sexta-feira, 5 de julho de 2013

teraPIA


Aqui em casa, de galhofas, costumo dizer que a PIA cheinha de pratos é sempre a melhor teraPIA... kkkkkkkkkkkk... Ô diabos que não fica limpa quase nunca é pia!!! Por isso, a teraPIA é incessante...
De fato, para mim não há melhor terapia que conversar. Quem me conhece sabe que falo pelos cotovelos (como diz o amigo Fábio Lima/Cobra: “sabemos falar de nós”). Mas, da mesma forma que sei e adoro falar, também sei e adoro calar, em igual medida. Confesso mesmo que às vezes falo mais quando calo e quando falo as pessoas parecem surdas. Mas enfim: hoje é dia de falar...
Odiei crescer!
Detestei ter de ir esvaziando meus bolsos dos sonhos para dar espaço à contas e grana pra pagar contas. Esse é o resumo da vida adulta: fazer contas x trabalhar x pagar contas; num ciclo ininterrupto.
Senti muitas saudades de mim mesmo, do cara bacana que um dia achei que fui, com os bolsos cheios de ideias e arte, e o coração cheio de fé e amigos... Senti muitas saudades de mim mesmo, acredite... Aquelas saudades doloridas de ter que deixar partir o que já não podia permanecer...
E não é que ser adulto seja difícil, não! Pra ser sincero, já conhecia essa experiência desde muito antes. O complicado de ser adulto de fato é que consome muito tempo. Gasta um tempo, para mim sempre sagrado, de sonhar, de ser feliz, mas com tempo de saber-se feliz, o que triplica a sensação de felicidade.
Foram dois anos e meio de transição: casa por montar; perfil profissional a definir; contas a fazer; outras a pagar; correria; ponte rodoviária; duas casas para amar – uma aqui sozinho habito e outra a que minha alma habita junto à minha família; poucos amigos; muitos pratos pra lavar... kkkkkkkkkkkkkk... E uma angústia enorme por não sobrar tempo para ler um livro, ver um filme, dormir dignamente de cabeça tranquila, jogar conversa fora com os amigos, viajar, fazer planos – POR POUCO NÃO PEÇO PINICO!!! KKKKKKKKKKK...
Mas passou, como tudo que passa...
A casa tá montada, no mais amplo sentido da palavra: a casa de fora e a casa de dentro. Se bem que sempre falta alguma coisa; coisas antigas se estragam e precisam ser renovadas (tanto na de dentro como na de fora). Aceitar esse (in)fluxo me colocou de volta na rota.
Comecei por deixar a casa de fora 3 dias sem arrumar e me permiti ver um filme, dormir a tarde, deixar pratos de um dia para outro na famosa PIA, e sonhar... tinha deixado outra casa, mais importante, a de dentro, bagunçada por dois anos, que mal faria deixar essa de fora por 3 dias e sonhar? Vi filmes, escutei música, toquei violão, falei ao telefone, e percebi que estou no comando e não sou esse avatar macabro preso no sistema capitalista repetindo padrões estereotipados.  
Se consegui reaver o menino mim mesmo de quem sentia saudades? Não! Ele cresceu! Experimentou como menino o que se lhe oferecia ao menino, e me ensinou muito com isso. Hoje sou um homem, pronto para experimentar o que se me oferta ao homem que sou.
Kkkkkkkkk... Coisa simples, mas fato de ser adulto numa gaiola de 4º andar que me permite ver o melhor da cidade é andar nu pela casa: fiz como criança, sendo criança, e com a dinâmica de simplicidade própria da criança, e agora volto a fazer longe dos olhos de todos, mas numa dinâmica própria dos dias que tenho e da vida que levo...
E esse nu é muito simbólico... Próprio de uma alma avessa a fama e publicidades fingidas e adepta do revelar-se... o que faço aqui hoje, depois de tantos dias de silêncio...
Espero não ser ao menos um momento de sanidade em meio a loucura dos dias, espero perpetuar esse estado de clareza e manter esse canal de comunicação aberto mãos uma vez; mas se não conseguir, se, ao amanhecer, voltar a olhar com olhos míopes, terei aproveitado ao máximo esse insight de autoafirmação...
Beijo a quem interessar ser beijado...

OLHARES XXI - Quando a felicidade se faz parâmetro para a infelicidade


Costumava dizer que duas coisas nos estragam: tristeza demais e felicidade demais.
Como assim? Deixa eu tentar explicar: o excesso de tristeza produz em nós uma espécie de barreira de defesa; quando conhecemos tristeza em demasia, tudo em nós se move, ao invés de para a produção da felicidade, no intuito de evitar a dor e a tristeza. Pessoas muito sofridas costumam desconhecer o caminho da felicidade, porque ela deixa de ser a meta; a meta passa a ser o “não sofrimento”, e talvez nisso a nova forma de felicidade conhecida e desejada.
Acho que, até aqui, é fácil entender, né? Mas tem o inverso, extremado como esse: ser feliz demais é tão complicado quanto ser triste demais. Por quê? Imagine você que só conhece de doce rapadura, certo? Sempre que ela pensa em doce, o que lhe vem à mente? RAPADURA! KKKKKKKK... Se vier algo melhor que isso, é puro lucro, porque seu paladar queria apenas o doce bruto da rapadura e com ele já estaria satisfeito. Mas, de repente, numa dessas idas e vindas da vida, a essa pessoa é oferecido o mais saboroso manjar... Imaginou a danação? Sempre que pensar em doce, sua mente o remeterá ao doce mais saboroso que já provou - o manjar. Mas manjar não é um doce assim tão comum, daí, tudo que lhe for oferecido vai parecer insuficiente, apenas um “pelo menos”. Pode até satisfazer, mas uma brecha, uma falta vai haver.
Acho que assim ficou melhor explicado e feita a base para nosso olhar XXI: Quando a felicidade se faz parâmetro para a infelicidade.
Minimamente, apenas pela explanação anterior, podemos deduzir que ser felizes demais nalgum momento da vida pode nos trazer infelicidade se aquele padrão não é atingido noutro, mas o olhar que aqui proponho nos remete para uma dimensão ainda mais singular.
Por exemplo: Você vive uma relação afetiva incrível; ela acaba; mas torna-se referência de felicidade, e você passa a tentar repetir ou até superar aquele padrão de felicidade nas relações posteriores, e segue tentando... Se não consegue, a razão age generosa lhe mostrando o quanto as pessoas são diferentes, o quanto os tempos são outros, o quanto você pode inovar por ser uma nova relação... e assim por diante...
Mas quando o parâmetro para comparação, de um esplendor de felicidade, está na própria relação que você está vivendo?
As pessoas são as mesmas; os sentimentos “os mesmos”; a rotina a mesma... Nisso um nó para a razão! O parâmetro para comparação dessa relação não é outra relação, é a própria relação. Você conhece os mecanismos de acesso á felicidade nessa relação, porque já o experimentou, mas, de repente, parece não saber acessá-lo mais. Você tenta, a todo custo, retomar aquele padrão de felicidade, sem, no entanto, conseguir, e a alma se constrange. A felicidade aqui torna-se condição para a infelicidade.É como desejar comer o manjar, ter o manjar na geladeira, e ele não ter o mesmo gosto. Mas como se é o mesmo?
Será que é o mesmo??????
Com certeza não! Talvez nessa certeza confusa, de que sendo o mesmo não é o mesmo, esteja a chave que abre essa porta. Mesmo sendo as mesmas pessoas envolvidas na relação, essa relação, na verdade, são relações, são novas formas de se experimentar que vão assinalando os novos tempos que se vai vivendo. Quanto mais tempo se vai vivendo junto, mas relações se vai vivendo, mas dinâmicas numa mesma relação se vai experimentando, mesmo sem perceber, mesmo achando estar se vivendo a mesma relação e, para cada nova dinâmica, uma ideia sensível de felicidade diferente.
Palavras aparentemente fáceis, mas na prática não é tão simples assim, eu sei!
Mas talvez lançar olhar sobre essa complexa dinâmica nos possibilite desejar, nas nossas relações, não a manutenção de um parâmetro fixo de felicidade, mas o exercício das inúmeras felicidades, diferentes, algumas novas, outras já conhecidas, outras mais intensas, outras suaves, mas diferentes, de forma que a felicidade deixe de ser parâmetro para a infelicidade, mas para o desejo de ser feliz ainda mais.
Que ser felizes seja a meta, o projeto, a empresa, e a rotina mais rotineira e repetitiva que possamos experimentar: todos os dias, dias de ser felizes.

Mais um, entre tantos já feitos nessa página, brinde à felicidade!!!!!!