(Peço licença para, entre nossos olhares, olhar um pouco pra mim em descompasso...)
Que dia é hoje? E que horas são?
Por que será que ando sempre tão descompassado?
Às vezes acelerado demais, outras lento demais...
Mas indo... para algum lugar no futuro: longe ou breve...
Quantas vidas será que ainda posso viver?
Quantos ainda posso ser?
Pode o amante não infundir-se um pouco na coisa amada?
Acho que fiz tudo MUITO, sob ares de sobriedade: sorri muito, chorei muito, sonhei muito, amei muito... Fui sempre muito excessivo; e que bom que fui!!! Kkkkkkkk...
Mas todo excesso tem seu preço...
Emprestei-me... Dei-me... uni-me... infundi-me... em tudo e todos... Mas o excesso gastou antes do previsto todas as minhas reservas...
Espalhei-me em tantas partes a perder de vista que quase me perco por completo...
Magoei-me comigo mesmo por ter-me deixado quase extinguir; Não me vi sumir, e ninguém também viu...
Tive que implorar às minhas partes seu retorno, porque queríamos ficar exatamente onde estávamos, porque ali estávamos por escolha e amor... Tive mesmo que ser persuasivo afirmando que, morrendo a raiz não haveria mais ramos...
E assim fizemos um processo decrescente: retrocedemos, devagar, definhando até sermos novamente um, semente, âmago, ânsia, projeto...
Fazia tanto tempo que nem me lembrava mais como é estar completo... a lembrança mais próxima dessa sensação que tive foi resgatada na infância, quando era completo em tudo e a todo momento...
Foi tão estranho me encontrar de novo... abracei-me com tanta força e calor como se não me visse a muito tempo, como se sentisse muitas saudades de mim sendo eu mesmo... kkkkkkkkk...
Sempre tive uma relação estranha com espelhos; vira e mexe me pegava assustado ao me sentir envolvido por um olhar que é meu ao fitar-me de súbito nos espelhos de lanchonetes... kkkkkkkkk... Estava sempre a um fio de me apaixonar por mim mesmo.
Acho que isso, afinal, aconteceu: estou apaixonado... Escuto músicas mais de 10 vezes seguidas, suspiro, gosto de ficar comigo, danço sozinho... sintomas de paixão, né? Só que por mim mesmo!!!
É estranho, confuso, egoísta, engraçado, natural, bom, tranqüilo...
É um grande não dito como tantas outras coisas extraordinárias e cotidianas que se processam em nós sem encontrar tradução nas palavras...
Se me pedissem para dizer tudo o que dito aqui em poucas palavras diria: é existir; é ser gente; só!
Um grande viva a quem somos, à vida, à Deus e a todo o encantamento!!!