É engraçado como tudo pode
mudar quando fazemos o exercício de olhar diferente, de inverter o ponto de
vista, de olhar com o olhar do outro... Nesse exercício se muda tanto de papeis
entre vilão e mocinho que chegasse mesmo a desconhecer a existência de um
papel, que na verdade nunca existiu... ou existiu, não sei...
A questão é que fiz esse exercício,
e o resultado foi surpreendente!!!
Vivo alardeando uma proposta de
vida: viver simples! Nela, vai-se liberando coisas, pesos, medidas, estruturas,
e enxugando a existência de forma a não ter muito com o que se preocupar de
concreto: nada de carros para se preocupar com estacionamentos – chinelo e
mochila; nada de mansões para se preocupar com manutenção e limpeza – fotos na
parede pra ter perto quem se ama, e meia dúzia de móveis cheios de significado; e indo por aí nesse sentido, sabe? É meio paradoxal sentir e pensar assim em
pleno século XXI, quando o capital tem tanto valor. Ganhar dinheiro é
necessário, mas às vezes passasse mais tempo ganhando ele que usufruindo dos
benefícios que ele pode trazer... Pergunto: vale a pena mesmo?
Enfim, não era a isso que
queria chegar ao começar esse post, mas precisava passar por isso pra dizer
que, assim, com medidas como essa, acaba me sobrando tempo e estrutura pra
viver a vida que entendo como vida, uma vida dentro, sentida, pensada,
experimentada, temperada, entendida, desentendida... Algo mais que “ir
existindo” entre o nascente e o morrente (na fala do saudoso coronel Ludugero).
Entre o nascente e o morrente, UM VIVENTE.
Retomando lá atrás o papo de
trocar de lugar, inverter os pontos de vista, os olhares; acreditando mesmo
levar essa vida simples, leve; descobri que, pra quem vê de fora, e pra mim
também, ela não tem nada de leve, ao contrário, é EXIGENTE demais.
Os outros é que vivem leves de
verdade!!! Relativizam tudo, fazem dessa e de todas as coisas um grande “tanto
faz”... Vive-se o momento sem reflexões, sem culpas... Vão-se construindo como
num mosaico de pedaços que vai montando alguma coisa meio “ARTE MODERNA”.
KKKKKKKK... Eu, do meu lado, construo minha vida como uma peça “ROCOCÓ” numa
sala em branco, cheia de detalhes, de arabescos, de iluminuras, esculpida na
pele, na alma, pela visceralidade da coisa mais simples e aparentemente sem
significado.
Agora pergunto: “Quem é mesmo
leve? Quem é mesmo simples?”
Hoje sei que eu não sou! Não
consigo viver esse “tanto faz”, esse “todo mundo faz”, me nego a ser esse
SUBSTANTIVO COMUM. Sou SUBSTANTIVO PRÓPRIO. Vou demarcando a minha história com
momentos que se tornam significativos, como se deixasse um rastro de migalhas
pra saber voltar pra casa, pra minha origem, pra origem de tudo, pra saber quem
sou, pra definir o quanto andei (se em frente ou em círculos). Por isso, vivo o
peso de sentir tudo, de experimentar cada palavra e os seus significados antes
delas saírem da minha boca (ao menos sempre que posso). Não sei viver esse
tanto faz comum e popularizado... Não sei dizer esse “eu te amo” que, quando
não sentido, é desrespeitoso, agressivo. Não mando flores sem cartão que, por
sua “não singularidade” tem a mesma naturalidade das flores de plástico. Não
sei deixar as coisas passarem sem significá-las...
Pergunto mais uma vez: “Quem é
mesmo leve? Quem é mesmo simples?”
Caramba! Não tenho como não
prestar aqui minha homenagem aos verdadeiramente simples. Acho lindo demais
quem vai vivendo, sorrindo quando tem vontade, chorando quando é preciso, sendo
o que o momento pede que sejam... Vivendo simplesmente...
Aí olho pra mim, esse burro
empacado, teimoso (penso nos meus pais e tenho dó deles, kkkkkkkk...). Não sei
ser simples. E o pior, esse não saber não me estimula a querer aprender. Quero
mesmo continuar insistindo em minha construção, minhas migalhas deixadas,
minhas significações, minha mochila de coisas poucas e uma mente e um coração de
coisas muitas, encantando a minha vida, fazendo ela ser um milhão em uma só,
quase um elefante de pesos e significados.
Aos leves, um abraço gostoso e
desculpas sinceras, vocês são lindos!!! Muito bom contemplá-los!!! Não fiquem
tristes comigo!!! Talvez um dia eu mude, quem sabe... Mas, por hora, e talvez
pra sempre, VOU CONTINUAR PIRRAÇANDO.