quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O tal Deus das promessas...


Tenho ouvido muito falar nas promessas de Deus ou no Deus das promessas, tanto faz, ambas as proposições são uma espécie de marketing que, em tempos de calamidades sociais, faz com que as pessoas se aglomerem em busca de resultados milagrosos que as afastem de seus problemas.

Gozado isso: somos mentirosos, insensatos, pérfidos, hipócritas, egoístas, individualistas e gananciosos... Em consequência disso há fome, miséria, violência, morte... E há quem culpe Deus indagando: “Onde Deus está que não vê isso? Por que não faz nada?”

Egoístas como somos, mergulhados em nosso orgulho ou desespero, jamais compreenderemos Deus... Mas vale-nos recordar que Deus não nos fez para sermos escravos seus, para conduzir-nos como arionetes segundo sua vontade, não! A intenção de Deus é amor; e condição indispensável para o amor é a liberdade – ninguém ama porque é obrigado a amar! O amor é um exercício de liberdade, por iso o dom supremo do livre arbítrio...

Dotados de total liberdade, com inteligência capaz de nos fazer chegarmos as mais incríveis descobertas, inclusive a mais incrível de todas que é o conhecimento de Deus, temos utilizado das nossas potencialidades para a destruição: seja dos sonhos, da poesia, da subjetividade; seja da natureza e dos recursos humanos; seja a destruição uns dos outros direta ou indireta da que fazemos parte... Livres, somos agentes de atos cujs consequências se voltam contra nós sendo culpados ou inocentes... o pecado continua gerando morte...

Diante disso, gritam-se aos quatro cantos as promessas de Deus ou o Deus das promessas...

Nisso vários riscos... O mais imediato deles fazer de Deus um mercado de milagres. Como não estamos mais habituados à gratidão, logo a dificuldade seja sanada, Dele esquecemos e voltamos à nossa ignorância. Outro, talvez ainda mais nocivo que o primeiro, o de nos isentarmos da responsabilidade de construir o bem: "esse é um mundo de dor; aqui sofremos para ser felizes adiante; vivamos vidas infecundas a espera do cumprimento das promessas de Deus..."

Mas você ainda pode se confundir e perguntar: Mas afinal, Deus cumprirá ou não as promessas?

E eu replico com algumas perguntas em resposta: O sal precisa prometer salgar ou o açúcar adoçar?

Deus é em si mesmo toda a promessa e o cumprimento dela. Sendo fonte de todo o sumo bem, não precisa prometer amor quando é fonte e origem de todo amor; não precisa prometer misericórdia quando é todo misericórdia; não precisa prometer paz quando é sede da paz...

Então é só procurar e encontraremos tudo de que necessitamos em Deus?

Exatamente, mas não com pouco esforço!
A ação de Deus não é exterior, ao contrário, é interior: Ele age do lugar que habita em nosso peito, em nossa vida, em nosso coração – dentro de nós! Tanto mais sua ação é eficaz quanto mais o damos espaço... Daí o esforço: liberar os espaços interiores dos entulhos que as preocupações e egoísmo desse mundo que construímos, e nos determina a seu modo, imprime em nossa conduta e em nossa noção de felicidade.

E, outrossim, somos partícipes da ação e graça de Deus também para os outros quando, tendo no peito a origem do amor, agimos segundo o amor; tendo no peito a origem da misericórdia, somos misericordiosos; quando crescendo em nosso peito a origem de todo o bem, lutamos pelo bem...

Esperar então pelas promessas? Não! Apenas deixar que elas aconteçam a partir de nós.
Sofrer as opressões desse mundo na espera de um outro maravilhoso? Não! Fazer esse mundo maravilhoso...

E enquanto perdemos nosso tempo perguntando onde está Deus quando as coisas dão errado, Ele insiste em nos mostrar que a vida pode ser maravilhosa, nas pequenas coisas que nossos olhos adestrados para a grandeza não nos tem permitido ver: quando nasce uma criança; na natureza que se renova; num dia que nasce lindo; na risada que damos sem esperar que expande nosso pulmões e parece enche-lo de vida; numa carta que recebemos de alguém que já não dava notícias fazia tempo; no tempo que, em silencio, olhamos dormir quem amamos...

Oxalá nesses momentos nosso coração fosse tomado da compreensão de que tudo isso é um milagre, que Deus, a todo instante, está cumprindo suas promessas e, gratos, soubéssemos enviar-lhe um pensamento de amor cumprindo a única resposta que nos pede – AMAR.

Um comentário:

S Roberta disse...

A maior experiência que podemos ter... é sentir que esse Deus é real e sempre fiel em sua SIMPLES... mas GRANDIOSA presença em nossas vidas.
ELE É!!!! Isso nos basta...
Obrigada por nos fazer refletir sobre isso.