanto faz, ambas as proposições são uma espécie de marketing que, em tempos de calamidades sociais, faz com que as pessoas se aglomerem em busca de resultados milagrosos que as afastem de seus problemas.

Gozado isso: somos mentirosos, insensatos, pérfidos, hipócritas, egoístas, individualistas e gananciosos... Em consequência disso há fome, miséria, violência, morte... E há quem culpe Deus indagando: “Onde Deus está que não vê isso? Por que não faz nada?”

Egoístas como somos, mergulhados em nosso orgulho ou desespero, jamais compreenderemos Deus... Mas vale-nos recordar que Deus não nos fez para sermos escravos seus, para conduzir-nos como arionetes segundo sua vontade, não! A intenção de Deus é amor; e condição indispensável para o amor é a liberdade – ninguém ama porque é obrigado a amar! O amor é um exercício de liberdade, por iso o dom supremo do livre arbítrio...

Dotados de total liberdade, com inteligência capaz de nos fazer chegarmos as mais incríveis descobertas, inclusive a mais incrível de todas que é o conhecimento de Deus, temos utilizado das nossas potencialidades para a destruição: seja dos sonhos, da poesia, da subjetividade; seja da natureza e dos recursos humanos; seja a destruição uns dos outros direta ou indireta da que fazemos parte... Livres, somos agentes de atos cujs consequências se voltam contra nós sendo culpados ou inocentes... o pecado continua gerando morte...

Diante disso, gritam-se aos quatro cantos as promessas de Deus ou o Deus das promessas...

Nisso vários riscos... O mais imediato deles fazer de Deus um mercado de milagres. Como não estamos mais habituados à gratidão, logo a dificuldade seja sanada, Dele esquecemos e voltamos à nossa ignorância. Outro, talvez ainda mais nocivo que o primeiro, o de nos isentarmos da responsabilidade de construir o bem: "esse é um mundo de dor; aqui sofremos para ser felizes adiante; vivamos vidas infecundas a espera do cumprimento das promessas de Deus..."

Mas você ainda pode se confundir e perguntar: Mas afinal, Deus cumprirá ou não as promessas?

E eu replico com algumas perguntas em resposta: O sal precisa prometer salgar ou o açúcar adoçar?

Deus é em si mesmo toda a promessa e o cumprimento dela. Sendo fonte de todo o sumo bem, não precisa prometer amor quando é fonte e origem de todo amor; não precisa prometer misericórdia quando é todo misericórdia; não precisa prometer paz quando é sede da paz...

Então é só procurar e encontraremos tudo de que necessitamos em Deus?

Exatamente, mas não com pouco esforço!
A ação de Deus não é exterior, ao contrário, é interior: Ele age do lugar que habita em nosso peito, em nossa vida, em nosso coração – dentro de nós! Tanto mais sua ação é eficaz quanto mais o damos espaço... Daí o esforço: liberar os espaços interiores dos entulhos que as preocupações e egoísmo desse mundo que construímos, e nos determina a seu modo, imprime em nossa conduta e em nossa noção de felicidade.

E, outrossim, somos partícipes da ação e graça de Deus também para os outros quando, tendo no peito a origem do amor, agimos segundo o amor; tendo no peito a origem da misericórdia, somos misericordiosos; quando crescendo em nosso peito a origem de todo o bem, lutamos pelo bem...

Esperar então pelas promessas? Não! Apenas deixar que elas aconteçam a partir de nós.
Sofrer as opressões desse mundo na espera de um outro maravilhoso? Não! Fazer esse mundo maravilhoso...

E enquanto perdemos nosso tempo perguntando onde está Deus quando as coisas dão errado, Ele insiste em nos mostrar que a vida pode ser maravilhosa, nas pequenas coisas que nossos olhos adestrados para a grandeza não nos tem permitido ver: quando nasce uma criança; na natureza que se renova; num dia que nasce lindo; na risada que damos sem esperar que expande nosso pulmões e parece enche-lo de vida; numa carta que recebemos de alguém que já não dava notícias fazia tempo; no tempo que, em silencio, olhamos dormir quem amamos...

Oxalá nesses momentos nosso coração fosse tomado da compreensão de que tudo isso é um milagre, que Deus, a todo instante, está cumprindo suas promessas e, gratos, soubéssemos enviar-lhe um pensamento de amor cumprindo a única resposta que nos pede – AMAR.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ser & Existir


Tudo no mundo revela a grandeza de Deus: as cores, a natureza soberana... Mas nada como o ser humano! Nunca um só de nós se repetiu ou repetirá, o que faz de nós obras originalíssimas desse Artista amoroso...

Mas aprouve a Deus estabelecer alguns traços de personalidade e gênios que, mesmo nunca iguais, podem ser identificados; também os traços de personalidade e gênios, até os negativos, são uma bonita forma que Deus encontrou de nos botar em grupo e gerar equilíbrio – quando devidamente utilizados...

Existem muitas teorias psicológicas e filosóficas que falam sobre o ser e o existir; pra ser bem sincero não as domino, mas vou tentar partilhar o que é ser e existir para mim:

Para mim existo desde que fui concebido e, por questão de fé, creio já existir mesmo desde antes como pulso amoroso do coração de Deus, mas tomemos a concepção por base de raciocínio. Ao existir, reconhecido como pessoa no mundo, trouxe impresso um traço de personalidade e um gênio, ambos fortemente influenciados pelas relações sociais e experiências vividas ao longo dos anos (é fato).

Do que trouxe comigo, e faço disso recordação desde a minha mais tenra memória, um traço sempre preponderou e forjou sua marca: uma espécie de desprezo pela opinião coletiva. Entenda-se: esse não é um processo 100%, nem poderia, posto que me importei sempre, de algum modo, com a opinião os meus pais e das pessoas que amo; mas a questão é que essas opiniões nunca influenciaram de forma direta nas minhas escolhas – escolhi, na maioria das vezes, segundo os valores do meu coração e minha consciência sem me importar que aparências ou o que achariam disso ou daquilo.

Como disse, reconheço nisso um traço, posto que não escolhi diretamente nem é para mim nenhum esforço pensar e sentir assim, ao contrário, é-me sofrido, por vezes, ter que agir do contrário para manter-me unido aos grupos sociais de que faço parte.

Essa suposta liberdade dos paradigmas sociais a minha volta me fizeram criar um mundo muito particular de valores e condutas muito próprios que, a sua maneira, agregaram ao meu existir uma certa inabilidade social, posta a pouca compreensão das pessoas desse mundo existencial pessoalíssimo e sem nenhuma preocupação em se revelar.

Ainda nessa dimensão existencial, habituado a esse mundo dentro, reconheci gostos e desenvolvi habilidades; os principais gostos: Deus e as pessoas; habilidades: sensibilidade para as questões humanas de uma forma tão exacerbada que me sinto próximo de tudo e todos, participante de toda e qualquer virtude ou desventura.

Aqui tentei explicar, resumidamente, a minha existência, entendida como a essência, o âmago de cada um e da construção que faz de si mesmo, na total liberdade.

Mas quanto a ser? O que sou?

Enquanto a existência é algo inerente o ser é algo social. O ser é o “ser no mundo”, é o conjunto de aptidões e escolhas que você faz, constrói e transforma numa ação social humana que será sua marca nessa trajetória.

Grosseiramente, o existir seria o conjunto das nossas construções interiores, e o ser a tradução disso numa construção exterior, social.

As habilidades de isenção a opiniões e sensibilidade à minha existência associadas me fizeram criar um mundo paralelo e certa inabilidade social que sempre foram para mim um entrave ao ser.

Do meu ser se dizia: “É um louco! Não sabe o que quer! É um perdido, nunca vai ser nada na vida!”. De fato, jamais haverá compreensão de uma existência que não se traduz em ser, que mais tende ao não ser e encontra nisso seu gozo!

Mas não dá para passar por essa existência sem ser posto que algo sou, mas o que sou? Qual é meu traço de “ser no mundo”?

Já passei pela psicologia, mas ela era rasa e paradoxal demais; passei pelas letras, exerci e vivi, a seu tempo, o prazer do magistério, mas fiz “as letras” não por ele, mas pelo gosto e fascínio da entrelinha; já passei pelo convento procurando um ser sublime que encontro mais verdadeiro aqui fora... O que sou afinal?

O que sei fazer que seja bom? Usei isso como pressuposto para análise. Sei fazer de tudo um pouco, nunca me amedrontei ante nenhuma tarefa, os que me conhecem sabem disso... Mas no que sou bom? Qual é meu traço forte que valha a dedicação do esforço e minha excelência?

Aí nada achei... Sou meio que um ambulante faz tudo, daqueles que empurram uma carrocinha gritando pela rua: concerta guarda-chuva, panela, amola alicate, tesoura... Essa também, a do faz tudo, é uma experiência digna de ser posta sua funcionalidade, mas como traço personal não “é”.

Zerada essa possibilidade, não havendo nada no que eu seja bom, enveredei por pensar no que, de todas as coisas que eu sei fazer, mesmo sem que eu seja nisso bom, tem a capacidade de me absorver de forma a me ter todo quando o executo? Aí não foi difícil achar!!! Duas coisas imediatamente se me mostraram seguras do seu poder de me absorver e fazer transcender e aproximar-me simultaneamente de Deus e dos homens: ESCREVER e CANTAR. Essas são as duas principais formas da minha comunicação com Deus e da comunicação do meu mundo interior com o exterior: LETRAS E SONS.

Sou professor por formação e um montão de coisas ou nada na expectativa dos outros, mas nisso não estou nem sou.

Fiz de mim a mais nova descoberta e que vale o meu esforço e o empenho de toda a minha vida sem com isso desprezar da tudo quanto amei até hoje.

Sei que de pouca aceitação e de dificílima execução posto o preconceito aos que trazem arte dentro, mas eis o que fiz de mim mesmo, assumo publicamente e o serei até o último dia da minha vida: MÚSICO e POETA.

Se aprouve a Deus imprimir em meus olhos um pouco do seu olhar ampliando-os para a observação de sutilezas pouco vistas, as que se mostram no claro, mas também no escuro da alma, pensa-me artista. E terei encontrado a glória verdadeira nessa vida, não exaltando-me aos olhos dos homens, mas aproximando-me ao máximo da justa medida do que Deus pensa de mim.

Rennan de Barros

terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma estranha forma de carência


Tema dolorido esse... rsrsrsrrsrsrsr... mas deslizemos por ele...

Digo dolorido porque toda carência implica em falta; toda falta desejo pela coisa faltante, que quando não é suprida gera dor. Por outro lado, ainda falando de carência como desejo por algo faltante, havendo falta e desejo, isso é meio que uma mola propulsora que nos dá forças para buscar...

Toda carência encerra falta... acho que nisso concordamos... E acho que podemos concordar também que uma das nossas principais carências é a de carinho, atenção, afeto...

Nesse contexto descobri em mim uma forma estranha de carência, meio que inversa as demais, mas não menos faltante nem menos dorida. Sua estranheza está no seu inverso: Não sinto falta de carinho! Ao contrário – desse vivo um excesso!

Mas como alguém que tem carinho em excesso pode se dizer carente? – você pode pensar.

Mas esse excesso também encerra em si uma falta não menos faltante nem menos justa que as demais: falta de pessoas para receber o carinho que jorra daqui de dentro...

E nisso mais um incoerência: se as pessoas são carentes de carinho e tem quem o ofereça, uni-se aí útil e agradável, certo?

Não! Errado! Totalmente errado!!!

Não educamos as nossas emoções para receber carinho. Ao menos não um carinho desinteressado. E fugimos das situações de carinho porque carinho evoca carinho, meio que um compromisso silencioso de responder ternura com ternura, e nem sempre estamos dispostos...

Daí inventamos formas de nos convencermos de que não queremos o que precisamos, o que, na verdade, só revela nosso medo da felicidade. Medo de amar e ser amados. Medo de dar e receber carinho sem que haja nada mais além da intenção do carinho em si mesma. Medo de ser felizes...

Mas uma vez me vem o velho PA e a expressão que já repeti tanto sem nunca ser fiel a original que meio que se tornou minha:

“É triste ver mãos estendidas sem nada ter pra dar...
Ter mãos cheias sem ninguém para receber é desesperador...”

Acho que é essa a parte que me cabe nesse desespero...

Descobri em mim uma estranha forma de carência... uma carência inversa que implica excesso e falta...

Ainda valeria salientar que há sim quem receba carinho, e o receba em sua totalidade, na completa excelência de como que apraz oferecer, mas são poucos... e há quem receba com superficialidade e não supra minha carência...

Usando de uma figura bem amorosa para esclarecer, seria como uma mãe de seios repletos de leite; o filhinho não consegue sorver tudo e, no excesso, os seios tornam-se túrgidos, e isso causa dor. Dor do excesso semelhante à dor da falta...

Não sei o que dizer ao fim... As carências fazem-nos perder...
Acho que, por esse instante, afoguei-me na minha...

Por não saber como terminar, concluirei com uma canção intitulada “Onde não estou” e dedicada a Jenfona Tanajara:

Por que me pedes para não chorar?
De que outra forma exporia minh’alma?
A lágrima que me corta a face
É um rio que me conduz pra fora de onde nem sempre sei sair

Estou aprendendo a receber carícias
Porque dispenso a que me toca a pele
Prefiro a que me toca a alma
Ou ao menos o tênue limite que separa derme e essência

E quando me quiser achar
Procure-me onde não estou
Nas palavras que não digo
Nas carícias que não nego
Nos sonhos que não ouso revelar
Na cruz que une santos e loucos
Como o Verbo e eu
O silêncio e eu
Tudo... Nada... Eu

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Das pobrezas da desconfiança e da posse


É fato que aboliram a palmatória, mas aprender, em se tratando da vida, em algumas ocasiões, ainda dói...

Acredite você que eu tinha um amigo, desses célebres, por quem nutria um grande bem... Já havia aprendido antes que toda boa relação precisa de alguma construção, precisa de contato, de ideais partilhados, e não se sustenta só com sentimentos, por isso me lancei com esse amigo numa empreitada que além de assinalar nossa unidade ainda ajudaria outras pessoas...

Mas as coisas nunca são como queremos que sejam, e todo processo é sinuoso e nunca linear; para dar cabo ao projeto precisávamos de terceiros, e pouco do planejado restou, e da unidade quase nada, e da amizade ainda menos...

Foram muitas as dores: as de depender e ver mudados os planos no tocante aos terceiros, os empecilhos técnicos, os atrasos cronológicos... mas nenhuma como descobrir não ter o que acreditava ter tido...

Mas nem tudo foi de perdas! Nunca nada é só de perdas! Tive ganhos; bem mais do que imaginava ganhar... Queria estreitar o laço com um amigo que achei ter e acabei fazendo amigos que não esperava...

Vi degenerar a relação que acreditava humana e pessoal com meu amigo numa relação comercial; e as relações de natureza comercial converterem-se em relações humanas de diálogo, acertos e compreensão além de prazos, mercadorias e pagamentos.

Conheci aí um tipo muito estranho de pobreza... Pobreza, não a de não ter bens monetários como aprendemos, mas outra pobreza: a da desconfiança; a de não poder confiar...

Do meu então amigo – desconfiança! E não tenho medo de errar ao dizer “desconfiança” porque ela existiu de fato, porque se não foi da parte dele, foi da minha ao desconfiar que ele desconfiava. Assinalamos assim uma relação carente em si mesma, pobre em si mesma, baseada em sentimentalismos idealizados que não se sustentaram à primeira prova...

Estamos aqui tratando de processos comerciais e sua estreita relação com a falta de confiança, e na falta de confiança um tipo estranho de pobreza, certo?

Mas um outro aprendizado ainda se uniu a esse: o de quem faz das suas relações pessoas um processo semelhante ao comercial gerando um outro tipo de pobreza – a posse.

Faço parte de um grupo de amigos com quem partilho o prazer de ver amigos amigos dos meus amigos... kkkkkkkkkk... Complicou? Deixa eu tentar novamente: ao termos um amigo novo, nosso prazer é apresentar esse amigo aos outros amigos para que sejam também amigos; assim nossa rede só cresce e podemos nos divertir e aprender da vida e das coisas todos juntos num amor nunca dividido, mas partilhado, e assim multiplicado.

Nesse processo um amigo nos apresentou a um segundo, esse sofredor da pobreza da posse e, quando juntos, esse amigo novo quebra a corrente mergulhado nos ciúmes gerados pela idéia de posse. E aqui digamos – BURRA POSSE! – posto que, se entrarmos no mérito dessa bolsa de valores afetivos, o amigo já nos era caro desde muito antes, e somos assim acionistas majoritários... kkkkkkkkkk... Sem contar na energia perdida ao rebater farpas quando a poderíamos empenhar em abraçar ou sorrir...

Todas essas questões só vem nos lembrar do quanto somos humanos e, o sendo, suscetíveis a tudo quanto humano; digo suscetíveis por termos em nós todas as pobrezas humanas (e também as aqui salientadas) em menor ou maior grau, e também porque as sofremos ao entrar em contato com as pessoas que com elas se mostram à nossa frente.

Acho que seria bastante então relembrar algo que aprendi com o amigo primeiro, aprendizado esse de essencial importância em toda e qualquer relação humana, e imprescindível quando nos perdemos em nossas insanas expectativas ao darmo-nos conta de que as pessoas não são como queremos que elas sejam:

Quando Jesus nos exortou dizendo “amai uns aos outros” não usou o substantivo abstrato relativo a sentimentos – AMOR, mas um verbo no imperativo – AMAI (de amar). Fazendo uso das aulas de português que parecem não ensinar nada de fato, recordamos que a diferença entre o verbo e o substantivo está na ação que o verbo encerra, diferente da função de nomear que tem o substantivo. Assim, Jesus não nos exortou a ter uns para com os outros sentimentos de amor porque, conhecedor da alma humana, não nos pediria fazer algo inumano como ter sentimentos de amor (substantivo) por todos quando sabia que também podemos odiar; quis o mestre nos exortar a agir segundo o amor – amar (verbo) – gerando assim uma relação movida por respeito e valorização da pessoa do outro...

Acho que compliquei mais que expliquei, desculpe! Estou assim mesmo meio complicado nesse tempo... Mas prometo uma postagem mais esclarecedora sobre a gramática do amor logo que possível!

Aos meus “amigos”, o da desconfiança e o da posse, a minha gratidão pelo que aprendido antes e também aqui, quando algumas coisas parecem perder a razão de ser! Quem sabe um dia nos encontramos aí mais na frente, movidos por outras aprendizagens e poderemos escrever páginas mais alegres que essa...