terça-feira, 28 de setembro de 2010

OLHARES VI – Rotina

Eita! Palavrinha chata essa, não?!... relacionada à repetição, ao cansaço, ao marasmo, a rotina é considerada por muitos o ocaso do amor.
Não é difícil entender: acabou o fascínio inicial; passada a conquista, já não há mais esforços para o encantamento; e por falar de encantamento, esse também passou ficando em seu lugar a dura realidade de defeitos, brigas banais, aumento de peso e de contas, perguntas sem respostas... A rotina é o túmulo do amor!!!

A alma humana é assim, precisa ser estimulada, ter sonhos renovados... a rotina é como água parada: desoxigena e mata todas as espécies de vida nela...

Não vou continuar, sei que vocês podem fazer isso sozinhos – o restante das reflexões sobre rotina é por conta de vocês.

Terminaram?
Perfeito!
Agora é a hora da virada... Coloquemos nossas lentes:

Tudo no começo é irreal! Não que seja mentira, não é isso!!! É que faz parte da conquista estimular as virtudes e esconder os defeitos; abre-se a porta do carro e puxa-se a cadeira; liga-se todos os dias e faz-se juras de amor; elogia-se as coisas mais banais e passa-se por cima de pequenos aborrecimentos como se nada fossem... E os defeitos, onde estão? Um ou outro aparecem, porque não dá pra escondê-los por muito tempo, mas trata-se de disfarçar. Sem contar as horas a fio dedicadas a imaginar o que pode agradar o outro... (quem não passou por esse ridículo? Kkkkkkk).

Reitero: Não é mentira! Posto que são atitudes motivadas por sentimentos reais. Mas é irreal! Posto que foge ao humano estatuto de existir e se relacionar. E não que atitudes cordiais e generosas não possam ser mantidas ao longo do tempo, também não é isso que afirmo; apenas que esse estado inicial de “conto de fadas” e perfeição passa – e que ótimo que passa!!!

Por que “ótimo que passa”? Simples: esse é o nosso olhar de hoje – acompanhe!

Vimos que, a pessoa do começo da relação não é real; se a amarmos não estamos amando a pessoa em seu todo, mas apenas os poucos traços da sua personalidade que usa e valoriza na conquista. O que vai dizer mesmo do amor que se sente é a rotina. Passada a fantasia encantadora do começo, pouco a pouco, vamos nos mostrando no nosso real: nossas birras, ciúmes, acordar de lundu, esquecer datas, toalha molhada sobre a cama, diferenças de pensamentos e posturas, até “pum” embaixo do cobertor...

É aí que se descobre o amor! É fácil achar amar quando tudo é perfeito e vai bem, mas não é amor! Só se ama pessoas reais!

Nisso o encanto da rotina... passamos a nos conhecer em nossas luzes e nossas sombras e, mesmo assim, nos queremos muito bem. Já não perdemos tempo em adivinhar o que o outro gosta e vamos direto ao ponto com muito mais chances de acertar.

Sob a rotina, o que motiva a relação pode enfim ganhar status de amor porque, revelando quem somos, nos faz passiveis de ser amados em nosso todo – amores reais para pessoas reais.

É bem verdade que, com esse excesso de real no amor vem também aborrecimentos reais, mas desses não se foge em nenhum estado. Acho mesmo que não é sábio medir a felicidade pela presença ou ausência de aborrecimentos, mas pelo amor com que se ama.

Quanto à rotina, ela revela os verdadeiros amores sim: acordar ao lado de alguém com a cara amassada e achar a pessoa a mais linda do mundo; trazer da padaria um pequeno mimo só porque sabe que o outro gosta; usar o perfume preferido do outro na hora das “camaradagens” (kkkkkkkk...); ou, como diz um poeta amigo meu, “dormir numa noite difícil achando que foi um erro te querer, e acordar arrependido sabendo que só sou feliz com você”.

Saibamos nos encantar na rotina, valorizar os momentos mais simples, sem desconsiderar a necessidade de, ora ou outra, chutar o balde e fazer coisa novas, arejar o cérebro e a relação, para voltar á rotina mais seguros do seu valor porque, de alguma forma, todos já pensamos assim: viajar é muito bom, mas melhor é voltar pra casa... no sentido mais amplo, rotineiro e seguro que casa pode e deve ter.

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