Quando falamos em liberdade,
pensamos imediatamente nos seus opostos: cárcere, prisão, limitação, censura...
De fato, o inverso disso é liberdade, não dá pra dizer do contrário. No entanto,
caí numa dúvida cruel que agora passo pra vocês: as pessoas fora dos cárceres
estão de fato livres?
Essa pergunta é confusa, eu sei,
e sua resposta é ampla demais; recai sobre uma série de prisões outras além das
físicas, as prisões subjetivas, e elas são inúmeras, não dá pra quantificar nem
catalogar.
Mas, nesses dias, dei por pensar
em liberdade numa dinâmica muito singular, e passei a desejar muito partilhá-la
com vocês. Mas antes de chegar ao olhar específico de hoje, queria que
pensássemos juntos em algumas atitudes bem rotineiras nossas...
Você já foi repreendido por algo
de errado que fez e respondeu: “mas todo mundo faz”? Já usou esse parâmetro,
né? Quem de nós já não pensou ou se justificou assim? Incluir outros em nossa dinâmica
de erros é meio que uma forma de nos perdoarmos um pouco, afinal, encontrando
outros culpados para o mesmo erro que o nosso não nos vemos assim tão “monstros”...
kkkkkkkkkkkkkkkk... É mais ou menos assim, consciente ou inconscientemente.
Sob essa dinâmica, meio que
alguns erros se tornam tão populares e corriqueiros que a ausência deles é que
é estranha, do tipo “todo brasileiro é corrupto”; eita, não é assim que dizem! Esse
é o fato mas, dito assim, parece pejorativo... desculpem! Diz-se: “usamos do
jeitinho brasileiro”, ficou melhor assim? Isso é tão patente que, quando alguém
encontra algo de valor e devolve ganha um status tão nobre que aparece até nos
telejornais. Mas não devia ser assim sempre? Por que tanta glória por uma
atitude que devia ser regra, natural, simples...
Não sei se ficou claro, mas
parece que um erro coletivo meio que perde o status de erro e ganha valor de ordinariedade
de forma que, mesmo compreendendo como erro, se todos fazem, também posso
fazer...
Mas adentremos outro
pensamento...
Sempre que a questão recai sobre
nossas relações afetivas o caldo entorna... kkkkkkkkk... Baseamos nossas
atitudes, nossa entrega, nossa participação, tudo, na resposta do outro, tipo:
só ligo se ligar, só digo que amo se disser, me entrego a medida que sentir
entrega, se trair eu traio... e assim por diante... Mas aí eu pergunto: onde
está o mapa, a regra, o mecanismo ou o parâmetro que mede amor, entrega,
verdade, lealdade?
Enfim, não problematizemos isso,
não é nosso foco! A questão é que, fazendo a gente pensar nessas duas dimensões
que incluem o outro, a nossa inclusão tranquila e afável num grupo de
infratores e nosso condicionamento afetivo passaram a brilhar para mim como
duas dimensões de “prisões” muito específicas por terem seu inverso num mesmo e
especifico olhar de liberdade que se tornou nosso olhar de hoje: LIBERDADE –
AUTONOMIA DO SER!
À primeira vista esse título pode
parecer egoísta, mas não! Acompanhe comigo: Todos podem ser corruptos e acharem
que isso é normal. Tudo bem!!! Mas comigo pode ser diferente. Não é porque
todos fazem isso ou aquilo que eu também tenho que fazer. Por exemplo: não é
porque todas as amigas da garota não são mais virgens que ela tem que fazer
sexo sem achar que chegou a hora! Não é porque homens gostam de futebol que
isso se faz uma regra e quem não gosta também tem que curtir! Não é porque as
pessoas são egocêntricas e egoístas que todos temos que ser! Vamos ser bons, só
por desaforo!!! Kkkkkkkkk... Essa AUTONOMIA DO SER é exigente, requer
personalidade, segurança, firmeza de postura, e revela um traço de liberdade
muito significativo: a liberdade dos estereótipos, da estupides massificante,
da idiotice coletiva, das opiniões desnecessárias...
E no amor? Caramba! No amor é que
essa AUTONOMIA DO SER é louvável. Gente, essa prisão às respostas do outro é,
pra ser bonzinho no uso das palavras, ingênua. Se a gente gosta, gosta e
pronto! Se o outro gosta também: maravilha! Estabelecemos relação. Se não
gosta: paciência! Isso não muda meu sentimento nem minha postura.
Não liga? Se estou com vontade de
ligar, vou ligar sim!!! Quero ouvir a voz, saber notícias... A vontade é minha,
sou livre para exercê-la. Vou parecer ridículo? E daí?! Parecer não é ser.
Ridículo é quem se consome com vontade de ligar e não o faz.
Essa autonomia, essa singularidade
da vontade e sua segurança em se garantir nesse desejo, nessa vontade, nessa postura
de ser o que se é se faz tão significativa e um traço tão sublime de liberdade
que, quanto mais tento explanar, quando olho para os exemplos que usei e como
usei, sinto não ter tocado nem a superfície da essência desse olhar de
liberdade, mas mesmo assim vou deixa-los aqui registrados para que vocês possam
fazer suas próprias inferências e aprofundar essa superficialidade...
Certa vez, quando era ainda mais
jovem, ouvi uma sentença que limitava minha atuação em algo que eu desejava
muito: você é livre demais. Eu era
jovem demais para entender essa sentença. Mas hoje sei que, talvez, eu tenha
sido eu demais, eu tenha tentado me sentir e me achar em cada coisa que fiz,
não porque todos deviam fazer, mas porque aquela era a minha história e
precisava ter a marca da minha busca, dos meus questionamentos... Enfim...
Ser livre é mesmo um desejo intrínseco
à nossa alma e um exercício para toda a vida. Que saibamos exercitar essa
AUTONOMIA DO SER para o bem, para a personalização das nossas ações, das nossas
motivações, deixando em tudo o que tocamos o perfume que trazemos nas mãos, não
o perfume do momento que passa na propaganda da tv e posso dividir em 4x no
cartão, mas nosso perfume pessoal, aquele que cada pele exala sem possibilidade
de haver outro igual.
Sejamos bons, mesmo que seja só
pra contrariar; amantes no mais profundo sentido que essa palavra pode ter e,
assim sendo, sejamos livres (ao menos no sentido desse olhar, porque nunca
somos livros em tudo...).
Hoje o brinde é diferente: um
brinde à autonomia do ser!!!
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