sábado, 26 de dezembro de 2009

ESPECTADOR


Esse foi um ano incrível!!!
Meio sem querer acabei por abraçar uma empreitada fantástica de trabalho pessoal; nele descobri o real significado da pobreza evangélica: “Trabalhar muito, mas não pelo enriquecimento pessoal, e sim pelo enriquecimento da humanidade...”; e o instrumento de trabalho não poderia ter sido outro – A ARTE! Esse bem de todos e para todos...

Aprendi muito!!! De mim mesmo e das minhas potencialidades ocultas, e também dos outros à minha volta... Aprendi do que é inerente a todo ser humano num complexo sistema de relações humanas que me enriqueceu muitíssimo...

Por outro lado, toda grande façanha tem seu ônus... essa também teve!!!

Para poder dar cabo a todas as exigências da missão a que dediquei minh’alma precisei cair na estrada por muitas vezes, e por muitas vezes me ausentei das vias a que estava acostumado a trilhar; o resultado disso: COBRANÇAS!!!

“Você não para mais em casa!”; “Só vive no mundo!”; “Já não podemos mais contar com você!”; “O que você quer da vida? Isso não te dará nada!!!”...

Rrsrsrsrsrs... Tudo isso é muito engraçado!!! Descobri, no decorrer de todos esses discursos, que as pessoas se acostumaram a me ter como ESPECTADOR das suas vidas, uma presença garantida na platéia para aplaudir suas vitórias, apoiar nas derrotas, ou apenas para estar ali, compondo público, engrossando fileiras para dar-lhes sensação de segurança... ou ainda como cenário ou pano de fundo para suas realizações...

Costumamos brincar que, em cada apresentação, precisamos de alguns familiares e amigos na platéia para aplaudir... que aplausos são uma espécie de torpor coletivo – um começa e logo todos fazem... kkkkkkkkkkkkkk... Mas não imaginei que uma brincadeira tão tola fosse se apresentar de forma tão característica na vida real.

De fato, acho mesmo que colaborei com tudo isso; sempre tive grande prazer em ser mesmo esse espectador, assistir, ver, reconhecer as enormes virtudes e feitos das pessoas junto a mim, e valorizá-los, alegrar-me com eles na simplicidade dos nossos laços. Por causa disso acabei por me tornar adereço em suas vidas, como um vaso que se tem na sala a anos, tantos que já nos habituamos tanto a ele que passamos sem o ver e só passamos novamente a notá-lo quando já não está mais no lugar de costume...

Reclamam que eu viva suas vidas... Mas a minha, quem vai viver?

Só tenho o curto período dessa vida para me tornar uma das pessoas mais felizes que esse mundo já viu, e uma empresa tão grande como essa precisa de mim todo empenho e dedicação!!! E não posso delegar a outros funções que cabem tão somente a mim... Ninguém é feliz no lugar de ninguém; mas podemos sim ampliar nossa felicidade quando, além da nossa própria, sabemos nos alegrar com a felicidade dos outros... mas essa é uma arte que não posso exigir...

Quanto a ser um espectador, essa é coisa que não sai de nós, uma vez aprendida é para sempre. A diferença hoje é que, para alguns, não estou na primeira fileira; para outros nem na platéia; mas ainda sei ler nos jornais sucesso de público e crítica, e ainda posso mandar flores... Um amigo disse há pouco que, das flores que mando, os espinhos chegam sempre primeiro. De fato, as rosas, flores superiores, vem associadas a espinhos; mas posso também enviar algumas margaridas – flores menos nobres, mas sem espinhos; ou, com muito esforço, algumas flores de plástico – não tem espinhos e ainda garantem não murchar no caminho – a pena é que não podem ser desidratadas e guardadas dentro do nosso livro preferido marcando e perfumando nossa página preferida... mas há quem prefira essas!!! É preciso respeitar os gostos, não é mesmo?

Já o disse não sei onde, mas agora repito: minha esperança é que, o que tenha se inscrito de verdadeiro, esteja num lugar da alma onde não possa ser apagado...

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