Costumava
dizer que duas coisas nos estragam: tristeza demais e felicidade demais.
Como
assim? Deixa eu tentar explicar: o excesso de tristeza produz em nós uma espécie
de barreira de defesa; quando conhecemos tristeza em demasia, tudo em nós se
move, ao invés de para a produção da felicidade, no intuito de evitar a dor e a
tristeza. Pessoas muito sofridas costumam desconhecer o caminho da felicidade,
porque ela deixa de ser a meta; a meta passa a ser o “não sofrimento”, e talvez
nisso a nova forma de felicidade conhecida e desejada.
Acho
que, até aqui, é fácil entender, né? Mas tem o inverso, extremado como esse: ser
feliz demais é tão complicado quanto ser triste demais. Por quê? Imagine você
que só conhece de doce rapadura, certo? Sempre que ela pensa em doce, o que lhe
vem à mente? RAPADURA! KKKKKKKK... Se vier algo melhor que isso, é puro lucro,
porque seu paladar queria apenas o doce bruto da rapadura e com ele já estaria
satisfeito. Mas, de repente, numa dessas idas e vindas da vida, a essa pessoa é
oferecido o mais saboroso manjar... Imaginou a danação? Sempre que pensar em
doce, sua mente o remeterá ao doce mais saboroso que já provou - o manjar. Mas
manjar não é um doce assim tão comum, daí, tudo que lhe for oferecido vai
parecer insuficiente, apenas um “pelo menos”. Pode até satisfazer, mas uma
brecha, uma falta vai haver.
Acho
que assim ficou melhor explicado e feita a base para nosso olhar XXI: Quando a felicidade se faz parâmetro para a
infelicidade.
Minimamente,
apenas pela explanação anterior, podemos deduzir que ser felizes demais nalgum
momento da vida pode nos trazer infelicidade se aquele padrão não é atingido
noutro, mas o olhar que aqui proponho nos remete para uma dimensão ainda mais
singular.
Por
exemplo: Você vive uma relação afetiva incrível; ela acaba; mas torna-se referência
de felicidade, e você passa a tentar repetir ou até superar aquele padrão de
felicidade nas relações posteriores, e segue tentando... Se não consegue, a
razão age generosa lhe mostrando o quanto as pessoas são diferentes, o quanto
os tempos são outros, o quanto você pode inovar por ser uma nova relação... e
assim por diante...
Mas
quando o parâmetro para comparação, de um esplendor de felicidade, está na
própria relação que você está vivendo?
As
pessoas são as mesmas; os sentimentos “os mesmos”; a rotina a mesma... Nisso um
nó para a razão! O parâmetro para comparação dessa relação não é outra relação,
é a própria relação. Você conhece os mecanismos de acesso á felicidade nessa
relação, porque já o experimentou, mas, de repente, parece não saber acessá-lo
mais. Você tenta, a todo custo, retomar aquele padrão de felicidade, sem, no
entanto, conseguir, e a alma se constrange. A felicidade aqui torna-se condição
para a infelicidade.É como desejar comer o manjar, ter o manjar na geladeira, e
ele não ter o mesmo gosto. Mas como se é o mesmo?
Será
que é o mesmo??????
Com
certeza não! Talvez nessa certeza confusa, de que sendo o mesmo não é o mesmo,
esteja a chave que abre essa porta. Mesmo sendo as mesmas pessoas envolvidas na
relação, essa relação, na verdade, são relações, são novas formas de se
experimentar que vão assinalando os novos tempos que se vai vivendo. Quanto
mais tempo se vai vivendo junto, mas relações se vai vivendo, mas dinâmicas numa
mesma relação se vai experimentando, mesmo sem perceber, mesmo achando estar se
vivendo a mesma relação e, para cada nova dinâmica, uma ideia sensível de
felicidade diferente.
Palavras
aparentemente fáceis, mas na prática não é tão simples assim, eu sei!
Mas
talvez lançar olhar sobre essa complexa dinâmica nos possibilite desejar, nas
nossas relações, não a manutenção de um parâmetro fixo de felicidade, mas o exercício
das inúmeras felicidades, diferentes, algumas novas, outras já conhecidas,
outras mais intensas, outras suaves, mas diferentes, de forma que a felicidade
deixe de ser parâmetro para a infelicidade, mas para o desejo de ser feliz
ainda mais.
Que
ser felizes seja a meta, o projeto, a empresa, e a rotina mais rotineira e
repetitiva que possamos experimentar: todos os dias, dias de ser felizes.
Mais
um, entre tantos já feitos nessa página, brinde à felicidade!!!!!!
3 comentários:
O problema todo é que o ser humano acostuma com a felicidade e com a tristeza. Talvez a padronização de uma condição de felicidade seja mantido como exemplo pelo resto da vida. Ao findar essa condição, o ser humano, procura outra situação onde se possa trazer de volta a condição passada de felicidade nos mesmos padrões. Nem sempre isso é possível. Temos que estar abertos a outras experiências. Padronizar e tomar como exemplo é errôneo. O mesmo vale para a tristeza. O medo de passar de volta pela mesma situação, faz com que ficamos numa busca eterna de não retorno de condição infeliz. E assim entramos num loop infinito.
Cheguei aqui por um link no face do Israel. Gostei bastante do seu texto. Realmente a gente se acostuma em estar num dos dois polos, mas a vivência nos ensina que o meio é o melhor lugar para estar quase sempre, é isso que busco hoje em dia.
Beijocas
este texto dava para virar uma palestra, um seminário e um congresso! parabéns! fiquei pensando em muita coisa depois de ler! abs!
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