segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quando todos dormem

Sofro uma espécie de maldição ou benção, ao certo não sei... Sei que acordo quando todos dormem...
À medida que o mundo se recolhe, minh’alma cresce e se expande, e sai... Parece mesmo que se torna maior que o mundo porque todo ele cabe nela...
Sai como se pudesse tocar os que ama e dormem, confidenciando o que não lhes pode segredar acordados...
Sai e abraça tudo num grande ósculo de fraternidade e posse... ama tudo e todos como se cada um fosse seu...
Quando é dia e todos se acordam, não é que minh’alma durma, ela se recolhe... sabe pouco do concreto, do palpável, do que tem preço e origem definida... então apenas cala... e me amordaça...
Mas quando volta a noite... Ah! Quando volta a noite e todos dormem, ela acorda, solta-se, liberta-se... Porque só sabe de sonhos, de subentendidos, de gritos ocultos no silêncio, de amores que a razão não se permite...

Ah, noite! Grande campo onde sou...

Noite dos apaixonados...
Noite onde toda doença parece piorar, seja as da alma ou as do corpo...
Noite das insônias... dos sonhos e dos pesadelos...
Noites com estrelas e sem elas...
Noite do loucos... das pessoas do submundo...
Noite escura da alma, confusa por tanta claridade vinda da origem da vida e de tudo...

Quando todos dormem, a noite canta sua canção de ninar, e parece mesmo que me leva em seus acordes tanto mais longe consiga ir... e, às vezes, me leva tão profundo e longe que luto com o sono para não ter que tão depressa voltar, dormir, e acordar num mundo de paralelismos e (ir)reais que me constrange...

Não sei mais que isso... sei que minh’alma desperta enquanto todos dormem...

domingo, 20 de setembro de 2009

In memorian - Pe. Rogério (Ruggero Ruvoletto)

Ontem recebi (recebemos todos) a trágica notícia do assassinato do padre Rogério em Manaus.

Confesso que não sei explicar bem ao certo o que senti... e esse não entendido de sentimento ainda agora me incomoda e me constrange.
Já tinhamos acompanhado o fatídico caso da missionária irmã Dorothy Stang, mas é como se todo ele tivesse sido processado apenas na minha mente, não no meu coração. Acho que entrei em contato com o ridículo do humano que é sentir diferente o que acontece na casa da gente e no quintal dos outros.

No caso da irmã Dorothy estava terminando uma vida de bem universal; no caso do Pe. Rogério, essa vida não era apenas de bem universal, mas já tinha passado pela minha fazendo parte do meu universo particular...

A questão é que, para o padre, se encontrou com o fim a que dedicou sua vida - Deus - pelas mãos de para quem dedicou sua vida - os homens. Mas nós que aqui ficamos?
Essa pergunta me constrange... E a certo ponto me amedronta, não no meu apego a vida, mas na minha relação com as pessoas e o mundo. Não sei explicar! Me faz sentir um frio interior pelo obscurantismo que tem tomado conta do coração, da alma das pessoas... Sinto pesar pelo rumo que estamos dando à nossa raça, à nossa compreensão do mundo e das coisas... Moeda que vale mais que gente... O valor absoluto da vida trocado por moeda barata...

E o que mais me entristece é a ignorância de não conseguir imaginar o que fazer; a agonia de me sentir de braços cruzados diante da decadencia humana...
Hoje sinto muita tristeza e choro, não o padre Rogério, que nesse mundo encontrou a razão da sua vida no bem, na doação, na esperança diante da vida, dos homens e nos homens; Choro seus assassinos e sua desumanidade, sua desumanização revelada num ato tão vil. Choro o empobrecimento humano de valores... Choro minha inércia... choro o abandono dos valores cristãos... choro a falta de fé...

Para o padre Rogério às palavras da canção LOVE IN THE AFTERNOON de Renato Russo:
"É tão estranho... os bons morrem jovens... assim parece ser quando me lembro de você, que acabou indo embora cedo demais... vai com os anjos... vai em paz... até a próxima vez..."

Para nós, do mesmo Russo, na canção PERFEIÇÃO:
"Vamos celebrar a estupides humana/A estupidez de todas as nações/O meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões...
(...) Vamos celebrar a fome /Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar/Vamos alimentar o que é maldade/Vamos machucar o coração..."
Mais informações acesse:

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quando desacreditar é preciso...


Estou extremamente aborrecido comigo mesmo... Que droga!
Conheci um jovem num evento junto a outros amigos. Um convívio de fato muito agradável! E vi nisso a possibilidade de uma boa amizade...

Nada mais justificável! Entre nós, amigos já unidos, existe um grande prazer em agregar amigos individuais ao grupo, para rirmos e aproveitarmos a vida na coletividade.

Mas tenho tido o desprazer de ver agregadas a esse grupo pessoas inseguras, ariscas e desconfiadas... e esse é um aprendizado que me fere. Tenho tentando aprender, mas me custa. Não sou afeito a relações vazias, rasas, de pura diplomacia... detesto flores de plástico! Prefiro mesmo as naturais com toda a sua fragilidade.

Alan já tinha me alertado para essa questão de que temos mesmo que aprender a não nos sentirmos amigos das pessoas quando as conhecemos, que esse é um jeito muito particular de se relacionar e que as pessoas não comungam dele... mas não escutei...

E assim agi, com o referido jovem que relatei no inicio, como amigo: fone, Orkut... uns diziam que tinha o “olho junto” e outros que tinha “alma de anjo”; e, no meu gosto por pessoas, acreditei, e quis mesmo conhecer seus valores... mas bastou um papo no MSN para eu perceber que essa coisa de amizade só estava na minha cabeça, e dei com os burros n’água...

E fiquei triplamente aborrecido. Primeiro, por ver mudadas as nossas intenções. Tento ser o mais claro possível na minha relação com as pessoas justamente para não dar a outros o direito de inferir sobre as minhas intenções. Depois... odeio quando acredito burramente nas pessoas quase tanto quanto odeio ter que desacreditar delas.

Detesto ter que desacreditar nas pessoas, mas tenho que me acostumar ao aprendizado de que desacreditar às vezes, embora doa, é necessário. Mas continuo me negando a encontrar as pessoas cheio de reservas como se tivesse um rabo enorme para proteger de alguém puxar...

Ao colega agradeço a pedrada necessária; li a lição, e farei o possível para aprender...
Aos demais, acho que já disse isso antes, mas vou repetir:
Se não for pra vir inteiros e intensos, se for para trazer apenas avareza sentimental para partilhar, é melhor mesmo que não venham!

Li outro dia de Gibran que: “Quando alguém lhe oferece serpentes quando pede peixes, talvez não tenha se não serpentes pra dar. É então uma generosidade de sua parte.”


Gostaria mesmo que as pessoas não escondessem seus peixes oferecendo serpentes e deixando-os apodrecer .