quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O livro dos dias

Há pouco senti uma atração e motivação interior imensa para escrever, mas o mais interessante é que essa motivação não veio movida por um assunto especifico sobre o qual tratar... nem sempre vem... e aqui estou eu, ou melhor, estamos nós, eu e você, esperando por quais caminhos essa sutil motivação nos levará...

Acho que vamos por aqui:
Esteve conosco, em minha casa, por alguns dias, minha sobrinha Julia (13 anos). Havia aproximadamente uns dois anos que não nos víamos... Uma explosão de energia a Julia: pulando pra lá e pra cá, topando nos móveis, quebrando coisas... Um furacão rebatizado KID (Kidesastre) kkkkkkkkkkk... Ter alguém novo no ninho requer adaptação; estando comigo no meu quarto, para celebrar nossa eterna empatia e união, alterou minha rotina... kkkkkkkkkkkkk... E eu, o tio resmungão, a reclamar e “passar gato” a três por quatro, sem contar uns puxõezinhos de orelha e uns beliscões para animar o processo...
Mas aí chegou o dia da nega ir embora... Volta à rotina, mas meu quarto é um pouco mais pobre... Não tenho mais KID para reclamar, para culpar pelo desmantelo e pelas coisas que somem; não tenho mais minha cúmplice de presepadas e risos; não tenho mais minha companheira que conversava tanto antes de dormir que cansava a língua; não tenho mais para quem gritar pela janela do quarto: “Julia! Desça agora! Não é daqui a pouco nem já já, é agora!”. Saudades da minha Nega Ni...
Em Caruaru – Pepé. Ô Pepé danado: pula, dança, se escorropicha pelas paredes... Adorando o mato, um verdadeiro aborígine na cidade... kkkkkkkkkkk... Com Pepé a crise da ética humana e dos relacionamentos: tendo nessa amizade um caminho totalmente aberto e de via dupla, observando questões em desalinho, meter-me ou não? Até que ponto se tem o direito de intervir na vida do amigo? Ou até que ponto isso é um dever? Ou ainda, que limite separa o dever afetivo de evidenciar algo na vida do outro e o limite para intervenção? Tendo algo para dizer a Pepé sobre ele mesmo, silenciando me sentia omisso e desonesto, falando um invasor, e fiquei dividido e triste...
Em alguns minutos, alguns olhares, poucos beijos e abraços tentar matar as saudades de Anne a Fabiana em quem “demos um cano”.
Com as meninas de Pão de Açúcar um misto: Sandra, a Leoa do Norte, fina e de pavio curto (digo: sem pavio) kkkkkkk... Para unir essas duas características recorrendo infinitamente ao lema “prefiro não comentar” – sábia técnica, preciso aprender; Carmem e sua avareza sentimental de não nos permitir demonstrar por ela carinho; Wagna a própria sedução pela clareza e altivez dos seus olhos; e Adriana? Essa agora deu pra “balançar a roseira” coletivamente e não deixa ninguém falar ao telefone... kkkkkkkkk... Como empobrecer num contato tão... tão... tão... assim!
Com Adriano um mal estar engraçado e divertido de raízes subentendidas mas que aqui nos serve a idéia de que as pessoas se sentem de forma diferente, que cada amizade é uma amizade com traços e padrões diferentes; talvez, na padronização o erro.
Em Joanês um breve de claro e escuro... na amizade uma compreensão da alma do outro na entrelinha, mas carente de confirmação na linha.
E tem ainda o que “fala de si”, o Fábio cobra com sua dentadura inoculadora de veneno... kkkkkkkkkk... Alguém distante mas bem presente nesse meu retiro... o companheiro no “infinity pré da TIM” com quem o assunto nunca falta...
Não poderia deixar de citar o Caninana enferrujado com carne por dentro dos ossos (Fran) que melindrasse facilmente e com tudo mas cujo coração melindroso também é morada de amizade fiel e prestativa.
De Arcoverde a notícia do falecimento de seu “Oré” e a triste sensação de estar longe das pessoas que amo e que sofrem essa perda, especialmente um abraço que tenho guardado para Will, filho de seu Ore, grande e querido amigo da minha juventude mas agora separados pela vida adulta, como se na dor pudéssemos fazer voltar o tempo...
E eu? Eu aqui sozinho no cafofo de Alan; quer dizer, sozinho não, infinitamente acompanhado dessa gente toda aí e de tantos outros que não poderia aqui relatar...
Essa foi a minha semana, e com eles: Julia, Alan, Adriano, Sandra, Wagna, Carmem, Adriana, Fábio, Fran, Will, me descubro vivo, intenso, real... Aprendo dessa maravilha que é encontrar pessoas, fazer e ter amigos... Aprendo que cada relação é uma relação e que nos encontramos sempre em pacote para presentes que inclui gostosuras e travessuras... Aprendo que não se pode ser todo e tudo luz, porque a luz excessiva não permite ver e contemplar e precisamos também das sombras para revelar a forma e os contornos... Aprendo da singularidade de cada pessoa, e do valor dessa singularidade agregada a mim, ensinando-me, lapidando-me, fazendo-me melhor e pior... No dizer do COBRA, tenho amigos de todo tipo: os que falam de si, os que falam do mato, os que falam de música, os que só pensam em comer, os que administram cercas elétricas para evitar afetos... kkkkkkkkkkk... “ô inferno pra ter cão!!!” kkkkkkkkkk...
Como você pôde ler, foram essas palavras simplórias, um relato simples da rotina afetiva de uma pessoa comum, sem grandes especulações psicológicas ou filosóficas. Mas, por outro lado, na simplicidade desses relatos, temos contato com a arte cuja apropriação é desejada e ansiada por muitas das teorias escalafobéticas e intra-histológicas das ciências humanas: A ARTE DE SE RELACIONAR, FAZER E MANTER AMIGOS.
Outro dia, ao relatar para um amigo o quanto sou chato, ele me perguntou: “que características uma pessoa tem que ter para te aturar?”, ao que respondi com presteza: “ME AMAR”. No mundo das relações humanas só dura o que tocado pelo amor, e esse, graças ao Amor supremo, nunca me faltou nem jamais há de faltar.