sábado, 28 de março de 2009

Grandes Olhos


Não sou muito de me olhar no espelho... Não que não goste da minha imagem! Mas é que fiz de mim uma imagem interna que não carece de se reconhecer fora... Das poucas vezes que me vejo no espelho é em ocasião da higiene diária, mas é essa uma visão muito geral e utilitária...

Mas desde ontem algo em mim tem chamado a atenção de mim mesmo nas poucas vezes que preciso me ver no espelho: “os meus grandes olhos...”

E não são os mesmos de sempre? Kkkkkk... Sim são!!! Exatamente os mesmos... e qual a razão de sua saliência visual?

Vivo um breve momento de angústia... daqueles em que a razão se perturba com a simplicidade e cotidianidade e fica procurando brechas... como uma grande represa segura e sólida onde a água, desejosa por movimento, procura pequenas fissuras que justifiquem escorrer em lágrimas... Ou uma ferida que volta a inflamar e lateja; não dói de fato, mas age de forma a que sempre, e em todo segundo, se saiba que está ali...

Esse breve de angústia e desejo da dor (para minh’alma necessário e freqüente em períodos de quaresma) meio que tende a fixar a alma em aspectos negativos e obscuros... algo como buscar o escuro para voltar a gozar do prazer da luz...

Nesse breve, fixo no frágil e feio, ao ter que me ver no espelho, meus olhos se prendem aos meus olhos e não o compreendem... parecem meio que em descompasso com o resto: onde tudo parece obscuro, eles têm brilho; onde tudo parece momentaneamente triste, eles riem... E para a razão inflamada e burra, por só saber das suas próprias e rasas razões, pareciam outros, pareciam de outra pessoa... por isso me confundiram a priori e depois me ensinaram...

Pelos meus grandes olhos apreendi da paz e da segurança, e da origem delas... enquanto tudo na razão perecível é confusão, sabendo ser ela parte tão ínfima do todo que não podemos com ela tocar, todo o resto é calmaria... enquanto tudo em volta no tocante aos sentidos perecíveis é grito, dentro há música e silêncio... Tudo isso justificado pela Pedra sobre a qual está fundada essa pequena choupana que sou eu... Toda a estranha alegria firmada no Tesouro mirado por meu coração...

Depois que descoberto isso, a razão burra se oprime, mas não deixo que se oprima a dor; deixo que doa, agora sem mais alimentá-la; que doa a dor até que se canse e cesse... também ela é-me tão necessária, como tudo o que é humano parece tão necessário a mim...

E por fim, como tudo que se processa em mim, tive um misto de gozo e medo...
Percebi que quem apreender a olhar e ler meus olhos poderá ler-me inteiro e ter acesso ao meu tesourinho de simplicidades e essências...
Rejubilei-me por imaginar que ele possa ser contemplado por outros olhos além dos meus e não se perca no egoísmo do meu eu... e amedrontei-me no temor envergonhado de quem se despe, sabendo que quem a eles souber decifrar poderá ver sutilezas e asperezas, claros e escuros que nem sempre sei mostrar...

Quem aprender a ler os meus grandes olhos terá tido acesso a tudo o que sou além do que os olhos podem ver...

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