quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um forte ou um fraco?


Acho que me decepcionei com um amigo...

Toda decepção parte da linha das expectativas; por mais que exercitemos o contrário, elimina-las se faz uma tarefa inumana: em menor ou maior grau sempre fazemos uso delas junto das nossas projeções... E quando não correspondem a elas – tristeza, mágoa, decepção...

E num gesto não entendido, numa palavra mal interpretada, num olhar furtivo, se estabelece o mal estar... pequeno gesto suficiente em si mesmo para apagar tudo quanto de bom tenha se feito e existido até então...

Feridos, nos revestimos de uma total “melindrice” e nos entregamos a esse estado emocional sem a menor reflexão e, entregues a uma emoção desordenada, as tristezas e mágoas só crescem... crescem... crescem... e vão matando tudo!!!

As projeções e expectativas são o tênue limite que separam o amor do ódio...

Mas o que é o ódio? Eita, se enveredarmos para responder isso nos perderemos! Melhor usar um pensamento de Gibran que diz, mais ou menos, assim: “Uso o ódio como uma arma para me defender. Se eu fosse forte não precisaria usar essa arma.” Pegou pesado!!!

Voltamos aqui a tratar da velha questão dos nossos egos tão bem elaborados: mágoas e decepções são somente respostas de um ego ferido: me magoou, me feriu, me desrespeitou, precisa ser afastado!!! Não é assim que fazemos? Se não consciente mas inconscientemente sei que é!!!

Mas como usar esse mesmo ego em favor de nós?

Retomando o falar de Gibran, se o ódio (mágoa, rancor, decepção) é resposta de defesa dos fracos, eu, que me acho tão tão, vou querer figurar entre os fracos ou entre os fortes?
Fraco ou forte? O que você escolhe ser?
Talvez você não tenham um ego tão ridículo quanto o meu, mas quero figurar entre os fortes... Mas como proceder?

Deixar de criar expectativas não posso, nem tão pouco deixar de me entristecer, nem eliminar as variáveis que me possam fazer sofrer porque isso é da arte imprevisível dos relacionamentos humanos... o que fazer então? Como proceder?

A única alternativa é ir ao encontro do Mestre... Só Ele tem respostas de vida eterna! O que Ele nos tem a dizer sobre isso?
“Se alguém te fere numa face oferece a outra”
Você já teve a sensação ou pensou: “pra que eu fui perguntar?” Kkkkkkkk... Pois é! Pensei nisso eu!!!
Entrou em cena o ego ridículo novamente: “Eu? Oferecer a outra face? Nem pensar? É mais fácil eu dar uma bem no meio do “bebedor de lavagem” pra aprender e nunca mais repetir!!! Mais é nada?!”. É assim que responde o meu às palavras do Mestre...

Mas de quanta misericórdia se reveste o mestre que veio para nós “fracos e doentes”; vendo o que se passa em meu coração, generoso, manda seu Santo Espírito para instruir-me em minha ignorância e animalidade...

A face oferecida é uma imagem simbólica... Se alguém te fere, se não corresponde às tuas expectativas e assim te entristece, se te feriu, ao invés de te recolheres em tuas defesas de tristeza e mágoa, toma por base o que de bom existiu e persevera, permanece, aposta no bem... é um salto no escuro porque, em se tratando de pessoas, a abertura de uma nova ferida, de nova dor, novo desentendimento se faz passível de acontecer, por isso a imagem da face oferecida... Permanecer, acreditar, apostar novamente é ou não oferecer a face a um possível outro golpe?

Coisa difícil essa de ser gente e das relações humanas, viu?! Acho que, por isso, nos seus mandamentos, Deus destina a si mesmo um só deles, e no resto tenta nos ensinar a arte do respeito, do amor, da convivência – tenta-nos dizer de como ornar, amar e respeitar o templo verdadeiro onde O agrada ser adorado: nas pessoas a nossa volta; nas que nos sentimos impelidos a amar e nas que desejamos odiar também...

Não é sempre fácil acertar... Mas me cobro uma postura diante de tudo quanto pensado até aqui: escolho ser fraco ou forte? Oferecer a outra face ou responder com bofetada?

Não é um passe de mágicas!!! É um exercício!!! Ta doendo aqui, é verdade!!! Mas posso escolher que sentimentos quero carregar comigo... posso escolher se fico fixado no fato que me traz tristeza, reprisando e (re)ssentindo o que dói ou, mesmo contra a minha emoção triste fazer uso da memória e fixar-me no que foi bom tirando da mágoa parte de sua razão de existir... Isso sim, posso fazer!!!

E não quero dizer ser justo também o extremo de nos faltarmos com o respeito nos expondo a relações onde um outro golpe na face é certo e não possível – conviver é uma arte que implica também em saber se esquivar, evitar... para assim ser possível, de fato, amar...

Fraco ou forte? Kkkkkkkkkkk...
Em instante nenhum a suprema fonte do amor disse que amar seria fácil!!! Nem difícil eu também diria... Talvez desafiador!!! Isso!!! Desafiador!!! E como adoro desafios, principalmente o de ser feliz, preciso ser forte para alcançá-lo!!! E se ser forte implica, apesar da dor, oferecer a outra face, acreditar mais uma vez, e até deixar ir o que permanecer já não se faz possível:

EIS-ME UM FORTE EM MINHA FRAQUEZA!!!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Os amores que a gente inventa

Você já inventou um amor?
Pois é!!! Dei-me conta que inventei todos os meus...

Se eu menti pra mim mesmo? Sim e não!!! Kkkkkkkkkk...

Essa coisa de pensar nas razões do amor me fazem lembrar uma música do Pe. Airton que diz:

“Por que amar”? Amar por quê?
(...) para não se perder a alegria de viver...
(...) para preencher os dias de sentido...
(...) para não enlouquecer...
(...) para se lembrar e também esquecer...

Acho que é por isso tudo aí e muito mais que inventamos nossos amores...

Mas que história de inventar é essa? Coisa da arte da mentira?
Não!!! Coisa da arte humana, da arte de ser gente, da arte das carências...

Quando encontramos alguém, num primeiro momento, caindo esse alguém “no nosso gosto”, o pintamos com as cores do que nos agrada, adornamos com as virtudes que nos são preciosas, ou antes com o que nos falta à idéia de completude.

Na maioria das vezes, se o afeto se transforma em relação, com o tempo, o ser amado vai se transformando do ideal(izado) para o real, e às vezes não tem nada do que imaginado dele... mas aí já estamos envolvidos e amamos mesmo assim...

Talvez esse seja um mecanismo do amor: cria as condições para se estabelecer e, estabelecido, garantir que vai durar, mesmo na adversidade...

Sei que, nessa perspectiva, amores são sempre inventados, mas nem percebemos porque chegam a ser concretos... mas os amores inventados que não chegam a ser concretos? Os que permanecem inventados?
Já teve desses?
Kkkkkkkkkkkkkkkk... Pois é!!!

Eu já tive! E os danados duram um bocado (pelo menos pra mim), porque não passam pela sabatina do real, permanecem sempre no lúdico... ficam encantando a gente... afetando a gente... e às vezes até perdem sua força, mas gostamos de guardar eles ali: para lembrar quando sós; em dias de chuva; quando toca aquela tal música... kkkkkkkkkkkkkkkkk...

De forma muito particular (conversava essa semana com um amigo sobre isso), esse tipo de amor inventado, em mim, gera um outro problema – a doença do “como teria sido?”. Vai me dizer que nunca sofreu disso!!! Kkkkkkkkkkk... vai me dizer que nunca cantou com sofreguidão: “Só uma coisa me entristece... o beijo de amor que não roubei... a jura secreta que não fiz... e o brilho no olhar que não sofri...”?

Esse tipo de amor tem suas formas de se manter posto que nada além do desejo primeiro o alimenta, mas nada, além do tempo, também vem contra ele...

E não estou aqui alardeando ou fazendo propaganda de amores inventados!!! Nunca!!!

Amor, pra ser amor, tem que passar pelo ridículo de dois mundos tentando se encontrarem, se adaptarem, se afinizarem... passar pelo ridículo dos tais “dois bicudos” que, ao contrário do que diz o ditado, se beijam sim, com um pouco de criatividade, maleabilidade mútua e muito amor.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

Acho que hoje, e talvez só por hoje, eu concorde com o poeta: adoro um amor inventado!!!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Morte da subjetividade = Morte da fé

Estou perplexo!!!
Pra não dizer preocupado e aborrecido!!!
Todos os dias me sinto convidado a chorar o falecimento da subjetividade humana... da capacidade sublime e divina de transcender...

Sem a subjetividade temos nos tornado cada vez mais “animalizados”... concentramos todas as nossas forças no suprimento de necessidades básicas de comida, auto-afirmação vazia e prazer...
Imaginar onde isso pode nos levar me assusta!!!

A realidade concreta, embora de seu encanto, é muito resumida e “minimizante”...

Esse excesso de realidade concreta minimiza as realidades subjetivas e reduz á mediocridade a existência humana, por excelência, sublime. E como se já não nos bastasse o empobrecimento das almas, ainda temos que vê-las morrer, ainda tão vivas:
Sem subjetividade não há fé!!!

Como explicar a fé por meios concretos? Como amar e acreditar no que não se vê num meio onde só o que se vê é real? Como acreditar numa vida além e eterna se não conseguimos transcender sequer o que nos toca os sentidos na nossa loucura por “pão e circo”? Convertemo-nos numa legião de Tomés precisando ver para acreditar...

Felizes aqueles que crêem sem ter visto! (São João 20,29)

Palavras soltas? Precisam de fatos concretos também? Então vamos lá!!!

Outro dia, numa conversa informal, um jovem de 27 anos, com passagem por atividades pastorais em tempos anteriores, educado sob ideais cristãos, disse:

Essa história de virgindade de Maria, de anjinho subindo, descendo e dando recado... tenho minha versão pra isso: como nos dias de hoje, Maria ficou grávida de um namoradinho e, para não ser apedrejada, como todo mundo já esperava o messias, disse que viu um anjo... imagina quantas meninas usaram a mesma técnica? Aí José, mais velho, apaixonado, resolveu perdoar e assumir o menino e, para não ficar mal visto, inventou aquela história de recado de um anjo também!!!

Assustados? Não fiquem!!! Não mesmo!!! Escutaremos relatos muitos como esse!!! Por quê?
Simples: Morte da subjetividade!!! E conseqüente morte da fé!!!

Escravos da realidade objetiva, pauta-se tudo pelo viés da cotidianidade... nela meninas ficam grávidas porque saem com seus “namoradinhos”, pessoas mentem para camuflar seus reais interesses... nada de anjos... nada de Deus... nada de nada... ausência de Deus = INFERNO!!!

Escravos da “realidade”, do concreto, do palpável, julgamos tudo pelo viés do cotidiano, e não só, pelo viés da ótica da própria experiência... parece que temos que nos defender a todo tempo, vemos em tudo ameaças, e, quando não, vivemos a procurar culpados para os nossos próprios defeitos na intenção burra de não sermos “ruins” sozinhos, apontado defeitos em tudo e nos outros para tirar os olhares dos nossos próprios... Quanta energia empregada em vão!!! Quanta burrice a nossa!!!

Se ainda tem jeito? Claro que tem!!!
Todo mundo fala em reverter os efeitos do aquecimento global, mas perigo maior é a perda da subjetividade!!! Hedonistas, egoístas, quem vai pensar no outro e na natureza? E se a recuperamos, que humanidade vai dela usufruir? Nisso temos que também pensar!!!

O resgate da nossa subjetividade perdida é um apelo urgente, URGENTÍSSIMO!!!
Só reeducando nosso coração e nosso olhar para a beleza, para o sublime, para o eterno, transcenderemos esse limite minimizante do real, do animal, e voltaremos a amar de fato e, consequentemente, a ver Deus, não como uma loja de souvenir onde vamos buscar milagres, mas como o Deus altíssimo, soberano e misericordioso, tal qual Ele é!
Amém

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um jardim de escolhas


Ontem, domingo de páscoa, ouvi, numa pregação, repetida uma imagem que me chamou muito a atenção: “um jardim”.

O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. (Gênesis 2,15)

No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. (São João 19,41)

Jardim, pra mim, lembra sempre possibilidades... não existe jardim de uma flor só!!! Ou até existe, posto que tratamos aqui de liberdade, de possibilidades... Mas o que mais me encanta mesmo num jardim é a diversidade para escolhas entre as mais diversas flores, árvores, arbustos, frutos...

E não com menos propriedade os escritores sagrados apossaram-se dessa imagem simbólica tão linda e tão rica de significado:

Ainda no livro das origens, lemos que Deus colocou o homem (homem e mulher) num jardim onde havia frutos de Bem e Mal e exortou-os a não buscar frutos maus porque isso os podia afastar da sua presença amorosa e paterna que os visitava ao entardecer... Que, pelo contrário, buscassem frutos que pudessem promover esse encontro e fazê-lo. Diz-se desse jardim ser o paraíso porque a presença de Deus é o paraíso.

Mas por que Deus, ao criar-nos, deixou nesse jardim o mal? Por que nos expôs ao perigo?

A resposta é simples: Deus, ao fazer-nos homens, não nos fez para sermos escravos de sua vontade. Não! Sendo a Trindade anterior a tudo o que entendemos de existência, sendo Deus amor, desejou existirem seres com igual capacidade de amar, criados à sua semelhança, com a mesma capacidade de abstrair e amar. Mas não se ama na imposição, na obrigatoriedade; condição para o amor é liberdade.

Nessa perspectiva, Deus dotou-nos do incrível dom do arbítrio, condição indelével para que haja amor, e colocou-nos num “jardim”, entendido aqui como diversidade de possibilidades, para que pudéssemos, deliberadamente, conscientemente e livremente, escolher os frutos que nos levassem a amá-lo (ou o contrário).

Mas escolhemos o contrário!!! Vivemos escolhendo o contrário... E essa opção livre pelos frutos maus nos afastou de Deus, fez-nos esconder-nos da sua face e viver sob julgo e força do nosso próprio esforço e consciência tão limitados. E perdemos assim o paraíso, entendido como gozo da presença de Deus. E para sublimar nossa falta, nossa saudade de Deus, arrogantes e auto-suficientes, buscamos e criamos outros deuses entre as coisas criadas – esquecemos a origem de todo amor e todo bem...

Tudo acabado então?
Nunca!!! Nunca em se tratando de Deus!!! Ele não desiste dos seus!!! E se tem uma expressão que bem o designa nesse momento seria: “Amor que não se cansa de amar”.

Se nos perdemos nas nossas escolhas, se demos as costas, se escondemos nossa face e partimos a deriva, precisávamos aprender novamente a escolher, a optar pelo amor perene de Deus, precisávamos de um caminho e a Misericórdia Suprema nos deu caminho, verdade e vida em seu filho Jesus. Deu-nos de si, deu-nos o melhor de si, parte de si, amor do seu amor, para resgatar-nos e reconciliar-nos... e mais uma vez escolhemos os contrários...

Jesus veio ensinar-nos dos frutos da justiça, da paz, do amor, veio ensinar-nos dos frutos que levam a Deus e a felicidade eterna, mas todo aquele bem parecia tão nocivo ao mal a que já estávamos acostumados que precisava ser calado a todo custo.

E mais uma vez o amor mostrou do que é capaz... e para não ser incoerente consigo mesmo, e nunca o seria; para mais uma vez nos ensinar a escolher, mostrou ao seu filho o que estava no coração dos homens e o pediu escolher... O amor exige fazer escolhas!!! Mostrou a Jesus sua vontade, que passava pela cruz, e pediu-lhe escolher... Amor, pra ser amor, tem que passar por uma união de vontades; e assim não se perde nunca de sua integridade porque sempre se justifica, posto que, ao escolher livremente a vontade do ser amado, essa passa a ser também minha vontade, e nela sou todo novamente, inteiro...

E assim, de posso de sua total liberdade e escolha entendida e deliberada, “Jesus, sabendo que o pai tinha colocado tudo em suas mãos, e que de Deus tinha saído e para Deus voltava...” (São João 13,3), derramou seu sangue pela nossa redenção.

E, “No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado.” (São João 19,41)

Voltamos aqui ao jardim...
Deus trouxe-nos novamente o Éden e plantou, no meio desse jardim de escolhas, não mais a árvore da vida, mas a própria vida, sua vida.

Ao ressuscitar seu filho, estabeleceu para sempre conosco uma aliança de presença perene e eterna devolvendo-nos o “paraíso”...

O sangue redentor de Cristo, uma vez derramado, foi derramado por todos, em todos os tempos: anteriores, contemporâneos e vindouros; a todas as gerações humanas. Sua ressurreição é certeza de salvação para todos: “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim.” (São João 12,32)
Assim voltamos ao começo... Jesus restaurou a criação, devolveu-nos o penhor eterno, ensinou-nos do coração misericordioso e amoroso do Pai, ensinou-nos a chamar Deus de Pai... Devolveu-nos o paraíso sendo presença constante em nosso meio através do seu Santo Espírito...

E se voltamos a nossa amorosa origem, nos encontramos novamente com a liberdade que é condição indelével para o amor e, nesse jardim de possibilidades, sendo a nós já garantida a vida, podemos escolhê-la ou não!!!

A decisão é minha!!! A decisão é sua!!!

Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia. (São João 6,44)

Assim como as abelhas são atraídas pelo odor das flores que suprem suas existências com o néctar, semelhantemente, sendo o Pai quem nos atrai ao Filho, à Vida, que o Espírito Santo não cesse de atrair-nos, a nós e a todos os povos, hoje e sempre, para usufruirmos da vida abundante e a escolhermos em Jesus Cristo, vivo em nosso meio.

Amém

sexta-feira, 10 de abril de 2009

LAVA PÉS


“Se eu não lavar os teus pés não terás parte comigo...” Jo 13, 8

Essa frase me doeu nessa quinta santa, sabe?

E o mais maravilhoso é pensar que já a li ou ouvi tantas vezes proclamada, mas como ela se fez nova!!! Como é novo e atualíssimo o Evangelho do Nosso Senhor!!!

A questão é que essa frase me doeu...

Doeu porque eu nunca havia atentado de fato pra ela... E acabamos fazendo isso muito, não é? Ouvindo sem ouvir...

Em todas as vezes que tive contato com esse evangelho me encantei com a imagem maravilhosa do serviço, da humildade, da simplicidade... A exortação do mestre nos impele a termos uma mesma postura: “...se eu que sou o mestre vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” (Jo 13-14). E, numa hora ou noutra, acabamos por pensar que é difícil essa postura, que é difícil curvar-se, que é vergonhoso para nossos egos tão excelentes prostrar-nos e ocupar-nos dos pés, do pouco do outro. E estamos certos, é difícl mesmo!!!

Mas essa palavra me doeu, mas não foi por isso; é que, de repente, dei-me conta que não é só esse o grande ensinamento nessa atitude de Jesus – servir – semelhantemente ele nos exorta a também deixar ser servidos: “Se eu não lavar os teus pés não terás parte comigo...”.

Mas ser servido é muito fácil!!! Podemos pensar...

E é se pensarmos rasamente!!! Mas aqui, tomando por base o “lavar os pés”, o “ocupar-se do pó”, não é tão fácil assim...
Quem serve o faz como prestação gratuita de serviço, e nisso já sente-se recompensado e livre, mas quem é servido, por outro lado, tem para com quem o serve uma dívida afetiva, e somos por demais soberbos para ter que dever algo a alguém... E mais:

Ofensa ao ego semelhante ao de curvar-se e cuidar é se deixar ser cuidado, ser amado... Admitir que o pó existe, que há sujeira, e deixar-se ser tocado nela, deixar-se tocar no simples, no “bobo”, nas essências, se faz hoje uma tarefa muito árdua e vergonhosa...

É justamente quando nos tocamos em nossas essenciais, em nosso pó, em nossas necessidades, que passamos a “ter parte” uns com os outros e, consequentemente, com Cristo...

É justamente quando temos que admitir que não somos heróis, que temos necessidades, que precisamos dos outros, que também carecemos ser amados que o ego hoje mais sofre, até mais do que quando precisamos ser quem serve...

Fazendo intertexto com Saint Exupéry, se é o tempo que gastamos uns com os outros que nos faz mutuamente especiais, se é essa a condição para “termos parte” uns com os outros:


SIRVAM-ME AMIGOS E PERMITAM-ME SERVI-LOS!!! POR FAVOR!!!
FAÇAMO-NOS ESPECIAIS POR OCUPARMO-NOS UNS DOS OUTROS, POR GANHARMOS TEMPO JUNTOS... PERMITAMO-NOS OLHAR NOS OLHOS SEM ESSAS MÁSCARAS DE PERFEIÇÃO QUE NOS IMPÕEM NOSSOS EGOS E PERMITAMO-NOS VER EM NOSSA REAL BELEZA!!!
SIRVAM-ME AMIGOS E PERMITAM-ME SERVI-LOS PARA QUE POSSAMOS APRENDER QUE O SERVIÇO MÚTUO, O DE QUEM SERVE E O DE QUEM SE DEIXA SERVIR, NÃO NOS FAZ SERVOS, MAS AMIGOS... (Jo 15,14-15)

Por essa compreensão, hoje foi essa a minha oração:

Aplacai-me, Senhor, a soberba, e ensina-me a ser servido; ensina-me a me deixar ser tocado em minhas essências e a reconhecer-me um ser que necessita, que precisa, de Ti e das pessoas, de todos, em todo lugar... e, por fim, sendo servido, ajuda-me a ser grato... servindo, a ter parte no que cuido... ensina-me a amar e a deixar-me ser amado...
Amém

MINHA SALA DE MÚSICA

Eu tenho uma sala de música!!!
Quem me deu foi meu amigo... eu disse amigo? Perdão!!! Meu super-ultra-puxa-mega-fenomenal amigo Allan Neguinho a quem, nessa postagem, carinhosamente, chamarei: PEPÉ. Rs rs rs rs rs rs...

O fato é que meu amigo Pepé me deu uma sala de música na casa dele... Mas ele ainda não tem a casa dele... kkkkkkk... Mas eu já tenho minha sala de música!!!

Por quê? Simples: Pepé é minha sala de música!!!


Juntos, ele me concede um lugar dentro onde posso cantar o que sou: afinado, desafinado com as necessidades e exigências à minha volta... emitindo os tons menores da minha tristeza, de posse da minha pequenez e mediocridade ou os tons maiores da minha excelência e alegria... até quando de acordes dissonantes, disparatados, ali tenho o meu lugar... lugar para harmonia e barulho, mas também lugar para os silêncios, para quando cantamos, no silêncio, nosso nada (tudo) existencial...

Obrigado, Pepé, pela minha sala de música!!! Quero ainda uma física como prometeu!!! Kkkkkkkk... Uma que simbolize, ou ao menos tente porque não será capaz de traduzir nunca, a sala de música tão nossa...

Alguns amigos são mesmo como música... alguns pop ou samba para momentos festivos... outros baladões românticos para partilhas sentimentais... outros soul para cantar a exuberância e liberdade da alma... outros moda sertaneja, quando cantamos nosso ridículo e nossas raízes... Mas você, Pepé, não é nenhum desses...

VOCÊ É MINHA JUKEBOX!!! KKKKKKKKKKKK... TE ADORO!!!

sábado, 4 de abril de 2009

É a beleza que evoca beleza...


Postei essa imagem no orkut, com Sofia (minha sobrinha mais nova), ao que meu coleguinha “Fábio Cobra” comentou simples e objetivamente: “Ficou bem!”

É estranho, ao conhecer o coração do meu coleguinha, saber que essas duas palavras digam mais do que querem dizer assim como essa imagem diz mais do que nela está gravado...
Ao meu irmão eu quis responder (e o faço agora por aqui):

O Amor nos deixa sempre bem, meu irmão, tu bem sabes...
É a beleza que evoca beleza...

Tem o amor meio que essa lente brilhante que nos faz olhar com olhos de beleza... que ilumina o que aparentemente escuro revelando-o em seus mais sutis detalhes...

E não é o amor somente uma lente que melhora e embeleza o visto, mas também um ímã, uma força invisível e altamente poderosa que atrai os olhares para o que toca como uma linda vitrine que mostra o que pode matar a fome de beleza e amor em nosso olhos...

Somos obra de um Deus artista extremamente detalhista que cuidou e cuida de tudo, de cada detalhe, de cada nuance, e esconde na simplicidade de sua obra regalos inimagináveis pelos olhos da “graditude”... E, mais surpreendente do que se possa Dele imaginar, esconde, esconde-se e deixa achar... Deixa mapa e recado: "ao meu reino só tem 'acesso' quem tiver olhos e coração desses pequeninos"... (Mt 19,14)

Olhos de encantamento...
Coração de encantamento...
Lembra?
A primeira vez que viu o mar... Dias de chuva... Festa de aniversário... aquela saudade apertada ao se despedir dos primos depois das férias... Casa da vó... Amanhecer no campo... primeiro beijo... contar histórias...
Esquece não!!! Por favor!!!

Só um coração assim, infante, encantador e encantado, é capaz de amar, ver e escutar a Deus, porque aprendeu a encontrá-lo onde O apraz ser encontrado... Só um coração encantado é capaz de encontrar, reconhecer, amar, adorar e CONTEMPLAR a Deus...

E na contemplação o mais sublime estágio de amor – nela já não se precisa mais procurar o que é achado; é tão presente, no coração e na mente, o Amor amado que passam a ser dele cada suspiro, cada pensamento; a Ele se encontra em tudo, e Nele, por Ele, se ama tudo...

Sinto não conseguir dizer mais nada... também as palavras, quando muitas, tornam-se poucas e ineficazes para se falar de coisas mais eloquentes quando no silêncio...

Para concluir, transcrevo uma canção que não consigo ouvir ainda sem me emocionar:

Mestre

Mestre, que devo eu fazer pra ser completamente feliz? Dize-me e o farei!!!
Só pode ser feliz quem tem o coração liberto...
Vai e vende tuas falsas seguranças!!!
E toma tua cruz e segue-me...

Mestre, que devo eu fazer pra ser completamente feliz? Dize-me e o farei!!!
Só pode ser feliz quem tem o coração liberto...
Vai e vende as tuas más paixões!!!
E toma tua cruz e segue-me...

Mestre, que devo eu fazer pra ser completamente feliz? Dize-me e o farei!!!
Só pode ser feliz quem tem o coração liberto...
Vai e vende os teus preconceitos!!!
E toma tua cruz e segue-me...

Eu não tenho nada a te oferecer... Somente minha pobreza...
Raposas têm tocas e pássaros ninhos...
Mas eu não tenho se quer onde repousar minha cabeça
Une a minha tua pobreza!!!

E enriqueçamos o mundo de amor e beleza...
Une a minha tua pobreza!!!

E devolvamos ao homem sua grandeza...
Une a minha tua pobreza!!!


Conf. (Mt 8,20 / 16,24 / 19, 16-21)

Que a dureza dos nossos dias não nos cegue os olhos para a beleza, que não nos feche o coração para o amor, que não nos seque a fonte da esperança nem da inspiração e nunca, jamais, por nada, nos impeça de dizer sim quando o AMOR chamar...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

DEIXAR PARTIR...

Esses dias dei por pensar num assunto extremamente doloroso: deixar partir...

E dele não podemos fugir porque, de uma forma ou de outra, estamos sempre tendo que deixar partir algo ou alguém... Mas qual a razão de ser tão sofrido todo ato de deixar partir, mesmo quando dor parece não se sentir?

É que vivemos nos atando, nos infundindo, nos misturando em tudo e com tudo que nosso coração toca... e também, por que não dizer nos transformando, nos fundindo? Ao se tocarem as tintas em verde e vermelho resulta o azul – nova cor, novo tom, nova matiz...

Ao se encontrarem vermelho e verde formando o azul, pode-se dizer, da parte misturada, fundida, que azul em vermelho e verde possa se desfazer? Claro que não!!!

Mas, e na hora das despedidas, na hora de “partir”, no momento em que se faz necessário dividir os bens conquistados no encontro e “partir”, ficará o vermelho com parte do azul e também o verde com parte dele...

E por que dói tanto deixar partir???

Porque na parte azul que fica com o vermelho está misturado um pouco do verde (lembra?), o que implica dizer que parte do verde teve que ser dele amputado; semelhante ao verde, que tendo o azul consigo, na partida, parte do vermelho amputou e trouxe...

Daí toda a dor de deixar partir... Não queremos perder!!! Somos extremamente apegados a nós mesmos e, na hora da partida, da partilha, desejaríamos não ter que perder nenhuma parte de nós, o que já inclui a parte misturada...

Eita (Geo vai me “passar um gato”, por tantas metáforas e pouca objetividade... kkkkkkk... Desculpe, coleguinha)...

Vou tentar, em honra do frei, ser mais objetivo e concreto!!!

Falemos então das partidas que não podemos evitar... de quando temos que deixar partir sem escolher... apenas nos acostumar...

E nenhuma partida é tão exigente quanto a definitiva, a da morte!!!
De minha parte recordei que não tive como me preparar de antemão... Ao tocar-me a morte (porque morri um pouco também) me vi diante de deixar partir três das pessoas que mais amei nesse mundo: Meu avô “Manon”, minha gatinha “mãe Julia” e o meu irmão mais velho “Leto”. Desse “deixar partir” a coisa mais exigente pra mim foi ter que amar até o fim; amar até quando não fosse mais possível amar; amar a quem, por sentidos comuns, já nem podia mais saber-se amado... Foi muito exigente amar até o fim cuidando de idas que me eram tão dolor(idas): cuidar, banhar, vestir, escolher caixão como se fossem porta jóias para algumas das jóias mais preciosas que o Dono do tesouro me deu e pediu de volta...
Nada é mais exigente que amar até o fim!!! Amar até quando não dá mais pra amar, mas precisa amor haver para que haja justificativa, razão de ser, para o que se faz... E se todos os que partem deixam algo de si levando algo de nós, de alguma forma já estou um pouco no céu e são um pouco vivos em mim os que amo...

Mas além desse deixar partir ao extremo exigente, existem outros ainda que se dão, alguns já dando sinais e outros aos quais nos negamos a ver e só nos damos conta quando a partida já foi feita e a parte faltante há muito sangra...

Dei-me conta, a partir de mim mesmo, que se processava em mim meio que uma prisão ao passado, uma fixação em tempos e pessoas que já não são, que outros são... Que fiz de algumas pessoas, num momento passado, uma imagem sobre a qual fundei amizade, afeto, mas que essa imagem não progrediu, não se atualizou. Por causa dela os ditos amigos, sendo ainda os mesmos, pareciam outros. Algo como você ver uma criança e reencontrá-la mais tarde em mocidade e dizer: “É fulano? Não pode ser... É nada!!!”... Só depois de passado o momento da estranheza é que se diz: “De fato, é ele mesmo, tem ainda os mesmos olhos...”.

Mas e eu aceitei assim, fácil? Kkkkkkkkk... mas de jeito nenhum!!! Chorei!!! Reclamei!!! E, enquanto pude, neguei-me a aceitar... Mas quem pode parar um rio correndo?

Tive que me adaptar e deixar partir o que, há muito, havia ido... Tive que, achando menos belo o agora que o ontem, fazer o exercício de busca da beleza no que restou... Tive que, ao saber ido o que partir só agora me dei conta de deixar, aceitar que algumas coisas que um dia foram muito agora são cordialidades diplomáticas – necessária adaptação - e doem ...

E ainda hoje disse a Manezinho desse PROCESSO posto que ainda estou aprendendo a atualizar algumas imagens e sofrendo, como nos jogos de palavras de pe. Airton, as “partes(idas)”.

Kkkkkkkkkkkk... Sei que ninguém lerá essa postagem até aqui porque todos reclamam de textos longos... mas ainda tenho algo por dizer aos que, perseverantes, mantêm-se seguindo essa simples linha de pensamento...

Falamos, até aqui, de partidas que não escolhemos... De partidas com as quais tivemos que a algumas aceitar, outras nos adaptar... cada uma com sua dor e seu aprendizado... Mas há ainda as partidas escolhidas; aquelas que se fazem necessárias. Essas, sendo das mais constantes, merecem nosso cuidado posto que, na maioria das vezes, botam em desacordo razão e coração.
Pois bem, por um exercício de escolha (e por toda ela um preço há de se pagar), ás vezes vemo-nos diante de laços que embora ao coração não se admita perder, deixar partir, a razão sabe da necessidade de alforriar...
Essa é, do deixar ir, das escolhas as mais confusas porque desarrumam a casa, botam em desacordo a harmonia do matrimônio entre a razão e o coração que, embora se digladiem a priori, só com o tempo, juntos, verão e concordarão da importância de algumas partidas... e ao fazer as pazes, ao tentar arrumar a casa, encontraram sempre formas mais excelentes de organização, ficando o lugar interno (na maioria das vezes) melhor e maior do que antes do desarrumado...

Imagem que nos vale como exemplo, e que muitíssimo me agrada, sendo essa a estação que hoje vivemos, é a do outono... quando, para se ganhar, é preciso algo perder... Contra seu apego e necessidade, as árvores “deixam ir suas folhas” que, ao cair, secam e fecundam o solo cumprindo sua função, e a matriz, por sua vez, florirá em outras folhas e flores...

Como para Manezinho repito o estribilho que citei ao falar do ter que deixar partir:
“Eu daria tudo pra não te perder assim... Mas o dia vem e deixo você ir...”

Deveríamos, em toda partida, olhar para o Cristo eucaristia, que se parte e deixa ir de si sempre, e em cada parte é todo e tudo, sem nunca perder de si, sem nunca diminuir, sem nunca deixar de amar...


P.S. Ah! Aos que conseguiram ler até o fim, obrigado por justificar a razão minha de escrever... que de algum aprendizado pra nós tenha sido... beijo!!!