terça-feira, 3 de dezembro de 2013

COMO RECRIAR O AMOR?

No auge dos meus 32 anos, me sinto seguro o suficiente para afirmar ter aprendido que o amor não é uma forma continua e uniforme. Ele cresce, decresce, se alegra e entristece, é criança e amadurece, envelhece em dias e até morre se não lhe damos motivos para permanecer jovem e viçoso.
Mas o amor não é um produto numa prateleira com prazo de validade que, ao ser atingido, deixa-o inapropriado para o consumo, não! Ele tem prazos de validade sim, é fato, mas, por outro lado, tem um poder incrível de regeneração capaz de ampliar o prazo de validade para uma outra data mais adiante. Há pessoas que são tão habilidosas nisso de regenerar o amor, que são capazes de ir ampliando seu prazo de validade para uma vida toda, de etapa em etapa.
E como saber que esse prazo de validade está prestes a se vencer? Os sinais são bem comuns e simples: o brilho no olhar se perde e dá lugar às conveniências, sejam elas da segurança, da valorização da história, da gratidão, do costume, da acomodação... O olhar muda! Próximo da “data de fabricação” esse olhar é para o todo, dá significação ao conjunto, vale de si, para si e por si mesmo. Quando se aproxima do prazo de validade, esse olhar é comparativo, foca uma barriga que cresceu ou um peito que cedeu à inevitável ação da gravidade; os outros vão sempre estar melhores, mais em forma, com os melhores padrões de diversão, com as casas mais harmoniosas e badaladas, e assim, aos poucos, aquele olhar que antes olhava para dentro passa a só encontrar significação, prazer e beleza, da janela pra fora.
Parte essencialmente gozada disso tudo é que esse olhar que mudamos sai de dentro e vai para fora sem nunca vislumbrar espelhos. Mudamos do olhar contemplativo para o comparativo sem fazer de nós exata apreciação de que, também nós, deixamos crescer a barriga, também sofremos a ação da gravidade, também vemos ampliar o número de cabelos brancos, mas o outro, apenas o outro, é quem decaiu.
Na verdade, ao falarmos de validades, inevitavelmente falamos de tempo e, como já dizia o Pe. Antônio Vieira no Brasil colonial, o tempo tira a novidade das coisas, as gasta, e talvez por isso o amor, habilidoso como ele só na arte de se manter, estabelece para si mesmo prazos de validade, momentos de reflexão que nos colocam diante desse embotamento das cores para decidir recriá-lo e estabelecer para mais adiante o prazo de validade garantindo assim mais noites de amor, mais risos, mais suspiros... , ou não.
Mas como recriar o amor?
Olhar para trás não é o melhor caminho porque, ao vermos o que foi bom, enxergamos também os pesos, dores e cansaços que estabeleceram a validade do processo. Talvez o que faça ampliar a validade do amor valer a pena seja justamente o risco, a dúvida, a novidade, o inesperado de possibilidades que essa ampliação abre. Igual não vai ser mais porque as fases se sucedem e se excluem. Igual não dá mais para ser, porque, o sendo, não garantiu a durabilidade do processo. A abertura à novidade que a ampliação do prazo de validade do amor causa talvez seja a condição, em si mesma, para essa ação recriadora.
Outro dia cantei para um amigo: “que venha o novo: novo sorriso, nova dor. Eu quero mais é viver um novo amor”. Mas hoje acho poder parafrasear a mim mesmo cantando: “que venha o novo: novo sorriso, nova dor. Talvez eu possa viver tudo NO MESMO AMOR”.
Um ósculo festivo nos que sabem recriar o amor com criatividade no desejo de que essa força que de vós emana me ensine a aprender a recriar os meus também.

2 comentários:

Thiago de Assumpção disse...

Não sei como recriar o amor, só deixo acontecer

Fernanda Duarte disse...

Lindas e sábias palavras!!!