sábado, 7 de agosto de 2010

Apenas um livro


A algum tempo atrás andei me perguntando qual a minha razão de ser no mundo... Hoje, estranhamente, acho esse questionamento pessoal patético (e talvez amanhã eu ache patético achar patético esse questionamento pessoal e volte a valorizá-lo, kkkkk).

Mas é questão hoje é nova e é essa: “Quem disse que temos que ser algo?”.

Esse questionamento meio que nos empurra para um dos estereótipos já estabelecidos e louváveis pelo cânon social; e, que fique claro, não estou aqui desprezando esse cânon e os maravilhosos postulados, especialmente os profissionais, que estabelece – que seria de mim sem os médicos, os professores, os cozinheiros, os costureiros? Apenas gostaria de focar O QUE SE É, não porque se estudou pra isso, não o que um titulo estabelece, mas o que fica de nós quando ninguém vê...

Compliquei? Deixa eu tentar exemplificar...

Digamos que você seja médico(a), certo? Você estuda o corpo humano e suas funções por exaustivos longos anos, se especializa numa área, trabalha pra “dedeu” (ao menos alguns, nesse exemplo é importante que você se imagine um(a) médico(a) trabalhador(a) e dedicado(a), kkkkkkk), constrói sua bela casa e constitui uma família. Aparentemente uma vida perfeita: esforço, trabalho, grana e família. Mas você não é médico o tempo todo, é?

Imagina se fosse, ao chegar em casa, num momento de intimidade com seu cônjuge: “amor, enquanto você me abraça o meu hipotálamo se estimula fazendo com que minhas glândulas supra renais produzam adrenalina e as fibras nervosas produzam noradrenalina agindo simultaneamente aumentando o pulso cardíaco e a temperatura do meu corpo junto ao seu e ampliando a sensibilidade das zonas erógenas para que sintamos prazer... vamos copular...”.

Já imaginaram que coisa chata? Kkkkkkkkkkkkkk...

É justamente disso que estou falando, do quem somos além dos títulos; de como somos quando ninguém vê... Quando somos exageradamente gente... Quando somos nós mesmos... entende?

É nessa perspectiva que repenso o meu papel!
E essa palavra “papel” me inspira a imagem do que sou quando nada sou – UM LIVRO!!!
Acho que nenhuma outra imagem simbólica poderia melhor me expressar...
Sei que há quem pense que a melhor imagem pra expressar-me seria uma vitrola com a agulha emperrada já que falo pelos cotovelos, kkkkkkkkkkkkkkk. Bem pensado, amigos!!! Mas é que costumamos nos ouvir tão pouco que acabo sentindo a necessidade de falar muito para que ao menos um pouco seja apreendido...
Não me entendo uma vitrola velha e sim UM LIVRO!!!

Aprendi, desde muito cedo, a importância do outro: seu encantamento, sua história, seus medos, desvalores e virtudes; descobri nesse contato com o outro o meu prazer. Hoje sei que acabei sendo, ao longo dessa história, um livro em branco aonde as pessoas, ao passarem por mim, foram escrevendo suas histórias...

Ri com algumas... chorei com outras tantas... porque, sendo escritas em mim, essas histórias tornaram-se a minha história. Por um tempo achei que havia me negligenciado a mim mesmo dando sempre mais importância a necessidade do outro, a história do outro... MAS NÃO!!! A história do outro passou a ser a minha história no momento em que ele se inscreveu no livro da minha vida.

De fato, essa reflexão depende de que valor se dá as relações... As pessoas escrevem suas histórias e passam, vão atrás dos seus sonhos e das suas prioridades; correm apressadas em busca de ser algo bonito e aparente que lhes garanta a idéia de segurança e poder tão desejadas por todos.

SEGURANÇA E PODER... Duas palavras as quais não posso almejar. Estabeleci como prioridade as minhas relações; construí meu mundo retirando dele os tijolos que adiciono as muralhas dos outros me tornando cada vez mais pobre, desamparado e livre. Como ter segurança e poder assim? Kkkkkkkkkkkkk...

Mas entenda-se: não tenho segurança e poder no sentido entendido como as pessoas buscam, mas carrego comigo a SEGURANÇA de saber que esse emaranhado sem valor que pareço faz sentido; que cada encontro, cada partilha, cada olhar, cada abraço, que cada coisa fez, faz, e dá todo sentido a minha vida. E tenho ainda comigo o PODER de amar as pessoas e não ter medo de me esconder por isso, aonde existe quem tenha medo de amar e admitir-se amante por medo de, inversamente a sua idéia de poder, parecer fraco.

Quantas miragens essa jornada pode nos apresentar pegando-nos em nossas sedes de acúmulos, segurança e poder...

De minha parte, vou me tornando cada vez mais pobre, pelas coisas as quais me proponho a deixar para trás e pelas coisas que não posso levar comigo (mesmo quando gostaria de fazê-lo); simultaneamente, me torno cada vez mais livre, e mesmo quando preso às histórias e pessoas, ainda livre, porque livremente escolhi prender-me...

No fim, não serei nada além de um velho livro de histórias...
Às vezes tendo virado a página...
Às vezes sendo página virada...

Louvado seja o Amor por permitir que seu evangelho seja compreendido na entrelinha dessa vida tão encantadora e repleta de histórias e significados.

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