sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Chuva, café e "bolo de caco"

Ontem foi um dia daqueles - único!!!
Não que todos os dias não sejam únicos... Mas é que alguns são especialmente únicos! Tem meio que o poder de expandir nossos sentidos sensibilizando-os de uma forma que nada é capaz de passar desapercebido: o friozinho sutil que entra pela janela - parece até que é visível e podemos tocá-lo; as gotas de chuva lá fora - em cãmera lenta como se pudessemos contá-los; e o cheiro maravilhoso que vem da cozinha misturando o aroma insubstituível de café fresquinho e "bolos de caco" - aromas que juntos causam um deleite aos sentidos e uma explosão na memória trazendo as mais doces lembranças e rostos...


Assim foi minha quinta! Uma quinta (in)comum!!! "In" no sentido de dentro, inscrito, sacralizado, no que é totalmente comum e perfeito!!! E"in"no sentido de diferente, fora do comum por sua especificidade.


Estou comigo há já alguns dias como desejei... E é essa uma experiência, é como olhar-se no espelho por muito tempo - pode levar alguém a loucura!!! E como, para mim, esse limite entre loucura e sanidade misturou-se totalmente, torno-me cada vez mais são na loucura e cada vez mais louco na sanidade... kkkkkkkkkkkkkkkk...


Hoje é sexta!!! E comigo uma lembrança entristecida: poderia ter aproveitado melhor minha quinta... poderia ter selecionado melhor as ocupações para melhor poder usufruir daquele presente... poderia ter agradecido mais... poderia ter saido mais da superficialidade e, mais uma vez, mergulhado fundo!!!


Tenho me comportado como um mergulhador disposto a bater um recorde: o de profundidade sem balão de ar. Cada vez vou mais fundo vendo em mim coisas que jamais imaginaria; e é cada vez mais exigente esse mergulho... Fui algumas vezes tão fundo que ultrapassei o limite do ar beirando a inconsciência... É possivel mesmo que, em mais um desses mergulhos, eu não consiga mais voltar... Mas terei conhecido do que sou muito mais do que muitos que por aqui passaram... Acho que, assim, terei batido meu recorde...


Que sacralidade há no que é comum e aparentemente sem valor!!!
Cada segundo é sagrado! Cada coisa é segrada! Cada sonho ou pensamento é sagrado! (...)
E como só é sagrado o que tocado por Deus - em tudo está Deus! Está Deus TODO em tudo!!!Busquemo-lo!!! E nos deixemos encantar em seus encantos...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NADA


Não sou bom em nada!
Nem bom poeta, nem bom cantor...
Não sei fazer nem o que acredito servir pra fazer...

Na verdade não sou bom em nada!!!
Mas talvez seja bom em ceder... Em permitir que Aquele que é bom o seja em mim...
Mas nem disso posso gabar-me: um instrumento não pode gabar-se, porque não existe em sua funcionalidade sem alguém que o opere!
Sou só um instrumento ruim e ineficaz!

Vejo coisas que as pessoas parecem não ver, escuto melodias que parecem não ouvir, toco e inalo flores e odores primaveris que ninguém parece tocar ou sentir, pelo menos não acordados... Mas não posso tomar parte em nada disso...

Podem os óculos tomar para si o que os olhos vêem?
Um violão oco e vazio querer ser dono da música que entra nele, se amplia e sai?
Ou uma enxada querer ter mérito num jardim florido por revirar a terra elementar?
Sou um grande nada, confundido entre a grandeza do que me toca os sentidos e a mediocridade da razão...

Não sou nada... E, estranhamente, hoje, esse nada ser não constrange meu ego. Ao contrário, lhe dá prazer, nem imenso nem pequeno, mas tênue e constante capaz o suficiente de tocar todos os recônditos do que sou, do nada que sou, do tudo que pareço ser quando nada sou, do nada onde pareço estar quando tudo sou... do silêncio que agora se apresenta como melhor forma de explicar o que sentido e não conseguido dizer nessas palavras...

...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Good Bye Fábio Cobra

Eu, de minha parte, não acho que seja prudente cobra ganhar asas... Mas se o Senhor supremo decidiu assim, que poderei eu dizer? kkkkkkkkkkkk... O Cobra voou!!!

Voou em direção ao que acredita de felicidade e, se for de fato feliz, acho que serei também um pouco feliz e realizado na parte minha que ele leva.

Não me incomodo muito com partidas... Acho até muito bacana o exercício de deixar partir, não o que não nos interessa e se faz fácil deixar ir, mas justamente o que nos é muito caro - EMANCIPAR É UM DOS MAIS SUBLIMES EXERCÍCIOS AFETIVOS!!! E no mais, acredito na canção que diz: "perto estás se dentro estás..."; Assim, distâncias são bobagens quando sabemos nos encontrar dentro...


Certa vez, quando eu era um adolescente de uns 17 anos (não um de 28 como agora, kkkkk...), escrevi uns versinhos em ocasião de partida de um amigo... esses versinhos juvenis foram ganhando sentido ao longo da minha vida desde então e hoje, em ocasião de partida tão especial, decidi partilha-los com vocês:


ENTRE A CHEGADA E A PARTIDA


A vida é uma longa travessia
onde estamos de uma forma ou de outra chegando
de um jeito ou de outro partindo
mas encontrando
sempre encontrando

Quantas não foram as pessoas
que chegaram silenciosamente em nossas vidas
sem que ao menos nos déssemos por conta
e que tiveram seu valor revelado num instante de despedida

E quantas não foram as pessoas
que chegaram alarmantes
devastadoras como um tufão
e partiram silenciosas como a doce brisa

Não importa se notadas
na chegada ou na partida
importa tão somente a existência
a existência tão somente é o que importa

E o que vale nesse breve
tão imensamente breve
que separa a chegada da partida é o encontro
a troca
Vale tão somente o amor
O amor tão somente é o que vale

E se ainda perguntasse
como no lacerar de um punhal cortante
De quem é a maior dor
se de quem fica ou de quem parte
quem responderia sem se deixar ser tragado pelas ondas
gélidas e tórridas do mar da saudade

Quem?
Se para quem parte há a dor que leva
Há a dor que fica
Se para quem permanece há a dor que fica
Há a dor que vai

Dor por dor
Vale a alegria
O gozo do breve
por mais breve que esse seja

Pois do tempo se tem tudo e todo o menos
Tudo menos sinônimo de qualidade
pois quantos não foram os amigos verdadeiros conquistados num breve instante
e os não amigos nunca feitos
Adentro a eternidade
nunca feitos
nunca amigados

Mais valeria para nós fazer de cada encontro o último
e de cada novo encontro recomeço
Nessa perspectiva
encontros e despedidas desvanecem-se
tudo é encontro e despedida
nada é despedida e encontro


Por fim, ao Fábio Cobra, que descobriu agora ter asas, um verso do Russo que diz:
"vai com os anjos/vai em paz/era assim todo dia de tarde/ a descoberta da amizade/ Até a próxima vez!!!".



Estou voltando pra casa...

Estou voltando...
Nem devagar demais e nem correndo... Voltar para casa é sempre uma experiência tranquila...
Passei muito tempo fora, o que foi muito bom! Conheci outras casas, outras formas de arrumá-las... Volto cheio de idéias de como melhorar a minha...
Das casas por onde passei, a alguns habitantes quis amar, outros quis trazer comigo, de outros me despedi para só voltarmos a cruzar nossos umbrais daqui a muito tempo adiante... e me encantei em cada casa, em cada uma delas com meu lugar preferido e onde me sinto em paz... Achei, em alguns momentos, que voltaria acompanhado, mas não! Volto só como só parti... Volto só como se possível fosse só voltar, a sós voltar, se tanto trago do que vi e aprendi, se tantos trado dos que aprendi e com quem vivi...
Esse giro é essencial: faz arejar o coração e as idéias, me bota em contato com o mundo real além do meu tão particular que comporta a choupana onde habito...
Mas como é bom voltar!!! Esperavam - me meu silêncio e minha música, minha dança e os momentos de inércia ao sol pela manhã, meus livros ainda por ler e os momentos em que paro e leio a mim mesmo...
Como é bom estar de volta!!!
É como voltar de viagem: muita coisa pra arrumar do que se traz e do que ficou; muito trabalho pra botar a casa novamente em ordem, mas o resultado sempre agrada muito... Trago coisas novas e tenho coisas antigas para fora jogar, outras para reciclar (re-significar), de forma que, em cada volta, a casa é sempre nova, mesmo sendo a mesma...
De todo o gozo apenas uma tristeza: aquele a quem muito amo veio me visitar, mas não estava dentro pra recebê-Lo; tinha o coração emprestado a outros amores e saber não estar dentro quando Ele veio me apavora e só não me mata a saudade porque sei que sempre volta no outono para me fazer feliz e dar sentido a essa morada.
Estou de volta e só agora, depois de tanto andar, me dou conta de como adoro tudo isso aqui dentro; de como todo esse incompreendido aqui dentro faz sentido pra mim...
Que as manhãs tragam perfume de novo dia, umidade de orvalho, e me ensinem um canto novo de louvor e gratidão...

Que venham todos os fins de tarde! Os esperarei com café fresquinho... Abraçarei cada pôr-do-sol como único, porque é único de fato pelo ângulo de onde olho das minhas janelas...

E as noites? Ah! Que venham as noites que me tomam e me levam mais longe do que jamais imaginei ir... Que venham as noites a enriquecer meus sonhos do que ainda não vi... a levar-me tão longe quanto possam me levar a envergadura das asas do meu coração...
Estou de volta a casa!!!
Por muito tempo, a partir de então, me dedicarei a essa empresa: cuidar desse lugar dentro; e só voltarei a sair quanto tudo aqui estiver preparado para visitas – dAquele que sempre vem e daqueles que, por ventura, quiserem co-habitar ou descansar nesse lugar dentro onde moro...