sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ser & Existir


Tudo no mundo revela a grandeza de Deus: as cores, a natureza soberana... Mas nada como o ser humano! Nunca um só de nós se repetiu ou repetirá, o que faz de nós obras originalíssimas desse Artista amoroso...

Mas aprouve a Deus estabelecer alguns traços de personalidade e gênios que, mesmo nunca iguais, podem ser identificados; também os traços de personalidade e gênios, até os negativos, são uma bonita forma que Deus encontrou de nos botar em grupo e gerar equilíbrio – quando devidamente utilizados...

Existem muitas teorias psicológicas e filosóficas que falam sobre o ser e o existir; pra ser bem sincero não as domino, mas vou tentar partilhar o que é ser e existir para mim:

Para mim existo desde que fui concebido e, por questão de fé, creio já existir mesmo desde antes como pulso amoroso do coração de Deus, mas tomemos a concepção por base de raciocínio. Ao existir, reconhecido como pessoa no mundo, trouxe impresso um traço de personalidade e um gênio, ambos fortemente influenciados pelas relações sociais e experiências vividas ao longo dos anos (é fato).

Do que trouxe comigo, e faço disso recordação desde a minha mais tenra memória, um traço sempre preponderou e forjou sua marca: uma espécie de desprezo pela opinião coletiva. Entenda-se: esse não é um processo 100%, nem poderia, posto que me importei sempre, de algum modo, com a opinião os meus pais e das pessoas que amo; mas a questão é que essas opiniões nunca influenciaram de forma direta nas minhas escolhas – escolhi, na maioria das vezes, segundo os valores do meu coração e minha consciência sem me importar que aparências ou o que achariam disso ou daquilo.

Como disse, reconheço nisso um traço, posto que não escolhi diretamente nem é para mim nenhum esforço pensar e sentir assim, ao contrário, é-me sofrido, por vezes, ter que agir do contrário para manter-me unido aos grupos sociais de que faço parte.

Essa suposta liberdade dos paradigmas sociais a minha volta me fizeram criar um mundo muito particular de valores e condutas muito próprios que, a sua maneira, agregaram ao meu existir uma certa inabilidade social, posta a pouca compreensão das pessoas desse mundo existencial pessoalíssimo e sem nenhuma preocupação em se revelar.

Ainda nessa dimensão existencial, habituado a esse mundo dentro, reconheci gostos e desenvolvi habilidades; os principais gostos: Deus e as pessoas; habilidades: sensibilidade para as questões humanas de uma forma tão exacerbada que me sinto próximo de tudo e todos, participante de toda e qualquer virtude ou desventura.

Aqui tentei explicar, resumidamente, a minha existência, entendida como a essência, o âmago de cada um e da construção que faz de si mesmo, na total liberdade.

Mas quanto a ser? O que sou?

Enquanto a existência é algo inerente o ser é algo social. O ser é o “ser no mundo”, é o conjunto de aptidões e escolhas que você faz, constrói e transforma numa ação social humana que será sua marca nessa trajetória.

Grosseiramente, o existir seria o conjunto das nossas construções interiores, e o ser a tradução disso numa construção exterior, social.

As habilidades de isenção a opiniões e sensibilidade à minha existência associadas me fizeram criar um mundo paralelo e certa inabilidade social que sempre foram para mim um entrave ao ser.

Do meu ser se dizia: “É um louco! Não sabe o que quer! É um perdido, nunca vai ser nada na vida!”. De fato, jamais haverá compreensão de uma existência que não se traduz em ser, que mais tende ao não ser e encontra nisso seu gozo!

Mas não dá para passar por essa existência sem ser posto que algo sou, mas o que sou? Qual é meu traço de “ser no mundo”?

Já passei pela psicologia, mas ela era rasa e paradoxal demais; passei pelas letras, exerci e vivi, a seu tempo, o prazer do magistério, mas fiz “as letras” não por ele, mas pelo gosto e fascínio da entrelinha; já passei pelo convento procurando um ser sublime que encontro mais verdadeiro aqui fora... O que sou afinal?

O que sei fazer que seja bom? Usei isso como pressuposto para análise. Sei fazer de tudo um pouco, nunca me amedrontei ante nenhuma tarefa, os que me conhecem sabem disso... Mas no que sou bom? Qual é meu traço forte que valha a dedicação do esforço e minha excelência?

Aí nada achei... Sou meio que um ambulante faz tudo, daqueles que empurram uma carrocinha gritando pela rua: concerta guarda-chuva, panela, amola alicate, tesoura... Essa também, a do faz tudo, é uma experiência digna de ser posta sua funcionalidade, mas como traço personal não “é”.

Zerada essa possibilidade, não havendo nada no que eu seja bom, enveredei por pensar no que, de todas as coisas que eu sei fazer, mesmo sem que eu seja nisso bom, tem a capacidade de me absorver de forma a me ter todo quando o executo? Aí não foi difícil achar!!! Duas coisas imediatamente se me mostraram seguras do seu poder de me absorver e fazer transcender e aproximar-me simultaneamente de Deus e dos homens: ESCREVER e CANTAR. Essas são as duas principais formas da minha comunicação com Deus e da comunicação do meu mundo interior com o exterior: LETRAS E SONS.

Sou professor por formação e um montão de coisas ou nada na expectativa dos outros, mas nisso não estou nem sou.

Fiz de mim a mais nova descoberta e que vale o meu esforço e o empenho de toda a minha vida sem com isso desprezar da tudo quanto amei até hoje.

Sei que de pouca aceitação e de dificílima execução posto o preconceito aos que trazem arte dentro, mas eis o que fiz de mim mesmo, assumo publicamente e o serei até o último dia da minha vida: MÚSICO e POETA.

Se aprouve a Deus imprimir em meus olhos um pouco do seu olhar ampliando-os para a observação de sutilezas pouco vistas, as que se mostram no claro, mas também no escuro da alma, pensa-me artista. E terei encontrado a glória verdadeira nessa vida, não exaltando-me aos olhos dos homens, mas aproximando-me ao máximo da justa medida do que Deus pensa de mim.

Rennan de Barros

terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma estranha forma de carência


Tema dolorido esse... rsrsrsrrsrsrsr... mas deslizemos por ele...

Digo dolorido porque toda carência implica em falta; toda falta desejo pela coisa faltante, que quando não é suprida gera dor. Por outro lado, ainda falando de carência como desejo por algo faltante, havendo falta e desejo, isso é meio que uma mola propulsora que nos dá forças para buscar...

Toda carência encerra falta... acho que nisso concordamos... E acho que podemos concordar também que uma das nossas principais carências é a de carinho, atenção, afeto...

Nesse contexto descobri em mim uma forma estranha de carência, meio que inversa as demais, mas não menos faltante nem menos dorida. Sua estranheza está no seu inverso: Não sinto falta de carinho! Ao contrário – desse vivo um excesso!

Mas como alguém que tem carinho em excesso pode se dizer carente? – você pode pensar.

Mas esse excesso também encerra em si uma falta não menos faltante nem menos justa que as demais: falta de pessoas para receber o carinho que jorra daqui de dentro...

E nisso mais um incoerência: se as pessoas são carentes de carinho e tem quem o ofereça, uni-se aí útil e agradável, certo?

Não! Errado! Totalmente errado!!!

Não educamos as nossas emoções para receber carinho. Ao menos não um carinho desinteressado. E fugimos das situações de carinho porque carinho evoca carinho, meio que um compromisso silencioso de responder ternura com ternura, e nem sempre estamos dispostos...

Daí inventamos formas de nos convencermos de que não queremos o que precisamos, o que, na verdade, só revela nosso medo da felicidade. Medo de amar e ser amados. Medo de dar e receber carinho sem que haja nada mais além da intenção do carinho em si mesma. Medo de ser felizes...

Mas uma vez me vem o velho PA e a expressão que já repeti tanto sem nunca ser fiel a original que meio que se tornou minha:

“É triste ver mãos estendidas sem nada ter pra dar...
Ter mãos cheias sem ninguém para receber é desesperador...”

Acho que é essa a parte que me cabe nesse desespero...

Descobri em mim uma estranha forma de carência... uma carência inversa que implica excesso e falta...

Ainda valeria salientar que há sim quem receba carinho, e o receba em sua totalidade, na completa excelência de como que apraz oferecer, mas são poucos... e há quem receba com superficialidade e não supra minha carência...

Usando de uma figura bem amorosa para esclarecer, seria como uma mãe de seios repletos de leite; o filhinho não consegue sorver tudo e, no excesso, os seios tornam-se túrgidos, e isso causa dor. Dor do excesso semelhante à dor da falta...

Não sei o que dizer ao fim... As carências fazem-nos perder...
Acho que, por esse instante, afoguei-me na minha...

Por não saber como terminar, concluirei com uma canção intitulada “Onde não estou” e dedicada a Jenfona Tanajara:

Por que me pedes para não chorar?
De que outra forma exporia minh’alma?
A lágrima que me corta a face
É um rio que me conduz pra fora de onde nem sempre sei sair

Estou aprendendo a receber carícias
Porque dispenso a que me toca a pele
Prefiro a que me toca a alma
Ou ao menos o tênue limite que separa derme e essência

E quando me quiser achar
Procure-me onde não estou
Nas palavras que não digo
Nas carícias que não nego
Nos sonhos que não ouso revelar
Na cruz que une santos e loucos
Como o Verbo e eu
O silêncio e eu
Tudo... Nada... Eu

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Das pobrezas da desconfiança e da posse


É fato que aboliram a palmatória, mas aprender, em se tratando da vida, em algumas ocasiões, ainda dói...

Acredite você que eu tinha um amigo, desses célebres, por quem nutria um grande bem... Já havia aprendido antes que toda boa relação precisa de alguma construção, precisa de contato, de ideais partilhados, e não se sustenta só com sentimentos, por isso me lancei com esse amigo numa empreitada que além de assinalar nossa unidade ainda ajudaria outras pessoas...

Mas as coisas nunca são como queremos que sejam, e todo processo é sinuoso e nunca linear; para dar cabo ao projeto precisávamos de terceiros, e pouco do planejado restou, e da unidade quase nada, e da amizade ainda menos...

Foram muitas as dores: as de depender e ver mudados os planos no tocante aos terceiros, os empecilhos técnicos, os atrasos cronológicos... mas nenhuma como descobrir não ter o que acreditava ter tido...

Mas nem tudo foi de perdas! Nunca nada é só de perdas! Tive ganhos; bem mais do que imaginava ganhar... Queria estreitar o laço com um amigo que achei ter e acabei fazendo amigos que não esperava...

Vi degenerar a relação que acreditava humana e pessoal com meu amigo numa relação comercial; e as relações de natureza comercial converterem-se em relações humanas de diálogo, acertos e compreensão além de prazos, mercadorias e pagamentos.

Conheci aí um tipo muito estranho de pobreza... Pobreza, não a de não ter bens monetários como aprendemos, mas outra pobreza: a da desconfiança; a de não poder confiar...

Do meu então amigo – desconfiança! E não tenho medo de errar ao dizer “desconfiança” porque ela existiu de fato, porque se não foi da parte dele, foi da minha ao desconfiar que ele desconfiava. Assinalamos assim uma relação carente em si mesma, pobre em si mesma, baseada em sentimentalismos idealizados que não se sustentaram à primeira prova...

Estamos aqui tratando de processos comerciais e sua estreita relação com a falta de confiança, e na falta de confiança um tipo estranho de pobreza, certo?

Mas um outro aprendizado ainda se uniu a esse: o de quem faz das suas relações pessoas um processo semelhante ao comercial gerando um outro tipo de pobreza – a posse.

Faço parte de um grupo de amigos com quem partilho o prazer de ver amigos amigos dos meus amigos... kkkkkkkkkk... Complicou? Deixa eu tentar novamente: ao termos um amigo novo, nosso prazer é apresentar esse amigo aos outros amigos para que sejam também amigos; assim nossa rede só cresce e podemos nos divertir e aprender da vida e das coisas todos juntos num amor nunca dividido, mas partilhado, e assim multiplicado.

Nesse processo um amigo nos apresentou a um segundo, esse sofredor da pobreza da posse e, quando juntos, esse amigo novo quebra a corrente mergulhado nos ciúmes gerados pela idéia de posse. E aqui digamos – BURRA POSSE! – posto que, se entrarmos no mérito dessa bolsa de valores afetivos, o amigo já nos era caro desde muito antes, e somos assim acionistas majoritários... kkkkkkkkkk... Sem contar na energia perdida ao rebater farpas quando a poderíamos empenhar em abraçar ou sorrir...

Todas essas questões só vem nos lembrar do quanto somos humanos e, o sendo, suscetíveis a tudo quanto humano; digo suscetíveis por termos em nós todas as pobrezas humanas (e também as aqui salientadas) em menor ou maior grau, e também porque as sofremos ao entrar em contato com as pessoas que com elas se mostram à nossa frente.

Acho que seria bastante então relembrar algo que aprendi com o amigo primeiro, aprendizado esse de essencial importância em toda e qualquer relação humana, e imprescindível quando nos perdemos em nossas insanas expectativas ao darmo-nos conta de que as pessoas não são como queremos que elas sejam:

Quando Jesus nos exortou dizendo “amai uns aos outros” não usou o substantivo abstrato relativo a sentimentos – AMOR, mas um verbo no imperativo – AMAI (de amar). Fazendo uso das aulas de português que parecem não ensinar nada de fato, recordamos que a diferença entre o verbo e o substantivo está na ação que o verbo encerra, diferente da função de nomear que tem o substantivo. Assim, Jesus não nos exortou a ter uns para com os outros sentimentos de amor porque, conhecedor da alma humana, não nos pediria fazer algo inumano como ter sentimentos de amor (substantivo) por todos quando sabia que também podemos odiar; quis o mestre nos exortar a agir segundo o amor – amar (verbo) – gerando assim uma relação movida por respeito e valorização da pessoa do outro...

Acho que compliquei mais que expliquei, desculpe! Estou assim mesmo meio complicado nesse tempo... Mas prometo uma postagem mais esclarecedora sobre a gramática do amor logo que possível!

Aos meus “amigos”, o da desconfiança e o da posse, a minha gratidão pelo que aprendido antes e também aqui, quando algumas coisas parecem perder a razão de ser! Quem sabe um dia nos encontramos aí mais na frente, movidos por outras aprendizagens e poderemos escrever páginas mais alegres que essa...