O Belo Monte era a parte mais alta da cidade sobre o qual havia um grande salão de festas...
Quando os bailes aconteciam, com as luzes do alto toda a pequena cidade se iluminava...
Junto a esse monte morava o jovem entregador de convites; sua função era endereçar e entregar os convites em ocasião dos bailes dados no grande salão; e por muito tempo ele exerceu essa função.
Conhecia bem o salão pois, vez ou outra, ajudava na limpeza para fazer um extra, e sempre que entrava nele imaginava as pessoas felizes, sorrindo, dançando... relacionava sua idéia daquele ambiente à sua imagem simbólica de felicidade.
Sempre que havia baile, ele abria a janela lateral do quarto onde dormia na humilde casa onde sozinho habitava, e tinha uma visão privilegiada do monte e do salão; gostava de vê-lo iluminado e escutar os risos e música que o vento, generoso, trazia até sua janela.
O entregador de convites sentia muito prazer em sua simples função, e, por muito tempo, aceitou os padrões como eram estabelecidos e se contentou em alegrar as pessoas entregando os convites para os bailes que adorava.
Mas num certo dia a razão tomou-lhe de uma possibilidade: se era ele a endereçar e entregar os convites, por que não endereçar um a si mesmo?
Ponderou... ponderou... e acabou por fazer justamente o que essa possibilidade nova lhe propunha – iria ao baile porque havia sido convidado (mesmo que por ele mesmo).
O dia do referido baile chegou... Não agüentava mais de ansiedade... Desejava aproveitar, ao menos um pouco, aquela felicidade que o baile representava e afastar-se da solidão em que vivia. Conseguiu um paletó usado; pregou só alguns botões soltos; engraxou os velhos sapatos dando a ele ares de novos; fez barba e cabelo; e comprou um bom perfume para pagar em algumas prestações; tomou um banho demorado...
Na hora marcada, pronto que estava, pediu a um amigo para levá-lo de carro até o alto do monte, pois não seria elegante chegar a pé; e ao entrar no baile seu coração se acelerou...
Era tudo lindo e perfeito como ele imaginara: luzes, música, brilho, bom vinho, risos, pessoas felizes... Um momento!!! Mas nem todas as pessoas estavam felizes! Como pode alguém estar triste num lugar e ocasião como aqueles?
No bar, homens tímidos ou feridos por amores não realizados... nas mesas, mulheres tristes e de ego ferido por não serem chamadas pra dançar... O que fazer?
Aí o entregador de convites teve uma idéia!
Gentilmente, e como quem não quer nada, passou pelas mesas e pelo bar e perguntou o nome das pessoas; depois pegou caneta e guardanapos e começou a enviar convites às pessoas para a dança em nome umas das outras; pediu ao maestro uma canção que aquecesse os corações e, aos poucos, os pares começaram a se formar e o salão se encheu de casais movidos por aquele clima de paixão...
Também o entregador de convites pode sentir seu coração se aquecer e desejou encontrar também alguém que lhe servisse de alegre companhia... Mas aí a tristeza: por causa dos seus convites todas as pessoas haviam encontrado seu par não sobrando ninguém para dançar com ele...
E o entregador de convites, estranhamente, sentiu-se muito só, mesmo rodeado por tantas pessoas... Ninguém nem sabia quem ele era ou o que fazia... Era só um entregador de convites... O salão e os bailes não eram o que ele esperava...
Triste, afrouxou a gravata e desceu, a pé, o monte em direção à sua casa...
Já em casa, depois de uma xícara de chá bem quente, o entregador de convites se sentiu reconfortado... Aos poucos a tristeza foi dando lugar ao gozo de pensar que sua função era justamente unir, congregar as pessoas... à sua mente foi vindo também o batalhão de pessoas a quem ele se sentia unido, e por essa lembrança, mesmo só, sentia-se melhor acompanhado do que quando estava no baile, porque é fácil ter pessoas fora, difícil é mantê-las dentro com carinho sempre renovado...
Tinha nas mãos, na pele, no olhar e no coração muito carinho pra dar... não ter quem os recebesse o constrangia, é verdade... mas decidiu-se por passar todo esse carinho para os convites que distribuía...
Ele sabia que choraria ainda algumas vezes a presença constante da solidão... sabia que seu papel era considerado maior que ele, mas encontrou prazer também em saber que todo o crédito ficaria para o Amor de quem era apenas pobre servo.
Quando os bailes aconteciam, com as luzes do alto toda a pequena cidade se iluminava...
Junto a esse monte morava o jovem entregador de convites; sua função era endereçar e entregar os convites em ocasião dos bailes dados no grande salão; e por muito tempo ele exerceu essa função.
Conhecia bem o salão pois, vez ou outra, ajudava na limpeza para fazer um extra, e sempre que entrava nele imaginava as pessoas felizes, sorrindo, dançando... relacionava sua idéia daquele ambiente à sua imagem simbólica de felicidade.
Sempre que havia baile, ele abria a janela lateral do quarto onde dormia na humilde casa onde sozinho habitava, e tinha uma visão privilegiada do monte e do salão; gostava de vê-lo iluminado e escutar os risos e música que o vento, generoso, trazia até sua janela.
O entregador de convites sentia muito prazer em sua simples função, e, por muito tempo, aceitou os padrões como eram estabelecidos e se contentou em alegrar as pessoas entregando os convites para os bailes que adorava.
Mas num certo dia a razão tomou-lhe de uma possibilidade: se era ele a endereçar e entregar os convites, por que não endereçar um a si mesmo?
Ponderou... ponderou... e acabou por fazer justamente o que essa possibilidade nova lhe propunha – iria ao baile porque havia sido convidado (mesmo que por ele mesmo).
O dia do referido baile chegou... Não agüentava mais de ansiedade... Desejava aproveitar, ao menos um pouco, aquela felicidade que o baile representava e afastar-se da solidão em que vivia. Conseguiu um paletó usado; pregou só alguns botões soltos; engraxou os velhos sapatos dando a ele ares de novos; fez barba e cabelo; e comprou um bom perfume para pagar em algumas prestações; tomou um banho demorado...
Na hora marcada, pronto que estava, pediu a um amigo para levá-lo de carro até o alto do monte, pois não seria elegante chegar a pé; e ao entrar no baile seu coração se acelerou...
Era tudo lindo e perfeito como ele imaginara: luzes, música, brilho, bom vinho, risos, pessoas felizes... Um momento!!! Mas nem todas as pessoas estavam felizes! Como pode alguém estar triste num lugar e ocasião como aqueles?
No bar, homens tímidos ou feridos por amores não realizados... nas mesas, mulheres tristes e de ego ferido por não serem chamadas pra dançar... O que fazer?
Aí o entregador de convites teve uma idéia!
Gentilmente, e como quem não quer nada, passou pelas mesas e pelo bar e perguntou o nome das pessoas; depois pegou caneta e guardanapos e começou a enviar convites às pessoas para a dança em nome umas das outras; pediu ao maestro uma canção que aquecesse os corações e, aos poucos, os pares começaram a se formar e o salão se encheu de casais movidos por aquele clima de paixão...
Também o entregador de convites pode sentir seu coração se aquecer e desejou encontrar também alguém que lhe servisse de alegre companhia... Mas aí a tristeza: por causa dos seus convites todas as pessoas haviam encontrado seu par não sobrando ninguém para dançar com ele...
E o entregador de convites, estranhamente, sentiu-se muito só, mesmo rodeado por tantas pessoas... Ninguém nem sabia quem ele era ou o que fazia... Era só um entregador de convites... O salão e os bailes não eram o que ele esperava...
Triste, afrouxou a gravata e desceu, a pé, o monte em direção à sua casa...
Já em casa, depois de uma xícara de chá bem quente, o entregador de convites se sentiu reconfortado... Aos poucos a tristeza foi dando lugar ao gozo de pensar que sua função era justamente unir, congregar as pessoas... à sua mente foi vindo também o batalhão de pessoas a quem ele se sentia unido, e por essa lembrança, mesmo só, sentia-se melhor acompanhado do que quando estava no baile, porque é fácil ter pessoas fora, difícil é mantê-las dentro com carinho sempre renovado...
Tinha nas mãos, na pele, no olhar e no coração muito carinho pra dar... não ter quem os recebesse o constrangia, é verdade... mas decidiu-se por passar todo esse carinho para os convites que distribuía...
Ele sabia que choraria ainda algumas vezes a presença constante da solidão... sabia que seu papel era considerado maior que ele, mas encontrou prazer também em saber que todo o crédito ficaria para o Amor de quem era apenas pobre servo.