segunda-feira, 15 de novembro de 2010

OLHARES VIII – Desculpas sinceras só se pede uma vez


Considero, cá comigo, desculpar-se um dos atos mais sublimes de humildade e crescimento individual para quem o pratica. De humildade porque, para ser levado a sentir necessidade de desculpar-se, alguém precisa admitir primeiro, para si mesmo, que errou, que foi falho com alguém; e não só, não só admitir-se em erro ou falta mas fazê-lo diante da outra pessoa ao desculpar-se. E de crescimento individual posto esse “admitir-se falho”, para um bom aprendiz, ser base para uma reflexão que possibilite melhorar naquele ponto em questão.

Acredito mesmo que, nos moldes que tratamos, o ato de desculpar-se é honroso, completo em si mesmo: somos falíveis e sujeitos a falhas – erramos; admitimos para nós mesmos que erramos com alguém; admitimos, diante desse alguém, nosso erro, e nos desculpamos; refletimos sobre o fato de forma a, na mais ajustada proporção possível, não mais vir a falhar no mesmo ponto. Lindo! Sublime! Salvífico para nossa interioridade e nossas relações.

Mas vocês já conheceram “desculpeiros de profissão”?

Tenho certeza que sim!!! Eu mesmo já conheci um monte...

Não! Mas esse povo tem uma facilidade de pedir desculpas que só vendo! (E de inventar desculpas também). Desenvolvem uma tal habilidade em fazer com que as pessoas se compadeçam das suas desculpas que alguns acabam fazendo mesmo com que a pessoa ofendida sinta desejo de pedir-lhes desculpas.

Tá rindo, né? Eu confesso que também ri aqui sozinho comigo mesmo ao recordar alguns acontecimentos e rostos... Mas vamos rir não que o negócio é sério!

Pessoas que aderem a essa prática, a de desculpar-se e inventar desculpas, sofrem de uma “deficiência” de personalidade chamada egotismo. Diferente do egoísmo, relacionado ao “querer (tudo) pra si”, o egotismo, também relacionado ao ego, se observa em pessoas que constroem a vida e as circunstâncias de forma a triunfar, a ser merecedoras de honras, flores, placas condecorativas. Destinados a esse fim, ao de triunfar, é que se desculpam sempre e inventam desculpas as mais significativas de forma a convencer os outros, e até a si mesmo, do quanto são “legais”, mesmo quando sabem que flararam. A ofensa mais dorida para pessoas assim é o não reconhecimento dos seus ESFORÇOS. E não quero dizer com isso que sejam pessoas desprezíveis; NÃO! Ao contrário! Podem até ser pessoas generosas, prestativas ao extremo, mas, no fim, toda essa dedicação, embora passe pelas pessoas, tem por finalidade e destino a apreciação do próprio ser. E não tem haver com egoísmo diretamente, mas o evoca porque acaba levando essas pessoas a um olhar umbilical que os cega para as pessoas à sua volta – daí a necessidade de ter que pedir tantas desculpas.

Acho ainda significativo dizer, para nossa reflexão pessoal, que, em maior ou menor grau, todos nós somos acometidos de egotismo. Cabe-nos reconhecê-lo em nós e administrá-lo. Mas aqui falamos de pessoas que o tem como traço de personalidade.

Enfim... acabamos por enveredar por reflexões espirais – voltemos ao nosso foco e ao OLHAR de hoje.

Falávamos da atitude sublime de reconhecer-se em erro, desculpar-se e produzir as mudanças necessárias para não reincidir nele. Depois falamos dos que pedem e inventam desculpas como quem respira. E é depois desses pressupostos que afirmo: DESCULPAS SINCERAS SÓ SE PEDE UMA VEZ!!!

É isso mesmo que você está lendo! E não firmo com isso que não devemos pedir desculpas, ao contrário, devemos sim. Mas aqui me refiro a ter que pedir desculpas mais de uma vez em se tratando do mesmo erro. É um total atestado de incompetência humana. Errou? Todos erramos! Vamos refletir e desculpar. Mas errar de novo e desculpar-se, e de novo, e de novo... vamos ser fracos para um determinado erro, mas vamos ter limites ou, no mínimo, brio. Quando alguém tem de vir a desculpar-se várias vezes pelo mesmo erro o ato de desculpar-se, como vimos no começo, em vias de um melhoramento pessoal, não está sendo feito; as desculpas, nesse caso, tornaram-se automáticas, “cara lisa”. Desculpar é tão sublime quanto pedir desculpas, eu sei, mas desculpar sempre, embora pareça altruísta, apenas reforça essa atitude irrefletida e promove a repetição dessa mesma dor – e dores cíclicas são como erosão de chuva e vento nas rochas, pode até demorar, mas desgasta de forma irreversível.

Eu, de minha parte, adoro pedir desculpas por coisas simples: esbarrões na rua, pisões no pé... kkkkkkkkk... Mas detesto pedir desculpas por coisas grandes; não que me custe pedi-las, mas me doe saber que fui insensível às pessoas à minha volta, especialmente as que mais amo – e que pena que não podemos fazer as pessoas que amamos apenas felizes... Dentre as coisas das quais já fui acusado, tive que me desculpar, e vim a ter que me desculpar de novo pelo mesmo erro está a acusação de que exijo demais das pessoas. Já me desculpei por isso e não o faço mais; não consigo me sentir culpado por esperar que as pessoas sejam o melhor que podem ser.

Ao fim, resta-nos a dedicação a aprendermos a pedir desculpas, sendo elas sinceras, destinadas ao nosso melhoramento pessoal e ao bem das nossas relações. É possível que voltemos a cair no mesmo erro nalguma vez, afinal, somos falíveis, mas que isso seja encarado como mais uma oportunidade de rever esse ou aquele ponto e melhorá-lo. Viver e ser quem somos não é um exercício aleatório de causas e efeitos; antes, é uma empresa que exige dedicação, investimento e cuidado. Falaremos sobre isso no nosso próximo OLHAR.

Beijos na bunda de todos que fizeram essa leitura com o desejo de muitas bênçãos de sabedoria e amor...

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