No auge dos meus 32 anos, me
sinto seguro o suficiente para afirmar ter aprendido que o amor não é uma forma
continua e uniforme. Ele cresce, decresce, se alegra e entristece, é criança e
amadurece, envelhece em dias e até morre se não lhe damos motivos para
permanecer jovem e viçoso.
Mas o amor não é um produto
numa prateleira com prazo de validade que, ao ser atingido, deixa-o inapropriado para o consumo, não! Ele tem prazos de validade sim, é fato, mas,
por outro lado, tem um poder incrível de regeneração capaz de ampliar o prazo
de validade para uma outra data mais adiante. Há pessoas que são tão
habilidosas nisso de regenerar o amor, que são capazes de ir ampliando seu prazo
de validade para uma vida toda, de etapa em etapa.
E como saber que esse prazo de
validade está prestes a se vencer? Os sinais são bem comuns e simples: o brilho
no olhar se perde e dá lugar às conveniências, sejam elas da segurança, da
valorização da história, da gratidão, do costume, da acomodação... O olhar
muda! Próximo da “data de fabricação” esse olhar é para o todo, dá significação
ao conjunto, vale de si, para si e por si mesmo. Quando se aproxima do prazo de
validade, esse olhar é comparativo, foca uma barriga que cresceu ou um peito
que cedeu à inevitável ação da gravidade; os outros vão sempre estar melhores,
mais em forma, com os melhores padrões de diversão, com as casas mais
harmoniosas e badaladas, e assim, aos poucos, aquele olhar que antes olhava
para dentro passa a só encontrar significação, prazer e beleza, da janela pra
fora.
Parte essencialmente gozada
disso tudo é que esse olhar que mudamos sai de dentro e vai para fora sem nunca
vislumbrar espelhos. Mudamos do olhar contemplativo para o comparativo sem fazer de nós exata apreciação de que, também nós, deixamos crescer a barriga, também
sofremos a ação da gravidade, também vemos ampliar o número de cabelos brancos,
mas o outro, apenas o outro, é quem decaiu.
Na verdade, ao falarmos de
validades, inevitavelmente falamos de tempo e, como já dizia o Pe. Antônio
Vieira no Brasil colonial, o tempo tira a novidade das coisas, as gasta, e
talvez por isso o amor, habilidoso como ele só na arte de se manter, estabelece
para si mesmo prazos de validade, momentos de reflexão que nos colocam diante
desse embotamento das cores para decidir recriá-lo e estabelecer para mais
adiante o prazo de validade garantindo assim mais noites de amor, mais risos,
mais suspiros... , ou não.
Mas como recriar o amor?
Olhar para trás não é o melhor
caminho porque, ao vermos o que foi bom, enxergamos também os pesos, dores e
cansaços que estabeleceram a validade do processo. Talvez o que faça ampliar a
validade do amor valer a pena seja justamente o risco, a dúvida, a novidade, o
inesperado de possibilidades que essa ampliação abre. Igual não vai ser mais
porque as fases se sucedem e se excluem. Igual não dá mais para ser, porque, o
sendo, não garantiu a durabilidade do processo. A abertura à novidade que a
ampliação do prazo de validade do amor causa talvez seja a condição, em si
mesma, para essa ação recriadora.
Outro dia cantei para um amigo:
“que venha o novo: novo sorriso, nova dor. Eu quero mais é viver um novo amor”.
Mas hoje acho poder parafrasear a mim mesmo cantando: “que venha o novo: novo
sorriso, nova dor. Talvez eu possa viver tudo NO MESMO AMOR”.
Um ósculo festivo nos que sabem
recriar o amor com criatividade no desejo de que essa força que de vós emana me
ensine a aprender a recriar os meus também.
2 comentários:
Não sei como recriar o amor, só deixo acontecer
Lindas e sábias palavras!!!
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