segunda-feira, 23 de agosto de 2010

OLHARES III - Admitir-se amando


Tem coisa mais burra que admitir-se amando?
Não! Acompanha comigo:
É praxe que um lado sempre ama mais; e que esse lado é sempre o que sofre.
Enquanto esse lado, o de quem ama, não é evidenciado, dá pra simular ainda certo equilíbrio porque o outro lado, por não ter a certeza do que se processa do lado de cá, pode viver o dilema de achar-se a parte mais amante. E mais – quem é “besta” de admitir-se amando para que a outra parte se sinta segura demais e o bastante pra aprontar? Admitir-se amando é o mesmo que dar ao outro o direito de “sambar na carniça”, e esse gosto não se dá a ninguém!!!

É mais ou menos assim, não é? Kkkkkkkkkkkkk...
Ah! E tem ainda aquela idéia de que, a parte que admiti-se amando, é a parte fraca da relação, melindrada pelo excesso de emotividade, com inclinação a sujeitar-se, por amar, aos caprichos do outro.

Tudo isso é tão obvio e factual. Será que é possível, também aí, lançar um outro olhar?
Tentemos:

Não sei se você notou, mas em todas as observações anteriores o ponto de observação foi sempre o outro – o que o outro vai achar da minha revelação e como agirá a partir de então. O único ponto referente ao “eu” foi o medo de parecer fraco.

Vamos agora mudar o foco!!! Tragamos o foco para o “eu”, e analisemos algumas implicações dessa mudança de “olhar”.

“Admitir-me amando é, antes de tudo, uma tomada de posição minha com relação a mim mesmo”. É coisa da natureza do auto-conhecimento; da tomada de postura do eu ao reconhecer em si um traço especifico e suas implicações de conduta. É saber que, por estar amando, isso incide sobre mim, não só na dimensão da minha conduta com relação ao outro, mas também da minha vida como um todo, que requer espaço para a participação de uma outra vida com perspectivas totalmente diferentes.

“Admitir-me amando é, antes de tudo, uma reflexão de liberdade, porque, livremente, permito-me prender-me”. Nada de observações medíocres do tipo: não consigo me conter, sou escravo desse sentimento... Xiiiii!!! Mais uma atitude auto-piedosa... Podemos até não ter controle sobre os sentimentos, mas temos sobre os nossos atos!!! E a própria consciência da pertinência ou não de dado sentimento nos ajuda, a seu modo, a controlá-lo até dissipar-se de vez caso não condiga conosco... Por tanto, nada de sujeição!!!

“Eu gosto!!!”. É da minha alçada os sentimentos que carrego. Reconhecê-los e tomar posse deles não me faz fraco em nada, ao contrário, faz-me forte; recai sobre a dimensão da segurança ao passo que me remete ao que se passa dentro de mim.

Mas e o outro? A relação não imprescinde a participação do outro?

Claro que sim!!! Mas eu não posso condicionar as minhas atitudes às do outro: só dou carinho se me der; só ligo se ligar; só digo que gosto se tiver certeza da recíproca... Sentiu a prisão? E, como em toda prisão, a limitação... Não sou obrigado a condicionar os meus sentimentos e a conduta que assumo a partir deles a ninguém. Gosto!!! Assumo para mim mesmo que gosto; não como alguém impotente que se coloca diante do sentimento como diante de um monstro dominador, mas como alguém de posse das rédeas. Sou fiel a mim mesmo agindo segundo as inclinações do meu coração. Se a outra parte corresponder, estabelecemos relação; se não, coloco mais esse estado afetivo e mais essa pessoa no rol de ótimas lembranças e espero que esse sentimento se consuma e esvaia para, mais uma vez, a seu tempo, permitir que me coração se achegue de alguém de novo.

De minha parte costumo dizer, e pode até parecer soberbo demais: “quem não me ama só tá perdendo!”. E digo isso não por me sentir o propofol que matou Michael Jackson, mas por saber da minha construção, dos empenhos que fiz, nesses 28 anos, cuidando da minha mente e do meu coração, para me tornar quem sou. Tenho consciência da minha potencialidade em ser e fazer alguém feliz. Simples assim!!!

Ao fim, só queria fazer uma observação: é ingênuo negar-se amando! Os nossos olhos, nossas atitudes, tudo nos trai! Traímos até a nós mesmos negando sentir o que sentimos e sofrendo essa negação... Tudo uma grande vaidade!!!

E mais pessoalmente, em se tratando de mim, não diga que me ama sem sentir – não vendo nos seus olhos o amor perderei a confiança nas suas palavras. Não diga que não me ama amando – sempre sei quem me ama, e se nega esse estado perde comigo porque detesto covardes. Me amando ou não, aja segundo seu sentimento, e aproxime-se de mim real, inteiro, VOCÊ; e teremos bem mais chances de construir algo juntos, disso pode ter certeza!!!

Demos um viva aos que tem a coragem de admitir-se amantes!!! Que reconhecem as implicações dessa atitude, mas que não se amedrontam ante o desafio de amar... Demos um viva aos amantes que, amantes se reconhecendo, estão um pouco mais capacitados que os demais, por estarem um pouco mais perto do Coração de Deus.

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